Hungryman faz 20 anos com contratações e investimento em IA
Nascida nos EUA, produtora lançará frente de negócios pautada em inteligência artificial aplicada ao setor
A Hungryman acaba de completar duas décadas de operação no Brasil com investimentos no casting de diretores e na atualização do modelo de negócio, com foco em inteligência artificial (IA). Fundada em 1997, em Los Angeles (EUA), a produtora desembarcou no território brasileiro em 2005, em um momento em que ainda não havia produtoras internacionais atuando no mercado local.

JC Feyer, Alex Mehedff e Gualter Pupo, sócios da Hungryman (Crédito: Divulgação)
Conforme Alex Mehedff, sócio-fundador da operação, na época, a Hungryman apresentou um modelo de negócio que, atualmente, está enraizado, que é a visão do diretor – ou, em inglês, “director treatment”. Na prática, a visão abria a oportunidade de incluir nos filmes publicitários o conhecimento dos profissionais. Na época, a produção costumava se reduzir à execução dos roteiros das agências.
Hoje, o aniversário emblemático de 20 anos inspira olhares para a operação atual e para os próximos anos. No mês passado, a produtora anunciou a chegada de quatro novos diretores de cena e, com isso, expansão do portfólio. Os diretores Rod Cauhi, Jarbas Agnelli, Guilherme Petry e SteveBruno, recém-chegados na casa, se juntam ao line-up que já incluía JC Feyer e Gualter Pupo, sócios da Hungryman, e Renan Moraes.
“A chegada deles representa uma seleção estratégica de talentos para os próximos 20 anos. Somam ao nosso time atual, ampliando nosso leque de oportunidades e estilos de filmes que somos capazes de entregar com alto nível. O denominador comum entre eles é a compreensão de uma estratégia de média a longo prazo, qué a cultura da nossa produtora”, diz Mehedff.
Hungryman e a tecnologia
Entre as direções, o executivo afirma que a Hungryman, apesar do sólido histórico em publicidade, tem olhado de forma intensa para o terreno do entretenimento. O próximo passo, antecipa, será a estruturação para abranger todo o processo de produção de filmes, uma iniciativa global que contará com recurso estrangeiro para incremento de ferramentas tecnológicas.
A tecnologia, inclusive, está no centro dos investimentos dos próximos futuros. Isso porque, com a parceria de um fundo norte-americano ainda não divulgado, a produtora lançará em breve o Hungryman Studios. A estrutura, também global, será pautada na IA, com a proposta de responder às mudanças que o setor tem vivido em relação aos novos formatos de conteúdo e de atuação das empresas.
“Somos contadores de história e isso significa aceitar o que está vindo como parte da evolução que acontece no audiovisual, independentemente do tamanho da tela e da forma de distribuir. Enxergamos isso como um ‘oceano azul’ de oportunidades que podemos ocupar”, explica.
Produtora e agência
Na opinião de Mehedff, a relação entre produtora e agência ainda carece de ajustes a fim de tornar o setor mais atraente, sendo um deles a forma de precificação. Cada roteiro, pontua, deveria ter um preço diferente, por ter necessidades de processos, equipes e ferramentas igualmente distintas.
O processo atual compara puramente valores fechados. Por isso, as produtoras não conseguem mostrar o que ele chama de “arquitetura do projeto”, com detalhes que realmente compõem o valor daquele filme. Com isso, agência e cliente partem do desconhecido, o que dificulta o “alinhamento de expectativas”.
“Projetar um filme é um negócio de linhas tortas, porque lidamos com criatividade. Uma vez que se permite qualificar a precificação com transparência, cria-se diálogo e conhecimento sobre quanto, de fato, custa o diretor de cena e o de fotografia, por exemplo. Sem isso, a conversa criativa fica rasa”.
Outro ponto seria abrir espaço para abordar os problemas, também com a finalidade de aumentar a transparência entre as partes envolvidas. Para ele, quando não há medo de falar de problema, a entrega se torna mais elevada. O medo é eliminado do processo, assim como o risco de frustração de expectativas.
Por fim, Mehedff opina que é preciso debater a evasão de criativos de agências para o exterior, movimentação que considera recorrente e que desqualifica a criação brasileira. Para ele, semelhante ao que acontece com o futebol, é cada vez mais comum o profissional, ao atingir certo grau de performance, assumir posições em outros países. Isso impacta diretamente a jornada de relevância do Brasil, inclusive, em premiações internacionais.
“A indústria criativa do Brasil vive uma crise. Para se ter uma ideia, faz tempo que o Brasil não ganha Leões em Cannes na categoria de filme. Então, existe um problema que não é conversado de forma transparente. Já no entretenimento é o contrário. Temos uma ascensão gigante no mercado internacional, com a penetração de talentos e produções. São anos de glória”, compara.