Opinião: aquele papo que já não cola mais

Meio & Mensagem
5 de fevereiro de 2015 - 11h35

Por Gian Martinez (*)

Mil novecentos e noventa foi o ano que marcou o início do processo de massificação da internet no mundo. Naquele ano existiam 206 usuários no Brasil que começavam a fazer do “correio eletrônico um grande hobby no País”,­ segundo divertida reportagem de um jornal da época: http://bit.ly/YTcorreio.

Já se passaram 25 anos. Um quarto de século depois aquela desculpa de que a sua empresa ainda está se adaptando ao mundo digital já não cola mais. A democratização do acesso, produção e distribuição de conteúdo redefiniu completamente a dinâmica da relação entre empresas e consumidores. Entender e participar desse novo contexto de forma relevante é o único caminho para competir e se manter vivo.

Este é um momento maravilhoso para trabalhar com marketing. O novo contexto é mais desafiador, competitivo e coloca sobre a mesa um único caminho para as marcas participarem das vidas dos seus consumidores: ser relevante. Porém, essa é uma tarefa menos trivial do que parece.

No fim do ano passado tive a oportunidade de ir conhecer o Web Festival em Dublin, Irlanda. Esse festival é conhecido por ser o “South By SouthWest da Europa” (fama que digo de antemão é completamente injusta com o SXSW). Fiquei impressionado de ver milhares e milhares de startups em um único lugar e encontrar tão poucas que realmente me chamassem a atenção por estarem fazendo algo de verdade relevante para as pessoas. Senti que testemunhava ali uma nova corrida ao ouro.

Estima-se que hoje existam mais de 1,5 milhão de aplicativos disponíveis para download na Apple Store. Esse número é ainda maior no Google Play. Se a aposta para manter sua marca relevante nos novos tempos é desenvolver mais um app, é bom que você garanta que ele seja mais relevante que os outros 1.499.980 milhão de aplicativos batalhando pela atenção do consumidor (considerando um limite otimista de até 20 apps que você se lembra que possui no seu device). Caso contrário, o tempo e dinheiro dedicados ao seu aplicativo terão o mesmo efeito nulo que uma propaganda mal feita jogada nesse oceano infinito de informação.

Propaganda que, por sua vez, está sendo obrigada a se reinventar para melhor. A necessidade de relevância força uma aproximação saudável das marcas com o mundo do entretenimento e com o mundo dos serviços. Ainda que em estágio incipiente, esse é um caminho sem volta que tende a melhorar não apenas a vida dos consumidores, mas também dos profissionais que trabalham com marcas.

Porém, imagino que você, assim como eu, ainda deva se encontrar em algumas situações surreais dignas de uma viagem ao passado no Túnel do Tempo. Ao se deparar com elas, lembrem-se sempre de que já se passaram 25 anos. Um quarto de século te dá o direito de dizer “esse papo já não cola mais”.

* Gian Martinez é cofundador da Coca-Cola Accelerator e escreve para o Meio & Mensagem mensalmente. Este artigo está publicado na edição 1645, de 2 de fevereiro de 2015, de Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa ou para tablets Apple e Android.