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Opinião

Lições de liderança para além do Google Translate

É preciso valorizar a criatividade com tudo o que ela tem de melhor: o poder de ser um multiplicador econômico. Criatividade com processo tem um poder exponencial


18 de março de 2022 - 9h44

(Crédito: Shutterstock)

 “Criatividade é um multiplicador econômico”. Essa é uma das principais citações da Susan Credle, Global Chair e Global CCO da FCB, com quem tenho o prazer de trabalhar. Mais do que um mantra a ser seguido, esse pensamento é um valor fundamental que faz a diferença na cultura global da agência. Criatividade não é um departamento, é um pilar na co-liderança que define os rumos da empresa.  

Nos últimos oito meses, entrei para a estatística dos brasileiros trabalhando fora do país. Aqui em Chicago, presencio os valores de uma cultura forte, de dentro para fora, e aprendo todos os dias como me tornar uma líder melhor.  

Diversidade e Inclusão, por exemplo, não é uma diretoria ou uma gerência dentro do RH. É uma vertical relacionada à cultura da empresa. Ultrapassa a escolha de casting para as campanhas ou perfis para recrutamento. A intersecção de identidades, gêneros e raças está presente nos planejamentos criativos diários das marcas e o exercício da empatia vai além do respeito aos pronomes. A diversidade das equipes impacta diretamente nos resultados financeiros e pode ser um fator determinante no sucesso de uma concorrência. Não são ações com datas marcadas de acordo com um calendário, são processos seguidos em cada briefing, por cada funcionário, com metas avaliadas e reavaliadas com frequência. 

James Clear, no livro “Atomic Habits”, fala que o processo para se atingir um objetivo é tão ou mais importante do que o objetivo em si. Numa corrida, por exemplo, o primeiro e o último lugar têm o mesmo objetivo: ganhar a corrida. A diferença é o processo (o treinamento) que leva o vencedor a cruzar primeiro a linha de chegada. Trazendo para o nosso dia a dia, uma boa estratégia de comunicação tem, ao lado de objetivos mensuráveis, um cuidadoso processo para atingir o melhor resultado criativo. 

A sociedade americana vive o valor do processo diariamente. E, quem diria: processos são libertadores para a nossa mente criativa. Existe um respeito por cada etapa e o comprometimento de cada profissional. O chefe de todos é o “The Work” (o trabalho), e não há dúvida nem área cinza sobre isso. Prazos e revisões ajudam a dimensionar expectativas e controlar as horas. A criatividade é perseguida por todos, não importa o cargo, nem o departamento. Cursos de escrita criativa são parte do escopo também para financeiros e atendimentos. Posicionamentos são seguidos como religião, representam o “Brand Bedrock”, escritos em pedra para cada marca. A criatividade é valorizada em fees anuais. Nunca trocada por escopo de mídia. 

A cultura do processo também é vivida na escola. Dou um exemplo: empatia. Mais do que um tema da moda, empatia é uma disciplina regular do curso da nossa filha de dez anos, com lições de casa e avaliações em sala. Saúde mental: além de constar nos currículos, ganhou status de razão formal para ausência escolar até no máximo cinco dias por ano. Existe criatividade e espaço para imprevistos, mas tudo é planejado, avaliado e reavaliado, e os processos ajudam a delimitar a área em que são aceitos os improvisos.  

Talvez por isso, o país em que existe processo para tudo é também o país com a mais alta performance criativa em termos quantitativos. Seja na lista de prêmios Nobel já recebidos, de agências mais premiadas em festivais de criatividade ou das marcas mais criativas e valiosas do mundo.  

É preciso valorizar a criatividade com tudo o que ela tem de melhor: o poder de ser um multiplicador econômico. Criatividade com processo tem um poder exponencial. 

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