Sobre sonhos, aniversários e afeto
Cresci ouvindo que precisamos chorar com os que choram, mas nunca chegava o momento de se alegrar com os que se alegram
Cresci ouvindo que precisamos chorar com os que choram, mas nunca chegava o momento de se alegrar com os que se alegram
26 de março de 2024 - 6h20
Um dia desses me peguei pensando quando foi a última vez que ao realizar um sonho eu estava acompanhada e me dei conta de que, pra que eu pudesse ir mais longe, muitas relações ficaram pelo caminho.
Me lembrei do dia em que decidi prover mais para mim do que para os outros e como a culpa tomou conta de mim e de muitas horas de análise. Cheguei à conclusão de que meu dinheiro não era meu, meu sucesso não poderia ser só meu, e que qualquer resultado que eu tivesse era sinônimo de partilha. A verdade é que mulheres negras nem sempre podem se dar ao luxo de ter um ego saudável, quase nunca têm a possibilidade de olhar para si. E eu falo isso com peito apertado, a garganta com um nó e as lágrimas clamando por liberdade para escorrer.
De repente chegou o dia, estou indo para os Estados Unidos fazer meu primeiro intercâmbio. Entrei num avião com destino a uma das experiências que promete me transformar para sempre. Na bagagem, o medo de não poder vivê-la integralmente só para mim. Mas me surpreendi. Ao compartilhar quem eu sou de peito aberto e coração disponível, me dei conta de que hoje a família que eu escolhi, amigas, irmã, companheiros e companheiras de ativismo, torcem e celebram minhas alegrias como se fossem suas. Chorei de gratidão.
Cresci ouvindo que precisamos chorar com os que choram, mas nunca chegava o momento de se alegrar com os que se alegram ou de pelo menos alguém se alegrar comigo. Alguns anos atrás eu descobri a palavra “mudita”, que em sânscrito traz essa ideia de viver a alegria do outro como sua, de realmente sentir-se feliz pelo outro, e com a experiência do intercâmbio diariamente tenho recebido mensagens que me colocam para cima, que me incentivam, que nutrem minha alma e alimentam um ego outrora doente, mas agora curado pelo afeto.
Neste março em que completo 32 anos, revisito meu baú de sonhos, aqueles que eu sempre tive medo de compartilhar ou por serem “grandes demais”, ou por não me achar merecedora deles. Nesse março, compartilho em plenos pulmões que EU SONHO SER SEMPRE FELIZ, e que se felicidade é aqui e agora, eu quero viver PRESENTE pra sempre.
Quero sorrir quando acordar e tiver neve na janela, e ver o céu antes de olhar o celular. Quero chorar quando o sol se pôr, e abraçar uma árvore que meu caminho cruzar. Quero celebrar as parcerias que a vida trouxer e que com elas eu possa aprender. Quero subir nos lugares mais altos para expandir meus horizontes e encontrar mais mulheres como eu lá. Quero ver minhas irmãs e irmãos bem e saber que um “não” para o outro é o “SIM” mais puro que eu posso dar a mim mesma.
A minha coluna de aniversário está assim, cheia de emoção, repleta de cor, textura e novos sabores, como deve ser.
Desejo que para seu 2024, como eu, você possa se cercar de pessoas que “muditam” ao seu lado, que te elevam e te fazem melhor. Que as águas de março lavem nossa alma e transbordem nosso coração.
Que as nossas mensagens alcancem quem precisar com verdade, força e compaixão. Que a gente seja capaz de honrar SER mais do que ter.
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