Guga Kuerten: Lições do tênis ao marketing
Tricampeão de Roland Garros relembrou momentos cruciais nos bastidores de sua trajetória e pontos em comum desse percurso com questões enfrentadas pelos CMOs
Tricampeão de Roland Garros relembrou momentos cruciais nos bastidores de sua trajetória e pontos em comum desse percurso com questões enfrentadas pelos CMOs
Roseani Rocha
22 de maio de 2023 - 6h00
Gustavo Kuerten é do tipo raro de pessoas que já conquistaram tudo na carreira, mas mantêm um grau de humildade que cativa qualquer interlocutor. Assim, ele foi aplaudido de pé pelo público presente no MBN 2023, no último fim de semana, ao traçar – na palestra “Bastidores de uma história campeã” – paralelos entre a sua dura jornada até se tornar Jogador do Ano, em 2000, e tricampeão em Roland Garros e certas situações no dia a dia que muitos profissionais de marketing também já se viram tendo de encarar.
Em conversa com o editor-chefe do Meio & Mensagem, Alexandre Zaghi Lemos, mais de uma vez os olhos de Guga marejaram ao lembrar do pai, que o incentivou a iniciar a prática do esporte aos seis anos de idade e faleceu numa quadra de tênis, sem tê-lo visto conquistar os maiores títulos do mundo. Guga também exaltou o papel fundamental da mãe em apoiar que ele seguisse a carreira, mesmo após a morte do pai – o jeito de dizer sempre “a mãe fazia isso”, “a mãe fazia aquilo”, dava impressão de que cada um na plateia conhecia de perto dona Alice Kuerten.
Logo no início da apresentação, ao ser questionado sobre possíveis paralelos entre o que viveu nas quadras e a vida de profissionais do marketing, que não raro também têm que mudar de estratégias “durante o jogo”, Guga respondeu que “é preciso gostar muito de encrenca, de se lambuzar nos desafios e imprevistos”. Mas, também, “ter carinho por querer resolver” os problemas que aparecem.
E eles foram muitos. Um dos primeiros foi superar psicologicamente a perda do pai e seguir no projeto de ser jogador profissional iniciado pelo próprio Aldo Kuerten que foi quem convenceu o técnico Larri Antônio dos Passos, a treinar o então menino. Depois, quando já começava a ter bom desempenho, mas as viagens do adolescente já eram para o exterior – logo, mais longas e mais caras – a mãe era quem com uma brochura com seu “currículo esportivo” ouviu dezenas de “nãos” ao bater na porta de diversas empresas, em busca de patrocinadores. Num filme para o último Dia das Mães, feito com um de seus atuais parceiros comerciais, a Genial Investimentos, Guga conta que a mãe esteve prestes a vender a própria casa, para que ele continuasse sua trajetória.
Guga relembrou alguns dos momentos cruciais da carreira, já quando havia começado a galgar posições nos rankings dos torneios mais importantes do mundo e começava, portanto, a ter de encarar seus próprios ídolos, como os norte-americanos Andre Agassi e Pete Sampras. Foram nesses momentos em que tinha de tomar uma decisão: dizer “não consigo” ou “vou me preparar para isso”. Qualquer semelhança com o que se passa em algum momento na vida de qualquer CMO não é mera coincidência, portanto.
Outros paralelos, colocados por Guga, diziam respeito à persistência (ele passou meses “perto” de ser o melhor do mundo, até conseguir efetivamente isso), a saber lidar com as frustrações e tensões – “até o Federer ficava tenso”, brincou em relação ao tenista suíço. Outro ponto ressaltado por Guga, a propósito, foi o quanto o comprometimento com os resultados não pode chegar ao extremo de tirar o prazer pelo que se faz. Em uma dessas fases mais tensas, ele andava perdendo partidas, e a saúde mental, até que uma conversa longa com ela, novamente “a mãe”, o fez lembrar que era preciso voltar a “jogar se divertindo”, e aí sim houve o reencontro com as vitórias.
“Tudo na vida depende de exemplos e educação” e “só parece que estamos jogando sozinhos”, foram frases do tenista para se referir a sua relação com as marcas, que nem sempre foi fácil. Ele lembrou caso de um patrocinador que o abandonou, às vésperas de um Natal, quando ele até superava as expectativas de desempenho no acordo. E falou do impacto que um “parceiro” abandonando o barco pode ter na autoestima e confiança.
Mas, felizmente, ele superou “os piores meses da minha vida” e vieram outras marcas. Os patrocínios, que no início eram para coisas tão básicas quanto pagar passagens e alimentação, ao longo do tempo deram a estabilidade necessária à carreira. Hoje, Guga, que além da Genial é um dos embaixadores da grife esportiva Lacoste, fundada pelo tenista francês René Lacoste, pontua que esses apoios devem vir na medida certa, já que “até água demais mata planta”.
Com seus rituais para se sentir pronto, além, principalmente, de todo esforço de trabalho, repetição e vontade de vencer, Guga se tornou ele próprio uma marca forte. Tanto que parou de jogar em 2008 e ainda é hoje uma importante referência esportiva e social, com seu Instituto Gustavo Kuerten. O jovem dispensado do serviço militar porque “não podia fazer esforço físico” lembrou aos CMOs no MNB que é preciso força quando as dúvidas e incertezas fatalmente vêm ao se ter de enfrentar novas situações.
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