Mídia

Por que todos os streamings querem Chaves e Chapolin?

Além de Globoplay, Prime Video e +SBT, Netflix também exibirá séries; conexão emocional e histórias atemporais explicam sucesso

i 24 de julho de 2025 - 11h47

Chaves

Seriado Chaves estará disponível em 4 plataformas de streaming e 2 canais lineares a partir de agosto (Crédito: Reprodução)

Atualizada às 14h07

Uma das principais “novidades” recentes de alguns dos maiores streamings de conteúdo no Brasil são dois seriados da década de 1970, que foram reprisados incontáveis vezes, mas que ainda conservam uma legião de fãs capaz de fazer com que as produções ganhem sobrevida mesmo em meio a tantas opções de séries, filmes, documentários, e outros tipos de conteúdo.

Além do SBT, canal de TV que apresentou Chaves e Chapolin aos brasileiros, ainda na década de 1980 – e que sempre foi a ‘casa oficial’ das produções mexicanas no País – Chaves e Chapolin, nas últimas semanas, ganharam outras janelas de transmissão no Brasil.

Desde o último dia 21, Chaves, Quico, Chiquinha e outros famosos personagens da Vila podem ser assistidos pelos assinantes do Globoplay. A mesma coisa acontece com Chapolin Colorado.

A plataforma da Globo adquiriu 88 episódios de cada uma das séries que, além do streaming, também podem ser assistidas em uma faixa matinal no canal Multishow. A janela televisiva, aliás, já tinha exibido Chaves e Chapolin, de 2018 a 2020.

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Além do universo do streaming e canais da Globo, o Prime Video também terá Chaves e Chapolin. As aventuras do super-herói já estão disponíveis desde o último dia 21 na plataforma da Amazon. Já os episódios de Chaves estreiam na próxima segunda-feira, 28. O Prime Video promete um cardápio mais robusto, com cerca de 500 episódios de ambas as séries.

A essa leva, junta-se a Netflix, que confirmou nesta quinta-feira, 24, que voltará a exibir Chaves a partir de 11 de agosto. A gigante do streaming também já contou com a série em sua plataforma, há nove anos e, agora, decidiu apostar novamente no apelo do conteúdo.

 

O sucesso de Chaves e Chapolin

O interesse de diversas plataformas de streaming em seriados tão antigos, que já foram exibidos a exaustão, chama a atenção. Profissionais do segmento de comunicação elencam a nostalgia e a forte conexão emocional como os ingredientes principais que fazem com que um produto de décadas atrás ainda seja tão valioso.

Priscila Bernardi, business director da Cheil Brasil, destaca a questão geracional: muitas pessoas cresceram assistindo Chaves e Chapolin diariamente na TV, em uma época em que a TV aberta era a única opção de entretenimento para muita gente. Isso gerou um elo consistente com as histórias e personagens.

“Além disso, Chaves tem um humor universal e atemporal, o tornando acessível e interessante para pessoas de diferentes idades e perfis. As situações e seus personagens têm aderência mesmo aos novos públicos e novas gerações. Chaves é pop e se tornou um ícone cultural em toda a América Latina”, destaca a profissional.

O fato de ser um ‘ícone cultural’, na classificação de Priscilla, faz com que Chaves seja não só desejado no âmbito do conteúdo, como também na publicidade. A própria Cheil fez, no ano passado, uma campanha para a Samsung, destacando os devices de uma casa conectada e habitada por personagens da famosa Vila. Relembre:

Além da Cheil e Samsung, outra marca a recorrer ao universo do Chaves foi a Ypê, que recriou a Vila, com atores brasileiros interpretando os personagens e os dubladores originais do seriado, para apresentar a promoção anual da marca. Em uma campanha criada pela DPZ, os personagens se viam diante da possibilidade de ficar milionários, brincando com as situações que a nova condição de vida permitiria. Veja:

Além da conexão emocional, o hábito de consumo no streaming também propicia o resgate de conteúdos antigos, como pontua Álvaro Barros, cofundador da OffGrid, programadora e distribuidora de conteúdo para TVs conectadas.

Segundo ele, a TV conectada e o consumo sob demanda se posicionam como experiências mais tranquilas e contínuas, diferente do consumo acelerado das redes sociais. Isso, segundo Barros, favorece conteúdos com narrativa clássicas e ritmo mais cadenciado.

“Outro motivo é o alcance massivo, pois com o crescimento da base de TVs conectadas no Brasil (hoje, são mais de 40 milhões), os conteúdos já conhecidos ganham nova vida, agora com capacidade de serem redescobertos por milhões de lares, todos os dias”, aponta.

Antigos e novos públicos

Outra questão que chama a atenção em relação a Chaves e Chapolin é a capacidade de alcançar diferentes tipos de públicos.

“Há a audiência antiga, que reassiste com nostalgia, agora, em uma nova plataforma e com uma experiência premium, e a nova, que descobre o conteúdo pela primeira vez, sem o mesmo filtro geracional, mas com interesse genuíno por narrativas simples, personagens marcantes e humor físico universal”, analisa o cofundador da OffGrid.

Priscilla, da Cheil, acredita que o público original (e mais fiel) de Chaves e Chapolin ainda é formado por aqueles que acompanham os seriados no passado, mas acredita que as produções conseguiram renovar a base de fãs ao longo dos anos.

“Pela força cultural conquistada e com referências impactando o público a todo o momento, como em licenciamentos, eventos e outros ativos além do programa, em si, a atração conseguiu se manter interessante e cativante para novas audiências, principalmente por seu formato, com episódios não-lineares e humor ingênuo, que conversa com todas as gerações”, destaca.

O novo momento de Chaves e Chapolin

É importante destacar que essa presença múltipla de Chaves e Chapolin em quatro streamings (Globoplay, Prime Video, Netflix e +SBT) e dois canais lineares (SBT e Multishow) acontece por conta da resolução de uma divergência entre a família de Roberto Gómez Bolaños, criador do universo dos personagens, que faleceu em 2014, e a Televisiva, rede de TV do México que detém os direitos de licenciamento internacional dos seriados.

Em 2020, por divergências com os herdeiros de Bolaños, a Televisa ficou impedida tanto de exibir quanto de negociar os direitos de transmissão de Chaves e Chapolin. Foi nessa época que as séries saíram das grades de SBT e Multishow, retornando apenas quatro anos depois, em 2024, quando as negociações entre as partes mexicanas foram acertadas.

Agora, com os direitos liberados, Chaves e Chapolin vêm demonstrando que a força que tiveram no linear, por décadas, ainda é vista como algo interessante, agora pelo mercado de streaming.

O cofundador da OffGrid classifica esse potencial das séries como um case raro. “São personagens simples, arquetípicos e universais que foram incorporados à cultura popular brasileira de forma quase espontânea. Na publicidade, isso significa reconhecimento imediato (alto recall), afeito geracional (engajamento emocional) e um tom familiar e acessível, que torna a propriedade útil tanto em campanhas de awareness quanto em ações de brand safety”, analisa.

A atemporalidade dos personagens e das histórias também é apontada por Priscila, da Cheil, como algo interessante de Chaves, que faz com que, meio a tantas transformações sociais, o conteúdo da série – e as atitudes e estilos de personagens como Seu Madruga, Dona Florinda e Quico – continuem, de certa forma, ligados a questões contemporâneas, gerando identificação.

“Os temas que rodeiam o seriado são sobre amizade, pobreza, vida cotidiana – assuntos atemporais, que permite a conexão independente da geração”, finaliza a business director da Cheil.