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Uma pitada de quê?

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21 de dezembro de 2020 - 8h00

Bruno Oliveira*

Em nosso último bate-papo — chamo de bate-papo porque recebi diversos pensamentos e contribuições em relação ao texto –, falei sobre a possibilidade que todos nós temos de mergulharmos no mundo da inovação. Entendo que não se trata de nascermos, necessariamente, com o “dom da inovação”, mas de estarmos abertos para as possibilidades de aprendermos com o novo, fazendo testes e melhorias de forma contínua.

Para inovar, portanto, é preciso que a gente se liberte das amarras das soluções definitivas para entrar, de forma consciente, em uma jornada de incertezas. Você aí deve estar pensando sobre como, para mim, é cômodo citar essas possibilidades, que na minha opinião, estão ao alcance de todos. Afinal, “o papel aceita tudo e, na prática, tudo é bem diferente”. Entendo sua opinião inicial!

Afinal, quantos textos já li que traziam os cinco, dez ou doze passos da inovação, as maneiras de montar times de alta performance super inovadores… Quanto já me retorci na cadeira sentindo uma baita incapacidade para transformar fórmulas (aparentemente) simples em estratégias de sucesso de inovação.

E o que aprendi testando? Passei a compreender que vale insistir em literaturas que, apesar de não me servirem como um manual plug and play da inovação, são capazes de pavimentar meu caminho com provocações, ideias e insumos para prototipagem!

Estas receitas (um ano de Nestlé e o termo receita passou a fazer parte do meu dia a dia) que nunca me serviram integralmente, passaram a nutrir as minhas experiências em inovação com novos ingredientes e com um repertório de processos que foram capazes de me ajudar a criar e a testar novos pratos, descobrindo o que funciona melhor nos contextos em que atuo.

Percebi no caminho que é importante saber que, ao longo da construção do cardápio de inovação, alguns pratos não vão funcionar e que cada empresa vai gostar mais ou menos de determinada receita.

Mas para fomentar a inovação, a organização precisa escolhê-la como parte integrante da sua estratégia de crescimento do negócio. Um líder, mesmo sem saber ao certo o que acontecerá neste processo, precisa estar disposto a abrir espaços e a criar condições para que o desconhecido aconteça, aflorando, desenvolvendo e prosperando o potencial inovador de cada pessoa.

Convidar especialistas para as organizações, conhecer cases, promover cafés e trocas de experiências podem ser caminhos muito efetivos para estimular a evolução da cultura. Pensando nos princípios da prototipagem, é preciso começar e evoluir a partir das experiências reais, não abortando os voos já na decolagem.

Os programas de ideação interna e de incubação de iniciativas dos próprios colaboradores são rotas eficazes para ir além da captura de oportunidades. Eles valorizam e mostram que todos podem usar o seu potencial além das descrições de cargo, pois o que vale de fato são os valores e habilidades! Tudo isso é essencial no sucesso das estratégias de inovação, pois faz com que os colaboradores sejam protagonistas na busca ativa por oportunidades. Ela empodera e responsabiliza cada pessoa a buscar formas e formatos novos para crescer e melhorar os negócios!

Além disso, arquitetar o contexto também demanda quebrar o paradigma de que a organização deve resolver tudo internamente, sem dialogar e cooperar com meio externo. A era de conhecimento apresenta um ritmo sem precedentes de mudanças das necessidades da sociedade e o tempo de adaptação das organizações não é necessariamente compatível com estas demandas. Este descompasso, se não é entendido e endereçado de forma estratégica, leva muitas organizações ao insucesso.

Hoje, é essencial perceber a inovação de forma aberta, estimulando as pessoas a buscarem soluções e novas oportunidades também fora da empresa, dialogando com outras organizações, startups, scale-ups, universidades, enfim, com todo o ecossistema de inovação do qual faz parte.

Você viu que abordei alguns ingredientes capazes de transferir o poder e as responsabilidades das empresas para as pessoas. Nesta lógica, se entendemos que todas as pessoas são inovadoras e que arquitetamos contextos para que elas protagonizem esta jornada, a evolução para a consolidação de organizações inovadoras me parece uma consequência natural.

Sem ter aqui a pretensão de sugerir mais receitas, apenas compartilho visões amparadas por vivências e práticas que sugerem a introdução de alguns elementos nos sistemas que buscam destravar o potencial inovador das pessoas que os compõe. Estes elementos ajudam a naturalmente inverter a lógica da construção de uma cultura organizacional que, ao invés de evoluir do papel para a prática, vai da prática das pessoas para uma cultura inovadora.

Então, a minha provocação, neste artigo, é para abrirmos as cozinhas das empresas, deixando ingredientes mínimos para que novas receitas possam ser experimentadas e para que os colaboradores, em geral, acelerem a sua capacidade de aprendizado e de transformação. Assim, eles podem ampliar o apetite e a vontade de provar novos pratos!

Até a proxxima!

*Bruno Oliveira é head de inovação e novos negócios da Nestlé Brasil

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