IA generativa na música: o que dizem as plataformas
Deezer e Spotify detalham ações para remover conteúdos e preservar direitos de artistas

Capa do álbum da banda The Velvet Sundown (Crédito: Divulgação)
Nas últimas semanas, a produtora Blow Records, lançada em 2024, que aplica inteligência artificial generativa, um ramo da IA focado na criação de novos conteúdos a partir de dados existentes como texto, imagem, áudio e vídeo, alcançou grande sucesso no TikTok com releituras de hits do funk com remixes retrô.
Nas principais plataformas de streaming musical e no YouTube, o perfil, que também assina como Shawlas, se descreve como um projeto de músicas sintéticas que ganhou destaque nas redes sociais por sua proposta inovadora.
“Dedica-se a reviver a magia da música das décadas de 1960, 1970 e 1980, mesclando diferentes letras e ritmos para criar uma ponte sonora entre gerações. O resultado, como muitos já sabem, são obras atemporais que inspiram e despertam emoções profundas em amantes da música de todas as idades”, afirma.
Porém, na área de créditos, a produtora apresenta informações de forma irregular, deixando de mencionar os compositores da música original, o que levanta questões legais, como a divisão de lucros.
@blow.records Ouça a versão completa em nosso canal. Link na bio desse perfil #anitta #anos70 ♬ som original – BLOW RECORDS
Outro caso que viralizou é o da banda de IA The Velvet Sundown, que alcançou mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify e mais de 62 mil seguidores.
O grupo se apresenta como “um projeto de música sintética guiado pela direção criativa humana, composto, dublado e visualizado com o apoio da inteligência artificial”.
“Todos os personagens, histórias, músicas, vozes e letras são criações originais geradas com a ajuda de ferramentas de inteligência artificial utilizadas como instrumentos criativos. Qualquer semelhança com lugares, eventos ou pessoas reais, vivos ou mortos, é pura coincidência e não intencional. Nem totalmente humano. Nem totalmente máquina. The Velvet Sundown vive em algum lugar no meio disso”, afirma.
Na Deezer, os álbuns da banda também estão disponíveis, mas são sinalizados como conteúdo gerado por IA. A notificação informa: “Algumas faixas deste álbum podem ter sido criadas usando inteligência artificial”.
O que dizem as plataformas
A Deezer avalia que o uso da inteligência artificial generativa na indústria musical tem sido, em muitos casos, voltado à manipulação de plataformas de streaming.
Embora as músicas totalmente criadas por IA representem apenas cerca de 0,5% das reproduções na plataforma, a empresa identificou que até 70% dessas execuções são fraudulentas.
Para lidar com esse cenário, a empresa adotou um sistema automatizado de detecção de conteúdos gerados por essa tecnologia.
Segundo Aurelien Herault, chief innovation officer da Deezer, quando esse tipo de conteúdo é identificado e sinalizado, ele é removido das recomendações algorítmicas e não é incluído em playlists editoriais.
“Nosso objetivo é oferecer transparência aos nossos usuários, removendo conteúdos 100% gerados por IA das recomendações algorítmicas, dando o primeiro passo para garantir que essas faixas não diluam de forma significativa o fundo de royalties”, afirma Herault.
A plataforma explica que, atualmente, faixas geradas por inteligência artificial ainda são monetizadas. No entanto, aquelas criadas integralmente por IA são excluídas de mecanismos de descoberta e curadoria editorial, como forma de conter abusos e preservar os interesses dos criadores humanos.
Questionada sobre conteúdos que simulam vozes, estilos ou melodias de artistas reais, a Deezer afirma que, por ora, só é possível detectar e sinalizar músicas 100% geradas por IA.
Nos casos em que há suspeita de imitação ou violação de direitos autorais, a empresa segue o processo previsto pela DMCA (Digital Millennium Copyright Act), cabendo aos detentores dos direitos notificarem e resolverem disputas por meio dos canais legais apropriados.
Quanto à identificação dos autores ou modelos usados para gerar músicas com IA, a empresa explica que essa tarefa é tecnicamente inviável.
“Na verdade, ninguém pode realizar essa operação sem ter acesso direto ao modelo generativo utilizado. Mesmo assim, não existe uma relação simples ou linear entre as músicas do conjunto de treinamento e os conteúdos gerados”, conclui o porta-voz.
Já o Spotify afirmou, por meio de nota, que vem intensificando seus investimentos para garantir que a inteligência artificial não seja utilizada de forma abusiva na plataforma, seja para enganar ouvintes, imitar artistas sem consentimento ou disseminar conteúdos classificados como spam.
“Se o conteúdo for enganoso, considerado spam ou infringir direitos relacionados ao nome e imagem de alguém, incluindo clones de voz, performances similares ou imitações de estilo, ele será removido”, informa.
No entanto, atualmente a plataforma não sinaliza músicas criadas com IA generativa ou que utilizam a tecnologia em parte do processo criativo.
Segundo o Spotify, esse processo ainda está em fase de amadurecimento e, por ora, o foco está na análise do comportamento dos usuários e no monitoramento de abusos.
A empresa esclarece ainda que um perfil “verificado” indica apenas que o artista se registrou no programa Spotify for Artists, o que não atesta a autenticidade artística nem representa qualquer curadoria editorial por parte da plataforma.
A plataforma também explica que apenas gravadoras e distribuidoras têm acesso à ferramenta de envio de músicas. Ou seja, não é qualquer pessoa que pode subir conteúdo diretamente.
Quando há inconsistências nos documentos enviados ou ausência de informações adequadas, a responsabilidade recai sobre essas empresas. Nesses casos, a empresa realiza investigações e pode tomar medidas, como a suspensão do conteúdo ou a solicitação de correções.
Por fim, o Spotify reforça que qualquer usuário, incluindo os próprios artistas, pode denunciar conteúdos suspeitos.