Manu Gavassi: cantora, atriz, diretora e… executiva
A sócia do Estúdio Gracinha, sua nova produtora boutique, reflete sobre sua trajetória na publicidade e os desafios como liderança criativa
Manu Gavassi: cantora, atriz, diretora e… executiva
BuscarA sócia do Estúdio Gracinha, sua nova produtora boutique, reflete sobre sua trajetória na publicidade e os desafios como liderança criativa
Michelle Borborema
30 de abril de 2024 - 18h43
“Se eu estou entrando, eu estou entrando. E vou gabaritar”, disse Manu Gavassi na entrevista que iniciou sua trajetória no Big Brother Brasil 20. Poderia muito bem ser o mote de sua carreira, iniciada na música, desenvolvida no entretenimento e na publicidade e, agora, em nova fase: a de empreendedora e executiva.
A garota que começou como muitas meninas da sua geração, fazendo covers de outros artistas no YouTube, é hoje reconhecida como cantora, compositora, atriz, roteirista, diretora e, agora, sócia de seu próprio negócio. Após uma longa jornada criativa, onde vida pessoal e carreira se cruzaram e se estranharam algumas vezes, Manu acaba de inaugurar a produtora Estúdio Gracinha, com maturidade sobre sua missão.
“Amor e autonomia criativa. Eu já executava meus projetos sozinha, porque, quando tentava chamar alguém, me traziam mais problemas do que soluções e budgets impossíveis de conseguir. Tentava dar meu jeitinho e executar mesmo assim. Descobri que sei fazer isso de verdade.”
Ao lado de Felipe Simas, seu empresário e agora sócio na nova empreitada, Manu diz se sentir pronta para se arriscar no audiovisual e entretenimento como executiva. Isso diante de um cenário brasileiro que ainda carece de atributos que a produtora boutique pretende oferecer.
“Quando percebi que a maioria dos projetos de que participava ou observava não tinham uma voz criativa ativa, que tomava as decisões pelo projeto de fato, unificando todas as frentes, entendi que isso é extremamente importante. Ou seja, uma junção de fatores me fez ter coragem de arriscar.”
A essência criativa de Manu foi incentivada pela família desde criança e seu ingresso na publicidade foi precoce, em revistas adolescentes como “Capricho”. Ainda assim, a carreira da artista teve alguns percalços até chegar onde está. Seus pais, o radialista Zé Luiz e a psicóloga e artista plástica Daniela Gavassi, se conheceram no teatro da faculdade, e ela lembra que nunca quis ser outra coisa desde que aprendeu a falar. No entanto, sua trajetória profissional foi marcada pelo boom das redes sociais e, com elas, o bombardeio de críticas e mensagens raivosas dos haters.
“Até meu terceiro ano do ensino médio, não existia internet no celular, mas meu início foi o começo das redes sociais, e com isso recebia uma quantidade de julgamento e comentários ofensivos que vejo agora que se transformaram ao longo dos anos em um ponto fraco. Algo que realmente abalava a minha autoestima e confiança e ficou comigo.”
Aos 16 anos, Manu foi parte da Galera Capricho [da revista Capricho], febre entre os adolescentes da época. Entrou após fazer uma inscrição onde mencionou que escrevia músicas e gostava de cantar. A influenciadora Karol Pinheiro, colunista da revista no período e hoje sua amiga pessoal, encorajou a artista a mandar vídeos com suas músicas para a redação. Foi quando Manu recebeu investimento para seu lançamento na indústria musical.
A artista não parou mais. Em 2010, depois das publicações de vídeos no canal que criou no YouTube, lançou um álbum de estreia cujo single, “Garoto Errado”, alcançou mais de 50 milhões de visualizações na plataforma. Dois anos depois, gravou duas músicas para a trilha sonora do filme “Valente”, da Disney. E assim trilhou sua carreira musical, até decidir encarar também a jornada de atriz, tendo estreado em novelas como “Malhação” e “Em Família”.
“Ter seguido primeiro pela música foi provavelmente por conta da autonomia que ela me dava, o que diz muito. Mas sempre me encantei pelo audiovisual como um todo, e cada coisa que inventei de fazer, hoje vejo que me preparou para o caminho que iria seguir no futuro. Minha carreira tem muitos caminhos, então é estranha e difícil de explicar, mas sinto que agora estou trabalhando na junção de tudo que aprendi.”
Quando topou o convite para participar da primeira edição do BBB com participantes famosos [Big Brother Brasil 20], em 2020, Manu criou um plano de marketing que contemplava a gravação de 130 vídeos antes de entrar no programa. A série, “Garota Errada”, foi parte de uma estratégia multicanal para complementar sua participação no reality, que levantou audiências massivas e bateu recordes de votações. Manu chegou a chamar atenção da cantora internacional Dua Lipa, ao fazer menções à artista na casa, garantindo à gringa posições nas plataformas de streaming nunca alcançadas no país.
Além de um disco de platina com “Áudio de Desculpas”, o período garantiu à Manu contratos com grandes marcas, o que possibilitou que sua faceta de diretora criativa, que já exercia há alguns anos, fosse vista e valorizada pelo mercado. Criou campanhas para O Boticário, Tanqueray, Colgate, Samsung, Neutrogena, Vogue Eyewear e várias outras. Ela lembra, no entanto, que esse lado publicitário não era novidade para ela.
“Comecei a fazer publicidade bem nova, em revistas adolescentes, em um mundo onde redes sociais ainda não existiam, e ao longo da última década vi a maneira de trabalhar com isso mudar, e também criei uma maneira própria de fazer isso. Hoje é a minha principal fonte de renda. Assino como diretora criativa, com as principais publicidades sendo produção própria, o que foi uma grande conquista e diz muito do lugar que estou levando minha carreira a partir de agora.”
Depois de ter dirigido e roteirizado o álbum visual “Gracinha” para a Disney Plus, em 2021, Manu se encontrou de vez com o audiovisual. Foi o terceiro produto do gênero a entrar na plataforma de streaming, ao lado de Beyoncé e Billie Eilish. “Me fez querer de fato abrir uma produtora e contar histórias desse jeito para o resto da vida. Acho que ali me encontrei de verdade.”
O feito contribuiu para Manu inaugurar este ano o Estúdio Gracinha, que tem como objetivo principal desenvolver suas narrativas, com a liberdade criativa como missão. O primeiro curta-metragem da produtora foi Programa de Proteção à Carreira Artística, vídeo que criticou a indústria musical e alcançou mais de 30 milhões de visualizações em 24 horas.
“Minha intenção foi falar o que sinto, nesse caso o que vivo, e o que acho digno de questionamento e discussão. A resposta foi muito melhor do que eu imaginava. Nunca conseguiria prever aquele nível de engajamento não só do público, mas de figuras tão diferentes e importantes da classe artística.”
A preocupação principal de Manu é que a produtora entregue com qualidade. “O objetivo inicial de negócio é pegar poucos projetos, para que possamos de fato imprimir autenticidade e qualidade. E assim criar um diferencial.”
Ao refletir sobre seu novo papel de sócia, empreendedora e liderança, Manu diz ter acumulado aprendizados. “Eu meio que já era, mas acho que nunca quis assumir. Aprendi que o que tenho feito nos últimos anos é empreender com criatividade. Confesso que não conheço termos técnicos de liderança, mas diria que meu estilo é priorizar as pessoas e proteger a mensagem do que queremos passar.”
Para o futuro, Manu conta que deseja atuar cada vez mais. “Muito da minha vontade de assumir esses projetos veio do desejo de atuar neles também. É algo que me encanta e me faz muito feliz. Além deles, vou protagonizar a adaptação do livro ‘Já não me sinto só’, da Maria Flor, atriz e diretora que admiro muito.”
Quanto às redes sociais, tão presentes na sua carreira, ela diz que hoje prefere não se preocupar com quantidade de cliques, curtidas e comentários, e confessa que inclusive tem um tempo estipulado para o uso delas.
“Mudei a minha relação com isso quando entendi que engajamento não tem nada a ver com respeito, credibilidade ou até mesmo talento. Várias artistas que admiro nem rede social têm, e isso não prejudica em nada nem a minha admiração por elas e nem a carreira delas.”
Segundo a nova versão da Manu, o importante é ter equilíbrio. “Gosto muito da independência que as redes sociais proporcionam pra mentes criativas. E eu devo toda a minha carreira a isso. O desafio é saber usar sem ser refém”, completa.
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