Bola dividida
Os clubes precisam de um choque de profissionalismo, se organizarem como empresa a exemplo de outros países”, avalia o coordenador acadêmico do curso FGV/FIFA/CIES, Pedro Trengrouse.
Os clubes precisam de um choque de profissionalismo, se organizarem como empresa a exemplo de outros países”, avalia o coordenador acadêmico do curso FGV/FIFA/CIES, Pedro Trengrouse.
6 de dezembro de 2019 - 12h42
Por Janaina Langsdorff
O esporte olímpico brasileiro sofreu uma derrota amarga depois da Rio 2016. Denúncias de participação de dirigentes do Comitê Olímpico do Brasil (COB) em esquema de corrupção para a escolha da sede, crise econômica e evasão de aportes estatais travaram o avanço do movimento já tradicionalmente abatido no período pós-Olimpíada, quando as marcas que já investiram no torneio costumam tirar os recursos de campo. O ciclo olímpico ainda tromba com a Copa do Mundo no meio do caminho, dispersando a atenção de potenciais patrocinadores.
Dependente de recursos das loterias, o progresso das modalidades olímpicas no Brasil é uma batalha épica. “Historicamente, são poucas as marcas que têm comprometimento com as Olimpíadas e mostram real interesse em construir imagem. Ainda vemos muitas ações pontuais e oportunistas”, analisa Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo. O sócio-diretor da Sports Value defende que o poder público financie apenas o esporte amador, provendo a infraestrutura necessária para quem almeja uma carreira no esporte.
O território profissional deve ficar com a iniciativa privada, desde que as companhias saibam usar o esporte como uma plataforma de construção de marca e não apenas de mídia. “As empresas desperdiçam a experiência que o esporte proporciona. Estampar nome na camisa ou em placas não é marketing esportivo”, opina Somoggi. Com paixão de sobra, o esporte acabou deixando o afã emocional conduzir os negócios, um esquema que nem sempre dá certo. “O problema do esporte brasileiro é a gestão, que não evoluiu ao lado da mídia e da indústria do entretenimento”, observa Somoggi.
O coordenador acadêmico do curso FGV/FIFA/CIES, Pedro Trengrouse lembra que o futebol deveria puxar o avanço por ser a locomotiva do esporte no País. “Mas tudo ainda é muito amador. Os clubes precisam de um choque de profissionalismo, se organizarem como empresa a exemplo de outros países”, avalia Trengrouse. Segundo o professor, o orçamento de um único time da série A de futebol supera o dobro do valor registrado por todo o movimento olímpico.
A estimativa é de que o esporte brasileiro tenha potencial para alcançar 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), algo em torno de R$ 66 bilhões. Mas a movimentação, hoje, não passa de 0,3% do PIB, o equivalente a cerca de R$ 18 bilhões ao ano. Os estrangeiros ganham de lavada. Com base em dados da PwC, o diretor da Trevisan Escola de Negócios, Fernando Trevisan, diz que a indústria esportiva movimenta mais de US$ 80 bilhões só na América do Norte.
Apesar da distância para os modelos de negócios adotados na Europa e Estados Unidos, a profissionalização do setor esboçou um avanço que, segundo Trevisan, foi impulsionado pelos megaeventos. “Novas instalações, tecnologia e mão de obra mais qualificada aumentaram o interesse das marcas em se aproximar do esporte como plataforma de divulgação”, analisa o especialista em gestão esportiva.
A virada do COB também ajudou. Sob o comando de Paulo Wanderley, a nova gestão redistribuiu despesas administrativas e passou a concentrar os recursos nos atletas. Segundo Manoela Penna, diretora de comunicação e marketing do comitê, o percentual destinado ao esporte subiu de 60% para 80%. “Foi um choque de realidade com demonstração de transparência”, diz Trengrouse. Para o estudioso, os patrocínios não se restringem ao Time Brasil. Eles representam todo do País. “Temos que mobilizar outros setores e valorizar quem já apoia. Mas as marcas têm que saber ativar os patrocínios”, destaca. Segundo ele, é preciso destinar o dobro do valor investido na cota para as ativações. Planos de longo prazo são essenciais.
Apesar da supremacia do futebol, com suas polpudas receitas de bilheteria, direitos de transmissão, transferência de jogadores, licenciamentos, patrocínios e programas de sócio torcedor, há negócios promissores. Os e-sports (esportes eletrônicos) têm atraído cerca de 20 milhões de consumidores, o basquete ganhou formar a liga independente Novo Basquete Brasil (NBB), que conta com a parceria da NBA, e o surfe brasileiro está na disputa pelo topo do ranking mundial. Típico de uma nação incansável, o esforço do Brasil vai além do placar e segue rumo a Tóquio 2020 para reverenciar o verdadeiro ideal do esporte. Competir nunca foi tão importante.
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