Todo mundo tem um pouco de Odete e de Raquel
As personagens de Vale Tudo são arquétipos de duas forças que nos habitam: a fé na honestidade e o fascínio pelo poder

(Crédito: Divulgação/Globo)
Se Vale Tudo fosse um estudo de comportamento, Raquel e Odete seriam arquétipos de duas forças que nos habitam: a fé na honestidade e o fascínio pelo poder. A mãe que acredita no esforço e a empresária que acredita no controle. A mulher que constrói com amor e a que domina com medo.
Entre essas duas pontas, existe o campo real onde a maioria de nós vive negociando princípios, lidando com frustrações, tentando equilibrar propósito e pragmatismo.
No trabalho, essa dualidade é diária. A Raquel em nós quer fazer o certo, inspirar, agir com coerência. A Odete em nós quer vencer o jogo, manter o status, não ser engolida. O problema é quando uma sufoca a outra, quando o discurso de propósito não resiste à pressão por resultado, ou quando a humanidade cede ao ego corporativo.
O remake de Vale Tudo é mais do que entretenimento: é um espelho. Mostra que a ambição sem ética continua sendo a ferida aberta da sociedade, mas também revela que a pureza absoluta é quase uma utopia. O que nos salva, talvez, seja a consciência, a coragem de admitir que somos feitos de contrastes e, ainda assim, escolher o caminho que não nos envergonha.
No fim, todo mundo tem um pouco de Odete e um pouco de Raquel. A diferença está em qual delas você deixa dirigir a próxima cena.