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Voltar a gerar receita: o grande objetivo da Americanas S.A em 2024

Leonardo Coelho, atual CEO, comenta por que os mecanismos de governança não evitaram a fraude bilionária e os planos de recuperação, já mirando crescimento, com a chegada de Eduardo Noronha, Paulo Drago e Tiago Abate à operação


1 de julho de 2024 - 6h00

Leonardo Coelho, atual CEO da Americanas S.A. (Créditos: Divulgação)

Desde a descoberta da fraude de R$ 25,2 bilhões que abalou a Americanas S.A, em 2023, a empresa tem tomado medidas para recuperar sua estabilidade e fortalecer suas operações. Leonardo Coelho, atual CEO da empresa (e entrevistado especial da edição desta semana do Meio & Mensagem), detalha as ações estratégicas e os novos rumos que a Americanas está adotando.

Enquanto isso, na semana passada, o CEO acusado de liderar as ações que burlaram o sistema de governança da companhia, Miguel Gutierrez chegou a ser preso em Madri, mas solto no dia seguinte pelas autoridades espanholas – ele tem cidadania daquele país. Além dele, estava foragida e na lista da Interpol a diretora Anna Christina Ramos Saicali, que prometeu se apresentar às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa, no domingo, 30, uma vez que a Justiça havia concordado, com isso, em revogar seu pedido de prisão preventiva.

Estancando a crise e estruturando a recuperação

Leonardo Coelho explica que as ações para sanar o negócio, desde que assumiu, foram divididas em três grandes blocos. O primeiro foco foi “estancar a crise”, dividido em três frentes principais: a investigação, a comunicação com todas as esferas relevantes (CVM, Ministério Público, Polícia Federal e Comitê Independente de Investigação) e a CPI. Um segundo passo, liderado pela CFO Camille Faria foi cuidar da recuperação judicial em si, buscando distribuir a dor de forma igual entre todos os participantes, o que foi crucial para resolver a estrutura de capital da companhia. Por fim, a empresa se esforçou para blindar suas operações, permitindo que as equipes operacionais continuassem focadas em suas tarefas, longe do desgaste da investigação e do processo judicial.

Com a fraude endereçada e as investigações próximas do fim, o grande objetivo da empresa em 2024 é voltar a gerar receita operacional. Cada unidade de negócio, desde o varejo físico até as plataformas digitais e a Ame, têm um catálogo de ações específicas para impulsionar essa geração de caixa.

O terceiro bloco, “retomada do crescimento”, já começou e ganhará força no segundo semestre. Três novos executivos foram contratados para ajudar tanto na geração de caixa quanto no crescimento. Paulo Drago e Tiago Abate estão focados na reestruturação e criação de novas avenidas de crescimento, enquanto Eduardo Noronha está trabalhando para reforçar a cultura de meritocracia e excelência no atendimento entre todos os mais de 30 mil colaboradores.

Na entrevista ao M&M, ele também comentou o papel resiliente da marca, sob comando do CMO Washington Theotonio, e sobre os planos de fortalecer ainda mais essa construção aproveitando o aniversário de 95 anos da Americanas, em setembro.

Governança e prevenção de fraudes

Coelho reconhece que a Americanas já possuía instrumentos de governança robustos, certificados no Brasil e nos Estados Unidos. No entanto, a fraude aconteceu devido à manipulação dolosa das informações que abasteciam os mecanismos de governança. “Quando você alimenta esses instrumentos com informações fraudadas, não tem jeito”, explica. Ele compara a situação à tragédia da Germanwings, em 2015, quando o copiloto usou seu conhecimento dos sistemas de controle para causar um desastre. O executivo afirma que os sistemas de governança não irão mudar, mas uma questão prática, agora diferente é que tanto a CFO quanto o CEO se reportam de forma independente ao Conselho da empresa, de modo que um “vigie” o trabalho do outro.

Situação atual e perspectivas de futuro

Recentemente, a Americanas divulgou, em Fato Relevante, números não auditados que mostram um retorno à geração de ganhos antes de juros, taxas, depreciação e amortização (Ebitda na sigla inglesa) no primeiro trimestre. Embora isso seja um marco importante, Coelho enfatiza que ainda há muito a ser feito para que a empresa recupere completamente sua capacidade de geração de lucro.

O varejo físico tem sido um motor de crescimento, com esforços contínuos para organizar as lojas e ajustar os produtos às necessidades dos clientes. Paralelamente, há um redimensionamento dos esforços no digital, que agora representa cerca de 25% do GMV. A estratégia é transformar o digital em um canal robusto para a indústria vender, mais como um “partnerplace” do que apenas um marketplace.

Evitando números específicos, que pudessem configurar guidance, Coelho diz que a meta é reverter completamente a situação até dezembro de 2025 e alcançar estabilidade de resultados até dezembro de 2024. O crescimento já começou, de forma tímida, com testes em praças resilientes como o Nordeste e o interior do país. Esses testes ajudarão a empresa a ajustar suas estratégias para uma expansão mais agressiva em 2025.

Competição e desafios no varejo

Para o executivo, o ano de 2024 tem sido difícil em termos de concorrência, especialmente com a competição de vendedores que não pagavam impostos (alusão aos marketplaces asiáticos, principalmente), algo que começa a ser corrigido com a sanção  da chamada “Taxa das blusinhas”, que começa a valer em agosto e faz incidir imposto de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50. Coelho acredita que essa mudança é um passo na direção certa, mas enfatiza que o varejo brasileiro precisa competir em termos iguais com os internacionais. “Não queremos condições privilegiadas, apenas competir nos mesmos termos”, afirma.

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