Design de produtos: evolução e futuro em meio a IA
Design de produtos passaram por diversas transformações ao longo dos anos, sendo a inteligência artificial uma das maiores delas
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Amanda Schnaider
31 de julho de 2023 - 6h00
Ao consumir uma simples lata de Coca-Cola, muitas vezes, as pessoas não param para pensar em como ela foi concebida e em como foi desenvolvido o design daquele produto. Apesar de parecer que sempre foi assim, quase todos os produtos que são parte do cotidiano foram pensados e projetados por um designer de produtos, para serem daquela determinada forma.
A disciplina design de produtos foca, justamente, em criar e desenvolver objetos para o consumo da população, sejam utensílios, eletrodomésticos, mobiliários ou até automóveis. Esses produtos devem estar relacionados à resolução de problemas desses consumidores.
“O design de produtos, e mais especificamente o design de embalagens, é onde a máxima ‘form follows function’ está mais presente desde a concepção da disciplina. Essa função deve sempre partir de uma necessidade do consumidor”, complementa a design director da Coca-Cola Latam, Camila Moletta.
Camila revela que no fim do século XIX, a Coca passou a ser vendida em garrafas, para que os clientes pudessem levar a bebida para casa e consumir quando quisessem. Até então, a bebida vendida somente em copos abertos diretamente em estabelecimentos comerciais. “A forma segue uma função e gera uma mudança de comportamento”, reforça, a designer.
Com o passar dos anos e com a evolução tecnológica, a disciplina de design de produtos foi ganhando cada vez mais ferramentas que a auxiliam no desenvolvimento mais rápido e em escala dos produtos, sejam eles físicos ou digitais.
Na visão de Leticia Pettená, cofundadora da consultoria de branding Marcas com Sal, hoje, os designers de produtos tem mais consciência e ferramentas para estudar o usuário e, a partir disso, criar. “Quando pensamos em produtos digitais, principalmente, isso muda tudo. A usabilidade da interface pode se tornar a vantagem competitiva do negócio”.
Nesse contexto de desenvolvimento tecnológico, surge a inteligência artificial e, com ela, a disciplina de design de produtos foi se transformando também. Levi Girardi, CEO e co-fundador da Questtonó, consultoria de design e inovação, pontua que a IA, na verdade, é evolução das ferramentas digitais que os profissionais de projetos passaram a ter nos últimos 20 anos.
“Lá no passado, você projetava usando prancheta, papel e caneta. Com o tempo, você passou a ter acesso às ferramentas de desenho auxiliado por computador e as coisas foram evoluindo”, completa. Segundo Girardi, cada vez mais, numa curva linear, as ferramentas digitais foram ajudando em todo o processo do projeto, inclusive, em projetos colaborativos.
Na visão do presidente da Associação Brasileira de Empresas de Design (ABEDESIGN), Gabriel Lopes, a tecnologia deve ser vista como uma grande ferramenta, uma aceleradora do tempo. “Vejo a tecnologia como uma grande aliada do designer ou de qualquer profissional como um acelerador do tempo”, complementa.
Apesar disso, a explosão da inteligência artificial generativa, muito puxado pelo boom ChatGPT, trouxe consigo uma apreensão por parte de alguns profissionais da área. Isso porque o questionamento sobre a substituição do humano pela IA estava presente em quase todas as discussões a respeito do tema.
Entretanto, o CEO da Questtonó enfatiza que a tendência é que a inteligência artificial para o design de produtos facilite e acelere o processo daquilo com que o profissional não precisa gastar tanto tempo, para que aproveite esse tempo com aquilo que gere valor e diferenciação para o projeto. A cofundadora da Marcas com Sal, Leticia, concorda com Girardi: “Gosto de pensar nas ferramentas de IA como um acelerador das tarefas menos criativas no processo. É um começo que depois vai sendo lapidado”.
Camila, da Coca-Cola, também tem uma visão otimista em relação à influência da inteligência artificial no design de produtos. Para ela, atualmente, há mais oportunidades do que desafios em se utilizar IA para desenvolver produtos. “É o momento de experimentar e aprender”, afirma.
Em março desse ano, a Coca-Cola, criou uma plataforma de I.A. junto a OpenAI e Bain & Company chamada ‘Create Real Magic’. De acordo com a design, a ideia era que pessoas usassem a plataforma com seus asset visuais de arquivo para criar novas artes usando ChatGPT-4. As novas artes criadas foram expostas em um dos maiores billboards do mundo, em Piccadilly Circus, Londres.
No mesmo mês, a empresa também lançou a campanha global “Obra de Arte”, que juntou obras de arte mundialmente reconhecidas com peças de artistas emergentes de todo o mundo, incorporando inteligência artificial de ponta. O filme (veja abaixo) e o conteúdo da campanha foram criados pela Blitzworks.
Apesar disso, a designer da Coca-Cola acredita que esse é só o começo do que será possível fazer com a IA. “Poder contar com uma inteligência coletiva e construir soluções que antes não eram possíveis, aqui penso em personalização, uso inteligente de materiais, impacto no ponto de venda, regeneração, isso vai vir nos próximos cinco anos”, enfatiza.
Leticia, da Marcas com Sal, destaca outras oportunidades na área, como estudo de usuário, usando Bard ou ChatGPT para criar questionários de pesquisa e apoiar na identificação de amostragem; ou até como parte da criação em si, onde se pode conceituar junto com a máquina, vendo como ela faria para não começar do zero, assim como na fase de experimentação dos designs. “Com ferramentas como MidJourney, a parte de fazer aplicações de um produto em um contexto fica mais simples”, exemplifica.
Na visão de Leticia, os desafios estão ligados a capacitação das equipes nas ferramentas, na escrita de prompts e no uso inteligente delas. “Não podemos simplesmente automatizar todo o processo, porque muito provavelmente iremos pasteurizar os resultados”. Segundo ela, é preciso ter uma boa dose de sensibilidade para alcançar a autenticidade, coisa que as ferramentas não têm.
O tempo de aprendizado das ferramentas pelo ser humano é o grande desafio do uso da IA no design, na visão de Lopes, da ABEDESIGN. “Quando falamos de inovação e tecnologia, estamos falando de tempo, estamos falando que o tempo de aplicação da tecnologia é o que há de mais importante nessa relação entre não importa qual aplicação”. Neste sentido, Lopes ressalta que se o profissional não quiser ser substituído por um robô, ele não deve trabalhar como um. “Você tem que continuar com pensamento crítico”, completa.
Outro desafio, para a cofundadora da Marcas com Sal, é que muitos produtos digitais deixarão de ter interfaces visuais e passarão a ser conversacionais. Na sua visão, isso muda a dinâmica do design e perfil de profissional necessário para esse tipo de criação.
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