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Opinião

Diversidade: vivência, jornada e ação

Organizações que ainda não se debruçaram sobre esse desafio têm um chamado para viver esta realidade


12 de junho de 2020 - 8h57

(Crédito: reprodução)

Era 2018 e, na busca por trazer narrativas mais representativas à marca, criamos um filme sobre uma menina negra, frustrada com seu cabelo, pois tinha como referência de beleza mulheres com alisamento. Percebendo a situação, seu pai começa a lhe mostrar através da conexão diversas referências de mulheres negras. No fim do filme, já mais segura de si, a menina decide ir para a escola com os cachos soltos. O comercial emocionou muita gente e foi compartilhado organicamente por celebridades negras e grupos de afinidade. Mas naquele momento tivemos certo receio de colocá-lo no ar. Afinal, havia proximidade da marca com o movimento negro até então? Teríamos legitimidade para abordar o tema? Estávamos falando no tom certo? O resultado foi que a mensagem ecoou e a comunidade entendeu que tocamos no tema de identidade de forma sensível, usando a voz da marca para dar protagonismo à questão.

Na época, vivia o desafio de sustentar um posicionamento que convidasse as pessoas a saírem de suas bolhas e construírem novas conexões com o mundo a sua volta. Nascia o conceito “Viva menos do mesmo”, um convite a confrontar os algoritmos que reforçam as nossas preferências e nos imergem em uma repetição de conteúdo. Em pleno mundo globalizado e digital, sentíamos a responsabilidade de estimular as pessoas a usarem a conexão de uma forma melhor… se abrir para o novo, quebrar estereótipos e a olhar de outras perspectivas.

Esse movimento interno, que virou assinatura de marca, revelava um modo de fazer comunicação que também precisava ser diferente. Inspirados pelos tópicos mais discutidos à época, provocamos as pessoas a repensarem o que buscam e publicam nas redes sociais. Desde então, nos debruçamos no desafio de construir diversidade de forma real. A começar pela maior representatividade na comunicação, mas indo além e trazendo de forma consistente narrativas contemporâneas e diversas.

Seja abordando diferentes composições familiares, a adoção ou a Síndrome de Down, dentre muitos temas que tratam de processos de inclusão, com a intenção de representar e inspirar. Porém, o mais importante desta jornada foi a nossa evolução interna. Afinal, entendemos que este é o único caminho possível para a construção de uma posição consistente e genuína. Não conseguiríamos sustentar esse posicionamento sem fazer a nossa parte dentro de casa.

Com um time que lida diariamente com o mercado publicitário, entendemos que temos uma responsabilidade objetiva. Passamos a exigir mais diversidade na cadeia de produção. Acreditamos que é fundamental incentivar equipes com diferentes vivências e pontos de vista, garantindo representatividade e voz para todos. Somente assim, conseguiremos ampliar a nossa visão de marca.

Há cerca de um ano, estendemos este compromisso às nossas agências para que sejam mais heterogêneas. Exigimos que busquem mais diretoras nos pitchs, estamos reduzindo as contratações por indicação pessoal e mapeamos novos talentos. Criamos o Lab de Ideias, projeto em que convidamos estudantes de universidade de grupos sub representados na publicidade. Ao longo de meses, puderam ter cursos e vivências na cadeia criativa. Também nos ajudaram a trazer novos olhares e o processo rendeu duas contratações na empresa.

Há um esforço para que todos os grupos tenham mais voz nas decisões. Em 2018, nasceu o Vivo Diversidade, com o objetivo de aumentar a representatividade e dar luz a grupos na empresa. Uma das principais iniciativas é a capacitação da liderança para evitar vieses inconscientes, que podem levar as pessoas a favorecerem apenas aquelas que tiveram experiências similares e pensam de maneira parecida. Também foram criados grupos de afinidade de gênero, raça, LGBTQ+ e pessoas com deficiência. São fóruns para que os desafios sejam debatidos abertamente. Atualmente, estou à frente do grupo de mulheres e me sinto preparada e comprometida com essa bandeira. Trago em mim a responsabilidade de ampliar as possibilidades para tantas outras mulheres que estão trilhando suas carreiras.

Nas últimas semanas, tivemos novamente um desafio com conteúdo sobre o movimento negro. Com os recentes acontecimentos que geraram mobilização globalmente, decidimos nos posicionar com um post repudiando os casos de racismo no Brasil e no mundo. O posicionamento foi discutido e criado através do Vivo Afro, com voz e legitimidade para trazer o olhar sobre o tema. Desta vez, tínhamos mais experiência e estávamos muito mais seguros do que dois anos atrás. Por isso, tenho certeza de que o posicionamento genuíno só pode acontecer quando há diversidade real dentro da empresa e em seu ecossistema. Temos todos ainda um longo caminho de aprendizado e ação a percorrer. As organizações que ainda não se debruçaram sobre o desafio têm agora mais do que uma oportunidade, um chamado para viver esta realidade. Mas, seja qual for o caminho, não há dúvidas de que deve ser construído de dentro para fora.

**Crédito da imagem no topo: Alexas Fotos/Pixabay

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