Sua próxima versão precisa de um passo para trás

(Crédito: Shutterstock)

Chegamos ao final de mais um ano, e o que não falta na comunidade de tecnologia são relatórios e previsões. A essa altura, já consumimos rankings de linguagens, sabemos as taxas de adoção de IA e o que esperar de 2026 em termos de mercado, salários e modalidades de trabalho. É um exercício fascinante e crucial para quem atua em uma área de transformação constante como a nossa. 

No entanto, para este que é o meu último artigo do ano, gostaria de propor uma reflexão que precede a análise de qualquer hype ou tendência: qual é a sua base? 

Antes de correr para aprender algo novo na sua área, o convite é para um olhar intencional para dentro. Conhecer seus valores, suas forças e, principalmente, suas fraquezas é o alicerce que garantirá que você não será apenas mais um engolido pela próxima onda de inovação. 

A tecnologia, por mais que evolua, exige fundamentos. Na Rocketseat, trabalhamos incansavelmente com essa premissa. Não é à toa que há quase uma década somos referência no assunto. 

Usando a área que pertenço, posso falar sobre um assunto muito relevante que vai além dela: a transição de carreira que muitos desenvolvedores fazem, assim como minha própria jornada de desenvolvedora a CEO, é feita de “saltos de fé”. E mais de um terço dos profissionais já fizeram essa mudança segundo a Pesquisa Salarial de Programadores Brasileiros 2025, mas sempre apoiados em uma base de conhecimento e atitude.  

Qual seria esse “salto de fé” atualmente? Eu diria que, em um mundo onde 95,5% dos desenvolvedores já usam inteligência artificial para programar, a tentação é acreditar que é a própria IA, com a ilusão de que ela fará o trabalho pesado. 

Mas, como sempre digo, não adianta ter a calculadora se você não domina a matemática. Não adianta ter o Copilot se você não domina a lógica. Justamente por isso que o seu próximo passo talvez seja um passo para trás. O profissional que não se aprofunda nos conceitos primordiais será apenas um operador de ferramentas. A IA está se tornando tão ubíqua que o mercado “vai te engolir” se você não a dominar, mas o domínio não é o uso superficial, e sim a capacidade de direcioná-la e auditar o código. 

Olhando para os dados que balizaram o ano de 2025 e nos apontam para 2026, vemos claramente a importância de um profissional consciente de si e bem preparado. E dois pontos são relacionados a qualquer área, não somente à tecnologia.  

No Brasil, estatísticas mais recentes mostram que os afastamentos do trabalho por transtornos mentais e comportamentais mais que dobraram de 2022 para 2024. A pesquisa do Código Fonte TV apontou que 72,4% dos profissionais de desenvolvimento de software sofrem ou já sofreram com ansiedade. Isso nos mostra que a carreira em tecnologia tem seu preço emocional. É importante cuidar de si antes de qualquer evolução profissional, pois esse também é um movimento estratégico na sua carreira. 

Outra questão presente em 2025 — e que muitos não querem nem entrar na conversa, mas que continua evidenciada no próximo ano — é o modelo de trabalho. Embora o trabalho remoto continue a ser o modelo dominante (61,77%), quase 40% dos devs foram pressionados a mudar para o modelo presencial. O profissional do futuro, preparado para 2026, não só dominará a tecnologia, mas também as habilidades de comunicação e adaptação necessárias para navegar entre o remoto e o híbrido, mantendo não só a produtividade, mas seu protagonismo como um profissional adaptável e que deve ser valorizado. 

A resiliência, a capacidade de dizer “eu posso” e de buscar o próximo nível, é sobre bem-estar, em primeiro lugar. Não há inovação sustentável sem uma base mental sólida. 

Acredito muito que nosso ponto de equilíbrio é a intencionalidade no desenvolvimento. Sobre empoderar você a ser o agente de transformação de sua própria vida. 

Um passo para trás pode ser mais valioso que um passo incerto para frente. É sobre estabilidade, não sobre regressos. 

O mercado de tecnologia, assim como outros, vai continuar mudando em alta velocidade, mas a sua base — sua garra, sua curiosidade para aprender, sua resiliência e a qualidade dos seus fundamentos — é o único ativo que nenhuma IA ou mudança de ranking pode tirar de você. 

Em 2026, o melhor movimento de carreira que você pode fazer é investir em você. Portanto, comece agora e seja o protagonista da sua história.