Criativas fazem textos vazios virar combate ao machismo
Dupla criativa da J. Walter Thompson de Porto Alegre lança o Feminipsum para convidar profissionais a repensarem comportamentos
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Bárbara Sacchitiello
27 de outubro de 2017 - 10h30
A criação é um dos ambientes da publicidade cuja presença feminina é mais escassa. São muitos os fatores apontados por profissionais do setor como a razão para a baixa presença de mulheres nas áreas de geração de ideias e os hábitos e comportamentos machistas que tendem a se perpetuar nos departamentos de criação são, segundo as publicitárias, uma dessas razões.
Vitória Ferrari e Luiza Lopes conhecem bem esse ambiente. Ambas assistentes de criação da J. Walter Thompson de Porto Alegre, as profissionais cansaram de presenciar e de ouvir relatos de colegas de trabalhos e de mulheres que, além da pressão e do árduo trabalho do dia a dia, também tinham de enfrentar comentários desrespeitosos, demonstrações de preconceito e desvalorização de suas ideias.
“Já estamos cansadas de ver e ouvir comportamentos e piadas machistas na criação. Estamos cheias de nos sentirmos subestimadas e intimidada por comportamentos machistas”, diz Vitória que, há três anos trabalha na criação e também já passou pela área administrativa de outras agências de dupla.
Ao lado de sua dupla, Luiza – que sempre trabalhou em criação – a profissional decidiu transformar sua indignação em atitude. Em agosto, ambas lançaram o Domina, um projeto que pretende, por meio de ações práticas, conscientizar o mercado publicitário a respeito da representatividade feminina e mostrar o quão nociva é a perpetuação de hábitos machistas nos ambientes profissionais – e, consequentemente, nos trabalhos apresentados.
O primeiro fruto do Domina é o Feminipsum, um projeto que visa usar caracteres que quase sempre passam despercebidos para transmitir importantes mensagens. As criativas montaram um site de Lorem Ipsum (textos usados para simular o espaço que mensagens publicitárias ou jornalísticas irão ocupar em mensagens publicitarias, revistas ou jornais) em que, no lugar das palavras vazias, há um manifesto sobre machismo e preconceito no mercado publicitário. “O Feminipsum funciona como qualquer site de Lorem Ipsum onde as pessoas podem pegar um texto para usar de marcação em layouts ou peças gráficas. O site oferece quantos parágrafos a pessoa solicitar”, explica Vitória.
“Loren Ipsum é que nem os comportamentos machistas dentro da criação. Você não presta atenção, só sai reproduzindo por aí. Mas também, para que levar a sério um texto que não diz nada ou mulheres que são minoria? Afinal, elas somam só 20% da criação. Um número inversamente proporcional a todas as piradas de cunho machista e sexual que elas escutam todos os dias. Sim, todos os dias”, diz o primeiro parágrafo do Feminipsum.
A ideia de combater diretamente as situações que as mulheres enfrentam no cotidiano foi embasada em casos que as próprias idealizadoras do Domina sentiram na pele. “Já enfrentamos vária situações bem desagradáveis trabalhando nessa área. Entre elas, ouvir piadas machistas dos colegas de trabalho quase diariamente, sofrer assédio e ouvir cantadas de colegas e diretores de criação”, confessa Vitória.
As duas profissionais enxergam que o debate sobre machismo e diversidade nas agências vem evoluindo, mas ainda há muito o que melhorar. Na opinião das criativas, é fundamental que essa cultura machista acabe não apenas no ambiente criativo mas também na comunicação final com o consumidor.
Apesar de criticar diretamente o comportamento de profissionais de criação e colegas de trabalho, a plataforma foi bem recebida na agência, segundo as criadoras. “As pessoas foram muito receptivas com o projeto. Nossos colegas, que são maioria homens, não só nos incentivaram a fazer o Domina como mudaram e reconheceram seus comportamentos machistas” conta Vitoria. O Domina deverá promover outras ações em relação ao tema nos próximos meses.
Para a assistente de criação, o reconhecimento de que existe um problema a ser resolvido já é um passo importante para a construção de ambientes de trabalhos mais saudáveis. “Repensar como pequenos comportamentos machistas afetam as mulheres que trabalham a sua volta já ajuda muito”, aconselha.
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