Tecnologia, criatividade e Brasil: Cannes já começou
Cannes 2025 celebra o Brasil e aponta caminhos para uma publicidade mais inclusiva, tecnológica e centrada na criatividade humana
Tecnologia, criatividade e Brasil: Cannes já começou
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17 de junho de 2025 - 13h44
A cada edição, o Festival de Cannes nos convida a repensar o futuro da comunicação. Mas 2025 promete algo a mais. Além da homenagem inédita ao Brasil, que, este ano, se tornou o segundo país com o maior número de peças inscritas, o festival dá sinais claros de que está abrindo espaço, com coragem e inteligência, para novas vozes e olhares. Um momento importante para refletirmos, de forma crítica e coletiva, sobre a revolução que já está em curso.
Uma das ações mais simbólicas desta edição foi a decisão de permitir que cada delegado levasse, gratuitamente, alguém que nunca havia participado do festival. Um gesto simples, porém, poderoso, que democratiza o acesso e amplia a perspectiva de quem está construindo o futuro da nossa indústria, especialmente talentos que muitas vezes ficam à margem dessas conversas globais. Isso precisa ser celebrado.
Entre as trilhas de conteúdo, duas em especial têm chamado minha atenção. A Innovation Unwrapped promete ser um verdadeiro mapa para entender tecnologias emergentes e ferramentas que já estão moldando o presente (e não apenas o futuro). Já a The Creativity Toolbox propõe uma abordagem mais cirúrgica: apresentar processos e técnicas fundamentais para alcançar a excelência criativa. Tudo isso num momento em que as fronteiras entre comunicação, criatividade e tecnologia estão mais porosas do que nunca.
É cada vez mais impossível falar de publicidade sem abordar o impacto da inteligência artificial. Neste primeiro semestre, a presença da IA se intensificou de forma quase invisível – mas absolutamente transformadora – no nosso cotidiano profissional. Ferramentas como o Gemini, do Google, e o ChatGPT, da OpenAI, estão sendo integradas aos fluxos criativos e operacionais, seja no planejamento, na produção de conteúdo ou na automatização de processos. E a chegada do Veo 3, também do Google, capaz de gerar vídeos realistas em altíssima definição, viralizou recentemente ao criar cenas tão verossímeis que confundiram até os mais atentos.
Um dos exemplos mais comentados foi a recriação hiper-realista da Arca de Noé, com Noé acomodando os animais em meio ao dilúvio, que circulou massivamente pelo TikTok e outras redes. Esse conteúdo impressionou visualmente e reacendeu discussões urgentes sobre ética, autoria e autenticidade. Mais um sinal de que a publicidade será, cada vez mais, uma indústria moldada por tecnologia, mas que precisa manter o fio da criatividade como eixo central.
É nesse contexto que surgem experimentações simbólicas e bem-sucedidas. Um exemplo é a personagem Marisa Maiô, criada pela Magalu, que viralizou com mais de um milhão de visualizações em apenas uma semana. Ela conquistou o público ao traduzir com precisão o humor sarcástico brasileiro e capturar, com inteligência, as tensões do nosso tempo. Uma prova de que narrativas híbridas bem construídas, com sensibilidade e propósito podem ganhar escala e impacto real.
Sim, a publicidade será cada vez mais tecnológica. Mas isso não significa abrir mão da alma. Cannes nos lembra, ano após ano, que a criatividade é o que conecta tudo: ferramentas, processos, dados e, sobretudo, pessoas. Por isso, sigo animada para viver mais uma edição deste festival que, além de premiar, provoca, amplia repertórios e abre portas.
Com o Brasil em destaque e o mundo olhando para nós, temos uma oportunidade rara de mostrar que a criatividade brasileira é, sim, uma liderança global e que, quando somada à intenção, ao acesso e à tecnologia, pode transformar tudo.
Nos vemos lá.
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