COP30: veículos buscam rigor técnico e linguagem acessível
Veículos brasileiros antecipam temática no planejamento e preparam cobertura multiplataforma com desafio de traduzir abordagem técnica do evento
Os motores para a cobertura da COP30, que tem início em Belém, no Pará, na próxima segunda-feira, 10, começaram a ser aquecidos ainda no ano passado, logo depois que o Brasil foi anunciado como sede da Conferência em dezembro de 2023.

Imprensa brasileira se prepara para cobertura da COP30 com oportunidade de evidenciar problemas e soluções do País no cenário global (Crédito: Zulfugar Graphics/Shutterstock)
A ocasião ganha ainda mais tônica uma vez que a Amazônia estará no centro das discussões. Neste sentido, o jornalismo profissional encara a missão de abraçar a temática do futuro do planeta de forma transdisciplinar, aliando o rigor técnico dos debates ao esforço de levar uma linguagem acessível às audiências.
#48: O que esperar da COP30
Virgílio Abranches, vice-presidente de Jornalismo da CNN Brasil, indica que o time de cobertura do evento foi definido ainda cedo, dando tempo para o estudo aprofundado do tema. O time inclui especialistas em meio ambiente, como Pedro Côrtes, e a consultora Patricia Ellen, além dos âncoras Márcio Gomes, Tainá Falcão e Carol Nogueira.
O grande pano de fundo da cobertura do evento é mostrar a COP “na prática”, indica o VP, com um cunho de educação de diversas esferas do público. Serão montados dois estúdios no local: um na Casa Brasil e outro na Blue Zone, espaço nobre para a imprensa global.
“Alguns têm uma sensação de que é um movimento muito ideológico, ambientalista num nível de criminalizar quem produz. Por outro lado, os produtores entendem que eles fazem muita coisa e não são mostrados”, diz. “O nosso objetivo também é cobrir a COP na prática e a COP possível. No fim das contas, os temas de sustentabilidade e desafios climáticos caminham em paralelo com o desenvolvimento econômico”.
Desde o ano passado, o Estadão vem intensificando a cobertura climática em torno do eixo “Era do Clima”, programa semanal que reúne entrevistas com empresários e economistas sobre interseções entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade no Brasil. A estratégia macro envolve não apenas a editoria de meio ambiente, mas toda a cobertura de economia, mitigação, cidades e adaptação, por exemplo, relacionadas a episódios cotidianos ligados às mudanças climáticas.
Os grandes desafios de uma cobertura do tipo envolvem levar, com uma linguagem acessível, direta, porém com rigor técnico e precisão, a importância dessa pauta climática na discussão dos mais variados assuntos, segundo Victor Vieira, editor de Metrópole do Estadão. O veículo investe em ser uma plataforma de encontro de diferentes atores que contribuem para o debate, como gestores públicos, economistas, investidores, cientistas, ativistas e jovens.
A cobertura será apresentada pelo Governo do Pará, Hydro e JBS, e o projeto editorial para a COP30 reúne uma série de reportagens especiais no Portal Estadão sobre desafios e oportunidades de crescimento sustentável para a região amazônica, além de vídeos curtos sobre temas relevantes da cobertura e conteúdos exclusivos para a Rádio Eldorado, entre colunas semanais e um programa de 13 episódios sobre sustentabilidade, inovação e desafios climáticos.
Outro desafio reside nas mudanças de última hora dada a magnitude e caráter do evento, envolvendo a presença de autoridades ou logística, por exemplo, naturais do jornalismo.
Cobertura multiplataforma
À medida em que há uma maturidade crescente da audiência sobre o tema, existem esforços direcionados para tratar a COP30 sobre diferentes vieses e formatos a fim de não apenas informar, mas cobrar e prestar um serviço público diante da urgência. A Globo vem exibindo séries e reportagens especiais em programas como o Jornal Nacional e Fantástico, percorrendo o Brasil e mundo.
A empresa ainda prepara uma cobertura multiplataforma junto a uma equipe de cerca de 40 profissionais in loco para telejornais na TV Globo e GloboNews, além do g1, que vem publicando diariamente vídeos explicativos sobre os principais temas ambientais em pauta.
A CNN Brasil terá uma equipe dedicada à cobertura nas redes sociais, com foco na produção nativa digital para alcançar novos públicos, salienta Abranches. Estratégia também eficaz na tradução das temáticas em linguagem mais acessível. “Traçamos uma estratégia de produção nativo digital para que tivéssemos uma reverberação ainda maior, até em camada da população que não acompanha canais de notícia como a CNN por ser um canal de hard news”, detalha.
Destaque também para o jornalismo de nicho. O Canal Rural prepara uma cobertura robusta da COP30 para o agronegócio. Serão mais de 60 horas de cobertura com formatos de acordo com o meio de transmissão: na TV, o foco será nos telejornais e faixas da grade, enquanto no YouTube e na Fast TV, o público poderá acompanhar a COPTV do Agro, transmitida ao vivo do estúdio do Canal Rural instalado na COP30.
Já no impresso, por exemplo, os jornais Gazeta e Diário do Litoral, do Gazeta Media Group Brasil (GMG), tiveram capas dedicadas à COP30 ainda em outubro. O público teve acesso aos detalhes da cobertura e conteúdos previstos durante e após a Conferência. A Gazeta terá 5 jornalistas in loco.
Oportunidade para a imprensa nacional
Com a COP sendo realizada no Brasil, o papel da imprensa nacional ganha relevância internacional. De acordo com os executivos, o jornalismo profissional tem a oportunidade de valorizar a pauta climática no país e de trazer o entendimento local que se tem da realidade brasileira, apresentando não apenas os problemas, mas evidenciando soluções do ponto de vista socioambiental.
“A imprensa precisa fazer o papel de dar um significado real do que é ter um evento desse no Brasil e a importância de ser em Belém e na região amazônica”, defende o VP de jornalismo da CNN Brasil. Abranches salienta, ainda, a oportunidade de aproximar discussões de todo o País do eixo Sudeste. “Normalmente podem parecer discussões muito distantes. A COP é uma oportunidade de chamar a atenção para esses desafios”, complementa.
Neste sentido, o editor de Metrópole do Estadão corrobora que a cobertura o papel do jornalismo, inclusive, para inspirar ações concretas do ponto de vista macro e micro da vida da população.
“É uma oportunidade única pro jornalismo profissional para valorizar essa pauta, a cobertura climática e o debate climático no País trazendo o entendimento local que nós temos da realidade brasileira e do nosso potencial ambiental, tecnológico, econômico imenso, mas também profundas desigualdades sociais”, finaliza.