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Como o Amazônia Live engajou o público mainstream

Projeto da Rock World em Belém foi constituído sobre tripé de comunicação para reverberar a longo prazo e refletir propósito da companhia

i 23 de outubro de 2025 - 7h29

*Atualizada às 08h50

O Dia Brasil do Rock in Rio 2024 foi o escolhido para o anúncio do Amazônia Live – Hoje e Sempre, evento que ocorreria um ano depois com apresentação de Mariah Carey e artistas paraenses em uma vitória régia flutuante no Rio Guamá, em Belém, no Pará.

amazônia live

Amazônia Live buscou gerar engajamento do público mainstream e manter legado no longo prazo (Crédito: Divulgação/Diego Padilha)

O movimento alcançou mais de 170 milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Foram mais de 791 milhões de impactos, com mais de 3,5 mil conteúdos produzidos ao longo de um ano. O especial de TV do projeto alcançou quase 10 milhões de pessoas de audiência na TV Globo, parceira da Rock World.

A escolha da cantora norte-americana foi estratégica, baseada em critérios de comunicação, alcance e simbolismo. Entre as razões, esteve a de fomentar a repercussão internacional. Veículos como Reuters, Billboard, Time Out, Attitude, entre outros da imprensa norte-americana e europeia, por exemplo, noticiaram o evento.

Essa foi a segunda edição do Amazônia Live. A primeira, realizada em 2016, contou com um palco flutuante sobre as águas do Rio Negro e participação de artistas como Placido Domingo, Andreas Kisser e Ivete Sangalo, além da Orquestra Amazônia Filarmônica com Coral do Amazonas.

Além do contexto distinto da edição de 2025 — às vésperas da COP30 — a comunicação também foi um ponto de diferenciação trabalhado pela Rock World. A empresa levou a temática para o The Town, em setembro deste ano, conteúdos paralelos nas redes sociais.

Roberta Medina, vice-presidente de reputação da Rock World, remonta ao pilar Por Um Mundo Melhor, adotado em 2001 pelo Rock in Rio, como a fundação ideológica e o propósito central da organização, orientando ações e estratégias de comunicação. Em 1985, o festival surgiu com objetivo de dar voz a jovens no pós-Ditadura, servindo como uma plataforma para atrair impacto econômico no Rio de Janeiro.

“A nossa vontade é que, cada vez mais, essas conversas de valores — e não de causa — estejam permanentes e presentes na jornada de comunicação de uma forma completa, para que as pessoas possam estar constantemente lembrando é muito mais do que diversão”, diz, salientando a mensagem de construção de um mundo melhor para as gerações atuais e futuras que frequentam os eventos por meio de um ecossistema engajado, entre público e backstage.

As formas de atingir o público mainstream também se alterou. Ainda que a agenda ESG já seja de compreensão do mercado, nem sempre a audiência mostra disponibilidade para tratar a temática de forma aprofundada, defende Ana Deccache, diretora de marketing da Rock World.

A empresa vem apostando no tripé que alia o propósito de transformar o mundo por meio da música e a capacidade de produzir experiências engajadoras a nível global ao pilar de comunicação de jornada, tratando temas sociais e ambientais complexos de maneira simplificada e com impacto.

“Construímos a comunicação de uma maneira muito específica, a partir de heros. Tivemos vários picos ao longo de 13 meses de comunicação e um always on, entre conteúdo e ações de sustentação de conversa que garantem que tenhamos momentos muito grandiosos”, afirma Ana.

E o entretenimento vai além dos festivais. A série Diário de Bordo de Amazônia Para Sempre dividiu com o público, por meio dos perfis oficiais do Rock in Rio e do The Town, os bastidores dos festivais nos esforços de manter a Amazônia de pé. A empresa prepara, ainda, um documentário junto artistas e personalidades da área ambiental, que estreia no Globoplay em breve.

Questionada sobre participação na COP30, a empresa não estará presente como participantes diretos ou debatedores, dada a natureza política e especialista da Conferência. O papel da iniciativa foi o de aquecer e despertar atenção para o evento, dizem.

Apesar disso, a Rock World está fornecendo suporte operacional para a Global Citizen Festival: Amazônia, festival que será realizado na cidade sede da COP no início de novembro, no Mangueirão, com shows gratuitos de Anitta, Seu Jorge, Gaby Amarantos e Chris Martin.

Escuta e planejamento

A viabilidade do Amazônia Live não se baseou apenas em estudos técnicos de produção, mas em um processo de escuta junto a especialistas em floresta e clima, o Governo do Pará e parceiros locais, bem como relatórios de sustentabilidade para minimizar os impactos do evento.

O processo indicou que a solução mais rápida para a manutenção do clima é a recuperação de territórios desflorestados, evidenciando a necessidade de deixar um legado tangível e acessível. O edital público de R$ 2 milhões beneficiou seis iniciativas em Belém do Pará nas áreas de bioeconomia, povos da floresta e empreendedorismo.

O Amazônia Live – Hoje e Sempre também contemplou o Grande Encontro Por Um Mundo Melhor, com nomes da música Ivete Sangalo e Viviane Batidão, em uma celebração gratuita no Estádio do Mangueirão. O evento, segundo Roberta, foi uma forma de agradecer e conferir o protagonismo à população da região.

Mensuração de engajamento

A mensuração do engajamento do público em iniciativas socioambientais, festivais e o próprio Amazônia Live é realizada através de ferramentas formais de pesquisa aliado ao monitoramento em mídias digitais e avaliação da polaridade do público em relação às temáticas abordadas. Em parceria com a GFK, realiza pesquisas antes, durante e depois dos eventos para mensurar a percepção das pautas mais estratégicas do festival.

O retorno do mercado também é um indicador. A edição de 40 anos do Rock in Rio contou com 85 marcas e 130 ativações. Já Amazônia Para Sempre teve Vale como patrocinadora máster, e apoio de Gerdau, Heineken e Banco da Amazônia. Diferente do que ocorria em 2001, indica Roberta, hoje, a narrativa de todo o projeto, bem como o conteúdo, foi alinhado com os parceiros.

“Quando falamos de uma iniciativa e de estudar a dimensão para que outros projetos aconteçam, uma das formas mais valiosas de mensurar não sai em pesquisa, é o que vivemos”, reitera Roberta. Neste sentido, a diretora de marketing, Ana, acrescenta: “Hoje, nosso modelo de negócio fica de pé porque temos uma parceria com as marcas”.

Construção de longo prazo

Em linhas gerais, o plano da empresa foca em ações de longo prazo, mirando os níveis impactados pela emergência climática tendo os festivais como pano de fundo.

Em 2023, o The Town, em parceria com a ONG Gerando Falcões, Gerdau e Fundação Grupo Volkswagen, apresentou o Favela 3D. A iniciativa tem como objetivo transformar as favelas em ambientes dignos, digitais e desenvolvidos. Até o momento, o projeto já atendeu 290 famílias e proporcionou melhorias em saneamento básico, habitação e áreas comuns, bem como programas de capacitação, transporte e culturais.

No que diz respeito aos planos para o próximo ano, Roberta indica que o planejamento da próxima edição do Rock in Rio está em construção. O processo é focado em determinar qual será a pauta que a organização deseja ter com o público. Essa escolha é estratégica a fim de alavancar conversas específicas e engajamento amplificado. “Escolhemos temáticas que nos parecem transversais à sociedade naquele momento em que estamos atuando”, afirma.