Comunicação

BK’ e AKQA Casa levam Brasil ao Grammy Latino

Cultura, progresso e evolução pessoal -- BK’ e AKQA Casa reafirmam a força do entertainment for music no país

i 4 de novembro de 2025 - 6h10

BK

AKQA Casa produziu curta-metragem do álbum D.L.R.E do rapper BK’ (Créditos: Divulgação)

O álbum Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, do rapper BK’, recebeu duas indicações ao Grammy Latino pela faixa “Só quero ver”, concorrendo nas categorias Melhor interpretação urbana em língua portuguesa e melhor vídeo musical em versão curta.

Lançado em janeiro, o álbum traz 16 faixas que costuram referências do rap, samba, R&B e trap, resgatando a tradição musical brasileira por meio de samples de Djavan, Milton Nascimento e Evinha. As músicas giram em torno não só da celebração da cultura nacional, mas também temas como pluralidade, evolução pessoal e determinação para transformar a própria realidade.

Em parceria com a agência AKQA Casa e com o hub AKQA Coala.Lab, foi desenvolvido um curta-metragem para promover o álbum, filmado na Etiópia. O filme reflete sobre o instinto de sobrevivência e a natureza nômade do ser humano, incentivando o desapego de tudo que impede o progresso, como comodismo, crenças antigas e vínculos frágeis.

“O BK’ queria traduzir uma mensagem sobre progresso, e nós começamos a entender que talvez tivesse alguma conexão com os antigos povos nômades, que deixavam muita coisa pra trás pra conseguir seguir adiante”, afirma Christiano Vellutini, ECD na AKQA Casa. “Todo mundo que era deixado pra trás era devorado por animais, e aí veio a ideia da hiena, um ser quase místico que consegue traduzir essa metáfora”.

Segundo Vellutini, a escolha da Etiópia nasceu do desejo de criar uma narrativa com a maior de fidelidade possível. Em parceria com a produtora Anonymous, a agência decidiu viajar até o continente africano para gravar com hienas reais. A escolha da Etiópia se deu pela forte relação do rapper com o país, que escolheu seu nome artístico em homenagem a Abebe Bikila, primeiro medalhista olímpico etíope que conquistou duas medalhas de ouro correndo descalço.

Os resultados são expressivos: o álbum teve estreia marcante nas plataformas de streaming, somando mais de 5,6 milhões de streams em apenas 24 horas. O curta-metragem, por sua vez, alcançou reconhecimento internacional ao ser indicado ao Grammy Latino 2025, concorrendo com El Clúb, de Bad Bunny, referência global na música latina.

O uso de samples, incluindo Esperar para ver, de Evinha, e Esquinas, de Djavan, funcionam como uma estratégia dupla: cria descoberta de artistas de outras gerações e posiciona o artista contemporâneo dentro da história cultural brasileira. A cantora Evinha, ícone dos anos 70, acaba de ganhar sua primeira nomeação ao Grammy através do álbum, 50 anos depois de seu auge na música brasileira.

“É um trabalho de extrema relevância cultural dentro da indústria. Nós fizemos a concepção criativa, direção de arte, identidade visual, desenho de show”, diz Vellutini. “O disco foi o segundo maior lançamento de janeiro globalmente, ficando atrás apenas do The Weeknd no Spotify”.

A nomeação consolida a posição da AKQA Casa como uma das agências criativas mais influentes do país. Em 2019, a agência produziu um curta-metragem de lançamento para o álbum Bluesman, do rapper Baco Exu do Blues. O projeto venceu o Grand Prix no festival de Cannes Lions, na categoria Entertainment for music — primeira vez para um brasileiro na categoria.

A produção trata de temas relativos a racismo institucionalizado, estereótipos e identidade negra no Brasil. A narrativa inverte simbologias raciais, retratando, por exemplo, um personagem negro correndo não porque está em fuga, mas porque está atrasado para o trabalho.

“Nós vimos esse movimento um pouco antes do mercado. Por exemplo, quando fizemos Bluesman, a reação do mercado foi: ‘Eu não entendi muito bem o que a AKQA tá fazendo’, e acho que só entenderam o valor quando ele foi premiado com o Grand Prix em Cannes”, afirma Vellutini. “Hoje em dia outras agências também olham pro entertainment for music como uma categoria onde eles podem atuar, seguindo agora o caminho agora que trilhamos em 2018”.

A relevância cultural de Bluesman foi tamanha que o trabalho foi premiado em Cannes ao lado de This Is America, de Childish Gambino – single que denunciou o racismo sistêmico nos EUA e se tornou um marco na luta racial do país.

Entretenimento 360° – o futuro das agências criativas

A indústria criativa brasileira atravessa uma fase de expansão, impulsionada por projetos que conectam diferentes narrativas e propostas. As marcas passam a investir em um storytelling mais relacional e profundo, capaz de dialogar de forma orgânica com o público.

A valorização da experiência ganha cada vez mais espaço: não basta apenas a fórmula “álbum + single” — existe uma demanda por filmes, curadoria visual, ativações de marca e experiências imersivas.

“A publicidade sempre foi um intervalo, só que agora está se tornando o principal. As pessoas querem consumir conteúdos relevantes, então a publicidade tende a virar uma forma de entretenimento”, explica Vellutini.

Essa tendência transforma agências criativas em verdadeiros estúdios de entretenimento, capazes de desenvolver universos completos em torno de artistas e marcas. Elas expandem sua atuação para além da publicidade tradicional, com o objetivo de construir narrativas profundas que gerem envolvimento emocional.

A AKQA Casa nasceu a partir desse conceito: desde sua fundação, a agência produz trabalhos que vão para além da publicidade, reverberando na indústria da música, do entretenimento e publicidade.

“O pensamento sempre é: o que a gente pode fazer de diferente?”, conta Vellutini. Ele menciona um dos primeiros projetos realizados pela AKQA Casa em São Paulo, para Usher, que também seguiu a estética “desformatada” típica da agência. “Era um site em que você só conseguia ouvir a música se você olhasse no olho das pessoas pretas que eram vítimas da brutalidade policial nos Estados Unidos”.

Segundo o ECD, a atuação da agência se provou relevante não só no universo da música e publicidade, mas também do cinema com a produção de Dois brasis feito com alunos pretos da periferia.

Christiano Vellutini na Akqa Casa

Christiano Vellutini, ECD na Akqa Casa (Créditos: Divulgação)

Ao mesmo tempo, esse movimento exige investimento em talentos multidisciplinares e em infraestrutura dentro das agências. Muitas delas, inclusive, têm criado hubs dedicados a esse tipo de produção, como por exemplo a Boiler, que no ano passado estreou o Boiler Entretenimento.

No caso da AKQA Casa, o entertainment for music sempre fez parte do DNA da agência, que nasceu dessa proposta. A empresa firmou uma joint venture com o Coala, criando um núcleo voltado a atender artistas e marcas interessadas em se conectar com a música. Em vez de um time fixo, a agência monta equipes conforme o perfil de cada projeto, selecionando profissionais cujas habilidades e referências se aproximam do artista, do trabalho musical ou da marca envolvida.

“Nosso objetivo é colocar o Brasil nos holofotes. O Brasil tem essa síndrome de vira-lata, e nós tentamos provar o contrário com nossos trabalhos”, afirma Vellutini. “O BK’ está disputando um Grammy com o Bad Bunny, que está no intervalo do Superbowl. Não sabemos se vamos ganhar ou perder, mas só de estar ali já colocamos o Brasil na prateleira, trazendo orgulho nacional”.