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Mídia

O furo na internet e a venda de revistas

Veículos impressos perdem oportunidade de ampliar engajamento ao não distribuirem corretamente conteúdo exclusivo nas redes


7 de março de 2016 - 8h00

Eram 10h da quinta-feira, 3, e o perfil do Facebook da revista IstoÉ adiantava a capa do fim de semana, que, geralmente está disponível aos sábados.

A suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral seria nas próximas horas o assunto que agitaria a internet com elementos capazes de fazer Brasília tremer.

Tão logo o furo de reportagem estava dado, de um lado, blogs e sites tentavam desqualificar a reportagem. De outro, oposicionistas aplaudiam a notícia revelada e um grupo menor celebrava “a força do jornalismo impresso”. No entanto, se comparado o potencial de alcance de um post publicado em uma rede como o Facebook e o aumento da tiragem de uma revista em uma edição especial fica um questionamento: a força é da marca jornalística que publicou uma notícia exclusiva ou do interesse de fontes de utilizar os veículos como forma de distribuir informações?.

Somente no perfil do Facebook da IstoÉ, mais de 70 mil pessoas haviam compartilhado a notícia até a manhã desta segunda-feira, 7. Meio & Mensagem analisou, com base nos dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), o aumento na circulação de algumas revistas em um período que se deu um furo ou noticiou-se um escândalo e mesmo considerando o potencial de um mesmo exemplar alcançar até 5 pessoas constata-se-que o alcance via papel está muito abaixo do potencial da internet.

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Em setembro de 2012, a capa da revista Veja trazia Marcos Valério revelando os segredos do mensalão e citando o nome do ex-presidente Lula. Naquele mês, o adicional foi de 10,3 mil exemplares. Já a notícia publicada no Facebook foi compartilhada mais de 30 mil vezes.

Naquele mesmo ano, em abril de 2012, quando a Época revelou as suspeitas de tráfico de influência internacional sobre o ex-presidente Lula houve uma redução de 960 exemplares da revista no mês em questão. Enquanto na rede a informação chegou a milhares de leitores adicionais.

A capa de Veja de setembro de 2014, em que Paulo Roberto Costa revelava nomes dos beneficiários de esquema de corrupção na Petrobras, trouxe um adicional de 22.887 mil exemplares à conta daquele mês.  Aumento de tiragem impressa a parte, a grande questão levantada por especialistas é a dificuldade que muitos veículos ainda encontram na hora de trabalhar suas notícias exclusivas nas dezenas de plataformas de distribuição como Facebook, Twitter, Instagram, Linkedin e outros.

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De acordo com Caio Túlio Costa, cofundador da Torabit e professor de pós-graduação da ESPM, o furo continua sendo um trunfo editorial importante, mas é cada vez menos uma propriedade da plataforma. “Existe um mérito da IstoÉ de ter trabalhado a informação na internet, mas os veículos em geral não conseguem explorar o potencial que o meio digital traz e ainda pensam de forma analógica ao distribuir seu conteúdo”, explica.

Segundo Túlio Costa, não existe uma interação mais complexa e planejada o que reduz o potencial de distribuição dos veículos. “No momento em que você visa a superdistribuição da notícia da internet, algo feito pelo leitor, o que as empresas fazem é usar um pay wall ou apenas replicar matérias dificultando a ampliação do engajamento”, diz.

A pedido de Meio & Mensagem, Ana Brambilla, especialista em jornalismo digital e professora da Casper Líbero, analisou a estratégia da IstoÉ ao divulgar sua última capa nas redes. De acordo com Ana, o uso que a revista fez do material foi eficiente, mas limitado. “O conteúdo bombástico sobre a delação premiada não teve toda a força refletida nas redes. Vi a capa reproduzida e fixada com destaque nos perfis e uma frase do personagem central como texto de um post. Foi algo muito próprio do veículo que ainda usa redes sociais ‘para cumprir tabela’ e tentar levar usuários para o seu próprio site, publicando o endereço da URL mesmo sem que haja a possibilidade de fazer link”, explica.

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A especialista ainda indica que a capa renderia um trabalho de divulgação e, sobretudo, de engajamento a partir da capitalização das declarações de Delcídio do Amaral. “Um exemplo seria a publicação de pílulas de texto sobre foto, sem link, para fins de compartilhamento. Ainda que tenha feito o que sempre faz – e o que os veículos fazem, de modo geral -, que é a publicação de links acompanhados por um breve texto, a IstoÉ registrou uma quantidade considerável de comentários e outras ações de engajamento nas redes”.

Ana ressalta que o sucesso de comentários foi resultado mais do peso do conteúdo em si do que pela exploração de formatos próprios e de uma estratégia inovadora, adequada à natureza das redes sociais. Na visão de Mário Simas Filho, diretor de redação da IstoÉ, o que ficou provado com a capa da delação de Delcídio foi a força do jornalismo de qualidade. “Sem dúvida, as vendas nas bancas aumentam muito com matérias como essa e confirma a tese de que a questão da informação na internet dá um outro impacto para a revista”, diz Simas Filho. O jornalista reforça que “o impresso continua forte, não está morto”.

A ansiedade do leitor na internet

Neste domingo, 6, a Folha de S.Paulo comemorava o recorde de acesso ao seu site com os fatos envolvendo o presidente Lula, na sexta-feira. Na mesma edição, a ombudsman do jornal, Vera Guimarães, chamava a atenção para o fato de os grandes futos terem vindo de notícias digitais.

“A mudança é inevitável diante da supremacia do digital sobre o papel quando o assunto é quente. A boa nova é que os sites noticiosos aperfeiçoaram de modo notável suas coberturas ao vivo”, escreveu.

No entanto. a ombudsman ponderou a forma como a Folha conduziu a repercussão em sua home. O site testou um novo formato e concentrou toda a apuração em único texto. “Entendo o raciocínio, mas acho que não funcionou. O problema é que, pela lógica do digital, cada chamada ou link normalmente conduz a conteúdos diferentes. No meio da manhã, havia seis subtítulos, mas cinco deles levavam ao texto da manchete".

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