Opinião: Aos formandos de 2015
Mas, acredite, por mais balela que pareça, historicamente as crises inventaram profissões e uma delas foi a nossa
Mas, acredite, por mais balela que pareça, historicamente as crises inventaram profissões e uma delas foi a nossa
Eduardo Tracanella
1 de setembro de 2015 - 10h16
São Paulo, 31 de agosto de 2015
Caro estudante de publicidade, tenho pensado em você.
Não só porque sou solidário com seus receios e anseios. Mas porque acho que você é parte da solução.
Ainda me lembro do dia em que decidi pela publicidade. Não foi algo tão planejado assim, foi quase instintivo. Meu “pai-teste” vocacional me indicava a engenharia. Meu “autoteste” vocacional me levava ao jornalismo. Mas o Nizan, o Washington e o Petit me trouxeram para a publicidade.
A paixão falou mais alto. Ainda por algo incerto, mas com características notoriamente apaixonantes. Se por um lado eu não fazia a menor ideia de como as coisas seriam, por outro já me fascinava pela capacidade que nossa profissão tem de construir memória afetiva, mudar comportamento e contar histórias do zero e para sempre.
Quando entrei na publicidade, meu sentimento era totalmente ambíguo. Aquilo que me fascinava, ao mesmo tempo me assustava. Tinha medo de fracassar, de fazer coisas sem a menor importância. Afligia-me a possibilidade de nunca conseguir ser relevante e protagonista em algo minimamente respeitável. E, confesso, ainda tenho esse medo. De um jeito diferente, talvez por outros motivos, mas tenho.
Ao construir a nossa história profissional estamos construindo a nossa história de vida. Não dá para separar as coisas. Nosso cartão de visita não é mais um símbolo de status. É sobre o que somos e o que queremos ser. Um aprendizado importante de uma matéria que você não vai ter na faculdade. Porque não se aprende na sala de aula e sim ao viver.
Viver cada momento. Até mesmo esse, onde sua formatura e a crise furtivamente se encontram. Bem na sua vez. Bem agora.
Sentimento antagônico esse, né? Acelerar no gelo.
Mas, acredite, por mais balela que pareça, historicamente as crises inventaram profissões e uma delas foi a nossa.
Em momentos como esse as empresas precisam ficar mais leves, faz parte. Mas nos bons lugares para se trabalhar, naqueles com os quais vale a pena se importar, sabe-se que fazer regime de talento é ficar fora do peso.
Não tem jeito. Sempre foi assim e sempre vai ser. O que diferencia as empresas no nosso mercado é essencialmente o capital humano. As pessoas são as empresas. E se por um lado essa é uma boa notícia para você, por outro, na mesma medida, aumenta a sua responsabilidade.
Bem-aventurada a empresa que conseguir atrair e desenvolver o melhor dos melhores talentos. Bem-aventurado o talento que conseguir devolver tudo isso em troca.
É nesse pedaço de minha singela carta que você, jovem publicitário, entra como solução. Acho que já houve mais paixão por fazer publicidade. E, talvez, que as pessoas já tenham sido mais felizes ao fazer.
Hoje, sinto, de certa forma, um “tanto faz” no ar. Ficou tudo tão racional e burocrático, que o processo tira repetidamente a energia das pessoas, deixando a felicidade pelo caminho.
“Quer saber? Tanto faz, agora quero que vá logo pro ar.”
Precisa-se de gente com paixão. Com sede para dominar o mundo, mesmo sabendo o quanto isso pode soar babaca vindo de um publicitário.
Lembre-se do seu primeiro dia de aula. Não do último. Do primeiro. Por que você escolheu fazer propaganda? Com tanta coisa para cuidar, por que cuidar de marcas? Deve existir um motivo que vá muito além das contas a pagar. Sempre tem, mesmo que lá no fundo. Porque contas você vai pagar para o resto da vida e vai custar caro, mas o preço do que você vai fazer com sua vida é muito maior, acredite.
A vida é curta. Se você ainda não faz o que gosta, ao menos, tente gostar do que faz.
Pode até existir crise de talento, mas sempre vai existir espaço para o talento, mesmo na crise.
(*) Eduardo Tracanella é superintendente de marketing institucional do Itaú Unibanco e escreve mensalmente para Meio & Mensagem. Este artigo está publicado na edição 1675, de 31 de agosto de 2015.
Compartilhe
Veja também
Os 25 maiores anunciantes do mundo, segundo o Ad Age
Ranking mostra a Amazon, pelo terceiro ano consecutivo, na liderança; empresa investiu US$ 20,3 bilhões em compra de mídia em 2023
Confira as principais tendências para o mercado de games em 2025
As tendências de games foram apresentadas na primeira edição do B2Game, evento realizado pela Cheil Brasil e Xdome Gamer Lab, arena gamer da Allos