Opinião

Criatividade em tempos de transição

Liderar frente a mudanças não é sobre esperar estabilidade, mas sobre criar caminhos enquanto tudo ainda está em movimento

Inaiara Florêncio

Fundadora e CEO da Oju e sócia da Gana 1 de outubro de 2025 - 11h25

 

O mercado de comunicação sempre celebra mudanças com entusiasmo: novos ciclos, novas lideranças, reestruturações. Mas pouco se fala do intervalo entre esses anúncios e a realidade. O que acontece nesse meio? O que se vive na jornada? Esse espaço de transição costuma ser visto como delicado, quase uma pausa criativa. Para mim, é justamente o contrário.

Deve ser por isso que eu nunca tive medo de movimentos. Sempre os encarei como um campo aberto de possibilidades, um terreno fértil para experimentar. É durante essas travessias que a criatividade encontra espaço para crescer. É quando as coisas ainda estão sendo redesenhadas que surgem as melhores oportunidades de testar, reorganizar, ousar.

A Deloitte mostrou em pesquisa de 2025 que a inovação é prioridade fundamental para que as empresas brasileiras cresçam acima da inflação. O diferencial, portanto, está em quem transforma a mudança em ação.

Apaixonada por movimento que sou, acredito que a criatividade não vem depois da ordem — ela é parte da construção da nova ordem. É a matéria-prima que ajuda a transformar não apenas estruturas, mas também a forma como marcas se conectam com cultura, criadores e comunidades. Cannes reforçou esse ponto ao reconhecer creators e impacto cultural como centrais. Lá fora isso ainda soa como novidade. Aqui no Brasil, criar em movimento sempre foi prática de sobrevivência, e também de grandeza.

Nesse processo, trago também aprendizados da lógica da Web3. Mais do que tecnologia, o que me marcou foi a filosofia: descentralizar poder, colocar comunidades no centro e entender que nada está pronto, tudo é beta permanente. Nesse terreno, a confiança se torna a nova moeda. E confiança é também o que sustenta uma liderança capaz de atravessar transformações.

Cada liderança traz sua marca e estilo. O que me move é acreditar que a criatividade precisa de perspectivas diversas e complementaridade para prosperar. Porque no final do dia, liderar em tempos de transição não é sobre esperar estabilidade, mas sobre criar caminhos enquanto tudo ainda está em movimento.

O Brasil vive um momento em que independentes se reestruturam, talentos migram, grupos internacionais avançam e marcas buscam mais eficiência. Esse é um momento de agir rápido, de se posicionar, de transformar transições em potência.

O que fica dessa jornada é simples e profundo: criatividade não é pausa, é direção. É a coragem de imaginar futuros mesmo quando o presente ainda está sendo desenhado. Criar em movimento é mais do que uma estratégia de mercado. É uma escolha de liderança. É uma forma de existir.