O conflito em Israel pode impactar as marcas de alimentos?
Empresas brasileiras como JBS e BRF têm no Oriente Médio um dos focos de atuação, mas por enquanto não se manifestam sobre impactos de uma possível escalada do conflito
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Renan Honorato
23 de outubro de 2023 - 6h00
Em 2022, as exportações brasileiras alcançaram a receita de US$ 17, 74 bilhões para os 22 países do Oriente Médio. Sobretudo os produtos do agronegócio – que respondem por mais de 70% do total – são o principal item de exportação. Com isso, empresas como BRF e JBS – gigantes globais na produção de proteína animal – nos últimos anos vêm estreitando relações com a região. Contudo, em decorrência da guerra recentemente declarada entre Israel e o grupo extremista Hamas abrem-se questionamentos a respeito do impacto para marcas que operam na região.
Em agosto, o diretor e vice-presidente financeiro e de relações com investidores da BRF assinou um comunicado ao mercado anunciando o início das operações na Arábia Saudita. Na joint venture formada pela BRF e pela Halal Products Development Company, 70% da sociedade pertence à empresa brasileira. Na época, Marcos Molina, chairman do conselho da BRF, disse que “a consolidação da joint venture representa um passo muito importante e estratégico para a atuação global da BRF em um mercado de extrema relevância para a companhia”.
A BRF está presente no Oriente Médio há mais de 50 anos, fornecendo produtos para 14 países da região. Entre as principais marcas da companhia, a Sadia é líder de mercado na categoria de frangos. Além disso, é reconhecida como a marca preferida da região com 38% de share entre os consumidores do mercado halal. Por outro lado, nos Emirados Árabes, de acordo com pesquisa da Kantar Brand Footprint 2023, é a terceira marca mais escolhida. Desde 2009, a empresa tem distribuição própria na Arábia Saudita e em 2020 adquiriu uma unidade de processamento de alimentos naquele país.
Em 2022, a JBS adquiriu duas plantas fabris nas regiões do Oriente Médio e no norte da África, o que corresponde a aproximadamente 3% dos negócios da empresa. Ao serem questionadas sobre a representação do mercado em Israel e dos possíveis impactos do agravamento do conflito na região, já que existe um receio global do envolvimento de outros países, tanto a JBS quanto BRF não se pronunciaram até a data desta reportagem.
Para o professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Kanter, as empresas do agronegócio não estão no centro da discussão do conflito em Israel. Apesar de o índice de exportação de produtos alimentícios ser elevado, na maioria dos casos, esses produtos são vendidos de forma regionalizada, com marcas locais. “Seria diferente se estivéssemos vendo a Arábia Saudita ou os Emirados Árabes envolvidos na guerra. Apesar de ser um conflito de ordem humana inominável, em ordem econômica possui impacto pequeno, quase mínimo, para essas essas indústrias”, comenta.
Para o mercado econômico de Israel e da Faixa de Gaza, a influência cultural brasileira no quesito de acessórios e roupas é pequeno. Para Kanter, mesmo a Havaianas que tem mais influência global, não tem apelo regional significativo. Todavia, o especialista acredita que apesar de o impacto ser mínimo, as marcas ainda devem estar atentas ao debate nas redes sociais. “De modo geral, as marcas podem perder o controle da narrativa muito rapidamente por conta de fake news e associações com informações erradas. Então, é preciso trabalhar muito bem a relação das marcas para não permitir que fake news aconteçam”, aconselha.
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