Os segredos e exemplos das escolas de samba

28 de fevereiro de 2024 - 7h16

(Crédito: Reprodução/Instagram)

Desfilei pela primeira vez há quase 40 anos, ainda adolescente, numa escola do bairro da Vila Mariana, na Barroca Zona Sul. Depois vieram Camisa Verde e Águia de Ouro, em que fui atuante no time; são escolas que torço e tocam meu coração. Também desfilei na Vai-Vai, Rosas de Ouro, Mocidade Alegre e Império da Casa Verde.

Olhando como se fosse uma carreira, galguei alguns postos, começando como componente de ala, depois chefe de ala, até alcançar lugar de destaque em carros alegóricos.

As escolas de samba transbordam não apenas ritmo e poesia, mas também ensinam lições valiosas para o mundo corporativo, como propósito, liderança, impacto social positivo para seu entorno, sustentabilidade, trabalho em equipe, disciplina, criatividade, paixão e inovação.

Propósito

As escolas de samba têm um propósito em comum, que vai além dos desfiles de Carnaval. Todas elas atuam como guardiãs da cultura afro-brasileira e promotoras das tradições do samba. São fundamentais na preservação cultural, oferecendo também educação e formação por meio de projetos sociais que incluem aulas de música, dança e outras atividades artísticas. Importantes agentes de inclusão social, permitem a participação de pessoas de diversas origens sociais e econômicas e fortalecem o senso de comunidade e pertencimento.

Além do aspecto cultural e educacional, as escolas de samba estimulam a economia local, criando empregos e movimentando comércio e serviços. A competição entre as escolas incentiva a excelência artística e a inovação nos desfiles, enquanto os sambas-enredo frequentemente trazem à tona discussões sobre questões religiosas, sociais e políticas, reforçando seu papel essencial na sociedade brasileira, contribuindo significativamente para a cultura, educação e inclusão social.

Trabalho em equipe: a alma do negócio

No coração da escola, está o trabalho em equipe, dirigido por um presidente, diretoria e conselheiros. Cada componente, que somam muitas vezes 3.500 por agremiação, incluindo compositores, músicos, ritmistas, responsáveis pelas alegorias, harmonias, chefes de ala, rainhas de bateria, mestre-sala, porta-bandeira e comissão de frente, tem um papel crucial, similar ao mundo corporativo. O sucesso depende da capacidade de colaboração entre os membros da equipe, cada um trazendo suas competências e perspectivas para alcançar um objetivo comum: ganhar o primeiro lugar na sua categoria e, assim, conquistar mais clientes, digo, componentes.

A interdependência na escola de samba ensina que, para criar algo verdadeiramente impactante, é preciso haver uma sinergia entre os diferentes departamentos e funções, celebrando a diversidade de talentos e fomentando um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo.

Disciplina: a estrutura por trás da liberdade criativa

A disciplina é outro pilar que sustenta tanto a escola de samba quanto as práticas empresariais eficazes. Apesar da aparência espontânea, existe uma rigorosa disciplina, permitindo que a criatividade flua, mas também é fruto de muitos estudos, dedicação e ensaios, que começam meses antes do desfile. É um modelo de squad e metodologia ágil tão eficaz quanto qualquer um que conhecemos no mundo corporativo. Da mesma forma, no universo dos negócios, a disciplina na gestão de projetos, cumprimento de prazos e manutenção de padrões de qualidade é fundamental. Ela cria o alicerce sobre o qual a inovação pode prosperar, demonstrando que a liberdade criativa e a inovação requerem uma estrutura sólida para serem efetivamente realizadas e reforça o que mais acredito: sem diversidade, não existe inovação.

Criatividade: improvisação e inovação

A criatividade numa escola de samba manifesta-se na escolha do samba-enredo, na composição das letras, inovação dos arranjos musicais e na espontaneidade da dança. No ambiente corporativo, a criatividade é igualmente vital, impulsionando a inovação e a diferenciação no mercado competitivo. Empresas que cultivam um ambiente diverso, onde a experimentação é encorajada, o erro faz parte do processo de aprendizado, e os funcionários são motivados a pensar fora da caixa, estão melhor posicionadas para desenvolver soluções inovadoras e responder agilmente às mudanças do mercado.

Paixão: o motor da excelência

Finalmente, a paixão é o que dá vida às escolas de samba, impulsionando os músicos a aperfeiçoar sua arte e emocionar o público. No contexto empresarial, a paixão é igualmente crítica. Funcionários apaixonados pelo que fazem são mais engajados, produtivos e propensos a ir além das expectativas. Cultivar um ambiente de trabalho que alinhe os objetivos da empresa com as paixões individuais dos funcionários pode aumentar a satisfação no trabalho e impulsionar a excelência organizacional.

Ao incorporar as lições das escolas de samba, as organizações podem inspirar seus funcionários a atingir novas alturas de desempenho e satisfação, transformando o trabalho diário em uma celebração da colaboração, criatividade e excelência.

No próximo carnaval, acompanhem não somente os desfiles, mas participem e prestigiem os ensaios, desfilem e assistam. Além de diversão garantida, será um aprendizado para a vida e uma lição para sua carreira e empresa.