A verdade morreu!

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Opinião

A verdade morreu!

O truque é saber quem somos, mas viver sem ódio do oposto, do estranho, do diferente e daquilo que nos deixa inseguros


4 de novembro de 2019 - 13h06

(Crédito: Tadamichi/ iStock)

Tempos complicados para os seres pensantes.

A tendência do ser humano para organizar, da alegria ao caos, a necessidade ancestral de simetria e ritmo colide com um planeta que nunca foi tão complexo, nunca foi tão contraditório.

Ouço de um grande anunciante que a mídia paga vai acabar. Ao mesmo tempo, uma grande marca global declara que irá voltar à mídia de massa, após concluir que seus negócios, inclusive os digitais, são mais impulsionados pelos veículos tradicionais do que pela sua geração própria de conteúdo.

Num dia, um ponto-base de uma empresa de tecnologia vale o dobro ou o triplo de um ponto-base de empresa tradicional, no hype de expectativas futuras praticamente infinitas. No dia seguinte, um movimento de investidores corta o funding de um dos unicórnios globais, declarando que não há mais dinheiro para se perder sem visibilidade de lucros.

A Uber é uma grande vilã porque se beneficia de informalidade para crescer no mundo da mobilidade. A Uber é uma grande heroína pois, sem essa oferta de subemprego, este país e alguns outros estariam vivendo convulsões sociais muito maiores.

A TV morreu. A TV cresceu.

Viva todos os 37 gêneros sexuais identificados! Morte aos gays que se beijam no bar!

Um magnata afirma em seu livro que é perfeitamente aceitável atrasar pagamentos de fornecedores como forma de melhorar seu working capital. A Inglaterra examina projeto de lei que torna práticas como essa crime de abuso de poder econômico.

No contexto macro, vemos um planeta bem informado e bem vigiado através da tecnologia. Parece que os tempos de obscuridade e ações behind-the-scenes acabaram, pois toda informação está acessível a todos. O enunciado não combina, infelizmente, com o fenômeno do surgimento de líderes obscurantistas em países outrora abertos e progressistas.

Malucos, caras de pau e larápios desafiam o que parecia ser uma inteligência coletiva conquistada nas últimas décadas.

Tudo é mentira! Tudo é verdade! Reclamamos dos algoritmos, mas, pensando bem, vivíamos em algoritmos bem mais estreitos e, também, mais confortáveis.

Para que não nos esfacelemos diante dessa máquina de cuspir versões, convém tomar algumas medidas. Do ponto de vista de interação pessoal, precisamos de uma flexibilidade que até então não conhecíamos. O truque é saber quem somos, mas viver sem ódio do oposto, do estranho, do diferente e daquilo que nos deixa inseguros. Como contrapartida, esperar a mesma falta de ódio a tudo o que possamos vir a representar.

Do ponto de vista de sociedade, há coisas mais complexas a tratar.

Precisamos da imprensa forte, uma imprensa subjugada é um risco insuportável. Precisamos dos artistas e do comentário que eles deixam marcado em pedra nas épocas que testemunham. Precisamos de legislações e regulamentações, poucas e boas, conectadas com o interesse maior da comunidade.

Precisamos ouvir pais e mães, pois a ruptura com o passado nos deixa órfãos de critério. Precisamos de um pouco de Deus, seja lá sob que forma ou nome, para resgatar um pouco da humildade perdida em algum evento de empreendedorismo de palco.

Munidos das armas de Jorge e da identidade, os interesses dos mais espertos terão asas, mas não nos alcançarão.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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