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Opinião

Em isolamento, nos encontramos nas plataformas de entretenimento

Como é natural do ser humano criar de maneira que consiga atender suas necessidades mais prementes, dentro de muito pouco tempo, mesmo confinados, conseguimos reinventar nossos espaços de sociabilidade


12 de agosto de 2020 - 13h37

Novas formas de entreter em plataformas existentes: show de Travis Scott dentro do Fortnite (Crédito: Reprodução)

A conexão social é, sempre foi e sempre será uma necessidade humana. Nos conectamos com família, amigos e grupos com interesses comuns por muitas razões, mas em especial para nos entreter e nos conectar de forma que compartilhemos experiências e vivamos momentos únicos e memoráveis que significam a nossa existência. 

 Nos anos que antecederam a pandemia, a busca por experiências ao vivo de entretenimento como espaço premium de socialização e de vivência de experiências coletivas crescia num ritmo exponencial e parecia um caminho irreversível e a grande tendência para os próximos anos. Nos shows, festivais, estádios, museus, eventos e demais espaços de existência coletiva – criados para nos unir por meio de experiências memoráveis –, convivíamos, compartilhávamos, nos divertíamos e existíamos em nossa plenitude. 

 Impossibilitados de aglomerar, inicialmente lamentamos os momentos de sociabilidade que nos estavam sendo negados… Resolvemos isso rapidamente, e as conexões presenciais se tornaram 100% virtuais – fossem via Zoom, WhatsApp, FaceTime, Messenger… Ufa! Estávamos conectados! 

 Entretanto, dentro de pouco tempo, começamos a sentir falta de “EXPERIENCIAR” em nossa plenitude. Não bastava mais o Zoom… faltava o layer da “experiência” que vinha nos unindo e entretendo de forma muito mais plena anteriormente. Como é natural do ser humano criar de maneira que consiga atender suas necessidades mais prementes, dentro de muito pouco tempo, mesmo confinados, conseguimos reinventar nossos espaços de sociabilidade; e a solução para isso veio por meio da conexão coletiva em plataformas de entretenimento. 

 O show do Travis Scott no Fortnite é um exemplo dessa nova tendência de encontros em espaços gamificados. Mais do que apenas assistir a um show, naquele momento, que reuniu 14 milhões de pessoas dos mais diversos países, todos podiam interagir com a experiência, com o artista e com os demais expectadores da forma que quisessem, num ambiente que reunia a magia da música e a dinâmica do game. 

 O sucesso foi tanto que o Fortnite, percebendo o tamanho da oportunidade, rapidamente criou uma nova área do jogo, chamada “Party Royalle”, única e exclusivamente para receber esse tipo de “evento”; e essa sessão do game já vem exibindo até filmes.  A ideia por trás? Criar o ambiente perfeito para reunir pessoas que queiram, muito além de consumir um conteúdo, fazê-lo de forma mais divertida e social.  Ou seja: para alguém que queira viver uma “experiência” coletiva de consumo de conteúdo. 

 A parceria de Fortnite com Travis Scott e os festivais de música virtuais (e interativos) que começam a surgir são, sem dúvida, os mais conhecidos exemplos dessa nova tendência. Entretanto, estão longe de ser os únicos. O jogo Red Dead Redemption vem recebendo visitantes inusitados: executivos que se reúnem em frente a suas famosas fogueiras para fazer reuniões de trabalho. Por quê? Porque é muito mais divertido se reunir num cenário de Velho Oeste americano (tema do game) do que nos quadradinhos do Zoom ou do Teams. Pois, se não podemos estar juntos, ao menos vamos ampliar a qualidade das experiências de contato. 

 Já os mais novos representantes da Geração Z, impossibilitados de se reunir para brincar como normalmente faziam na escola, na casa de amigos ou em praças, agora se encontram em plataformas como Minecraft ou Roblox. Lá, eles constroem seus próprios espaços, que são decorados de acordo com seu gosto pessoal e cheios de ambientes customizados exclusivamente para oferecer diversão. O objetivo? Brincar e interagir com os amigos, que também têm “casas” (além de avatares personalizados e até mesmo pets virtuais) nas plataformas. Em resumo, até a “brincadeira de casinha” migrou para o ambiente virtual… e com uma vantagem: eles agora podem se encontrar o dia inteiro, onde quer que estejam, e criar ambientes divertidos, cheios de fantasia e que podem mudar a cada dia com enorme facilidade. 

 E, para quem pensa que os games são as únicas plataformas que reúnem as pessoas por meio de experiências, vale conhecer os novos e cada vez mais imersivos apps esportivos, destinados a fazer com que os atletas amadores que se exercitem confinados durante a pandemia creiam que estão cruzando os circuitos mais desafiadores e/ou espetaculares do mundo.  Tudo isso graças a tecnologias que conectam esteiras/bikes, apps, VR/AR e telas combinadas. Ironman e Tour de France já têm etapas virtuais e o número de participantes só aumenta.   

Também vale mencionar a iniciativa pioneira do Eschaton, metade teatro imersivo, metade simulador de vida noturna, que passou a acontecer no Zoom nos sábados à noite de pandemia. Nela, a audiência é convidada a, remotamente, vestir sua melhor roupa, diminuir a luz e preparar um drink. A partir daí, começa o espetáculo, no qual os participantes tem a possibilidade de navegar por diversas salas interconectadas, onde acontecem performances diversas, e podem desde interagir com os artistas ou outras pessoas da audiência dispostas a isso até simplesmente navegar pelas salas, fruindo do espetáculo e tentando fechar o arco narrativo de sua experiência pessoal nessa nova modalidade de teatro imersivo. 

Ah… e as telas de boa parte dos expectadores costumam ficar abertas. Então você acompanha não só a experiência de quem está com você na sessão, mas também a de todos os outros da audiência. Será então que as experiências virtuais vão substituir as presenciais? Acredito fortemente que não, pois nada jamais substituirá a emoção do encontro nem suprirá nossa necessidade de conexão humana. Além disso, nenhuma experiência virtual será tão memorável e próxima quanto assistir de perto ao show do seu ídolo ou correr em meio a milhares de atletas uma grande maratona.    

Mas uma coisa é certa. O mundo pós-pandemia renascerá mais digital do que nunca e as plataformas de entretenimento virtuais que explodiram durante esses meses de confinamento já são (e continuarão a ser) um espaço premium de vivências de experiências coletivas, ampliando ainda mais nossas possibilidades de encontro e conexão. 

*Crédito da foto no topo: iStock

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