O que a jornada feminina nas Olimpíadas ensina sobre carreira?
Novo estudo "Se Ela Ganha, Eu Ganho", da 65|10, aponta que há muito a aprender com a trajetória das atletas para vencer em outras áreas
O que a jornada feminina nas Olimpíadas ensina sobre carreira?
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Meio & Mensagem
9 de agosto de 2024 - 16h17
Das 20 medalhas conquistadas pelo Brasil nas Olimpíadas, 12 vieram de mulheres. Das três de ouro, todas são mérito delas. O número representa a maior quantidade de pódios femininos da história do país no evento poliesportivo. Fato é que, nesta edição dos Jogos Olímpicos de Paris, as brasileiras se destacaram não apenas por suas performances nas arenas esportivas, mas pela resiliência, comprometimento e determinação que demonstraram ao longo de suas jornadas.
Segundo mapeamento “Se Ela Ganha, Eu Ganho”, lançado esta semana pela consultoria 65|10, há muito a aprender com a trajetória feminina nas Olimpíadas para vencer em outras áreas. Um dos aprendizados é que não basta a garra e a resiliência da superação individual: o trabalho constante e consistente em equipe e os fatores ambientais externos são fundamentais para alcançar maior igualdade de gênero no esporte e, como consequência, para a conquista de mais medalhas.
De acordo com o estudo, o apoio estatal com bolsas e incentivos; o suporte institucional, com metas, cotas e grupos de trabalho; além de mais espaço na mídia e patrocinadores são alguns elementos necessários para chegarmos lá. Esses pontos podem até ser obtidos por meio da pressão das atletas, mas o interesse e o investimento das outras partes do ecossistema do esporte também precisam acontecer.
Há dez anos, a 65|10 estuda a participação de mulheres nos esportes e traz a perspectiva feminina para pesquisa e processos criativos da indústria. Fundada por Thais Fabris, escritora, artista e diretora de criação com passagem por agências como Flag e Fischer, a empresa tem como um dos projetos de sucesso para marcas no território de esportes o case “Meninas Fortes”, de Nescau, que ganhou o primeiro Glass Lions brasileiro, em 2017.
“Há uma década, nada apontava para o resultado que as atletas conseguiram. O cenário era de desincentivo, desinteresse e falta de recursos. Mais recentemente, vimos uma vitória aqui, outra ali, um aumento da prática esportiva das mulheres pós-pandemia, que puxa uma nova audiência e traz visibilidade e mais patrocínios. Essas Olimpíadas consolidam décadas, séculos, de muita luta coletiva. Sabemos que ainda há diversos obstáculos a superar, mas eu sinto que cada atleta feminina que sobe no pódio eleva todas as mulheres junto com ela”, diz.
Confira nossa conversa com Thais sobre as lições das conquistas femininas nas Olimpíadas para a carreira e o mercado.
Nós mapeamos fatores que levaram a mais igualdade nos esportes e que podem ser replicados em outros setores, inclusive na comunicação. O interessante é notar que não são baseados em superação individual, e que as atletas provavelmente chegaram lá porque exercitam diariamente o trabalho em equipe.
Como primeiro ponto, temos a pressão sobre entidades de classe para a criação de sistemas de metas e cotas, algo que já é feito, por exemplo, pelo Observatório da Diversidade na Propaganda. Também é fundamental o apoio dos governos, com políticas públicas, como foi o caso da Bolsa Atleta. Soma-se a isso um sistema de sponsorship, que nos casos das atletas são os patrocinadores, e no nosso caso pode se traduzir pelo endosso de figuras relevantes no mercado ao trabalho feito pelas mulheres.
Ter visibilidade para o nosso trabalho é fundamental, e o Women To Watch é um exemplo. Mas eu acredito que a chave disso tudo é a união entre mulheres para pressionar por mudanças, e temos iniciativas no mercado como More Grls e Indique uma Preta. Ao mapear o que levou as atletas a conseguirem mais espaço, ficam nítidas para mim as iniciativas que precisamos fortalecer para ter resultados semelhantes.
Na comunicação e marketing, nós vivemos um cenário semelhante ao das atletas: temos menor participação, ganhamos menos, não chegamos com tanta frequência aos cargos de liderança, temos menos visibilidade. Ver que elas conseguiram virar o jogo, ao menos em parte, e ganhar espaços enquanto as mulheres perdiam em várias outras áreas pode nos mostrar que é possível, e inspirar a seguir os passos delas.
O Brasil está na 71ª colocação do ranking de igualdade de gênero do Banco Mundial, que conta com 190 nações e perde para diversos outros países da América Latina. Falta muito para chegarmos lá, principalmente uma legislação que dê às mulheres direitos iguais aos dos homens, além de uma sociedade que se organize para que tenhamos mais espaço na vida pública. Hoje, vemos que alguns dos obstáculos à prática esportiva por meninas e mulheres são a sobrecarga de tarefas de cuidado, o preconceito de gênero e as pressões estéticas. Não por coincidência, estes são também fatores que afastam as mulheres de diversas outras esferas da vida, como o acesso a recursos financeiros, trabalho e seu direito ao descanso.
Estamos vivendo uma crise na saúde mental de mulheres – com índices muito altos de ansiedade, depressão e burnout – e prática esportiva é comprovadamente benéfica para evitar estas doenças. Além disso, nos esportes as meninas e mulheres aprendem diversas capacidades que são valorizadas na nossa sociedade, como o espírito de equipe, a resiliência e a tentativa e erro. Uma nova pesquisa recente da Deloitte descobriu que praticar esportes competitivos prepara as mulheres para construir carreiras de sucesso.
Eu amo ver como as atletas olímpicas nos mostram novas maneiras de liderar, da Simone Biles fazendo reverência à Rebeca Andrade no pódio à Tamires, do handebol, que carregou a adversária lesionada no colo. É um aprendizado ver como elas conseguem competir de uma maneira saudável e respeitosa. Também acho extremamente inspirador ver que as mulheres negras são as protagonistas dos esportes olímpicos brasileiros, e a minha torcida é que elas ocupem os pódios em muitas outras áreas.
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