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Ano da saudade

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Opinião

Ano da saudade

Criativos com abstinência de festivais e torcedores órfãos do esporte ao vivo são exemplos do hiato de emoções que impacta os negócios da indústria da comunicação


29 de junho de 2020 - 9h33

(Crédito: Obayada PH/Unsplash)

Esta edição de Meio & Mensagem traria os resultados do Festival Internacional de Criatividade de Cannes, premiação que, pela primeira vez na sua história, deixou de ser realizada. A essa altura do ano, os torcedores brasileiros já teriam comemorado os títulos estaduais de seus times de futebol, os fãs da Fórmula 1 deveriam ter acompanhado metade da temporada 2020 e o mundo estaria na expectativa do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio daqui a um mês. De certa forma, estamos todos com saudades de emoções vividas no passado, das quais somos privados neste momento — afinal, o isolamento social se impõe como principal medida no combate à pandemia da Covid-19. Quando o presente não ajuda e as incertezas dominam o horizonte, esse sentimento aperta ainda mais o coração.

Para amenizar a abstinência de festivais da comunidade criativa, Cannes promoveu na semana passada o Lions Live, transmitido direto de Londres, com palestras e prêmios especiais, com o reconhecimento principal para a brasileira AlmapBBDO, nomeada Agência da Década, além de ter sido também a primeira no ranking das latino-americanas no cômputo de pontos feito pela organização do evento, considerando os anos de 2010 a 2019.

“2020 sem Cannes é como um ano sem Copa do Mundo para a gente”, diz o chairman e CCO da Almap, Luiz Sanches, entrevistado principal da edição semanal, como você, caro leitor, verá nas páginas 6 e 7. Defensor da importância dos festivais para a indústria, no recorrente debate sobre a relevância das premiações para o negócio da publicidade, ele considera que “prêmio cria reputação”, o que é útil no processo de reinvenção do negócio e um diferencial decisivo quando a criatividade das agências tem a chance de recuperar relevância, diante do cenário descrito por ele, em que as marcas precisam ser “inspiradoras” e enfrentam riscos e limitações nos investimentos em influenciadores, big data e mídia programática.

Já os torcedores órfãos do esporte ao vivo vão aos poucos reencontrando suas paixões, mesmo a distância, enquanto os estádios ainda precisam se manter vazios. O apagão das competições esportivas, que impacta incisivamente a indústria de comunicação, marketing e mídia, já mereceu o destaque de capa de Meio & Mensagem, ainda em março, e volta agora num contexto de retomada. Após ter o hiato do futebol preenchido com reprises nos canais de TV, o público do futebol brasileiro vive a expectativa de retorno dos clubes aos campos, enquanto os bastidores se movimentam diante de indefinições em relação aos direitos de transmissão.

Para a reportagem publicada nas páginas 22 a 24, a editora Bárbara Sacchitiello e o repórter Renato Rogenski conversaram nos últimos dias com dirigentes do esporte, executivos dos canais e profissionais de marketing e mídia não só a fim de entender as reações à Medida Provisória sobre o tema editada pelo governo federal, mas para debater o que o esporte precisa para reestabelecer proximidade com os fãs e parcerias comerciais com as marcas. “A pandemia está forçando o mercado do esporte a desenvolver novas ofertas. Para continuarem crescendo, os clubes terão que contratar e criar estruturas para desenvolver conteúdos digitais e experiências virtuais para seus patrocinadores”, recomenda Ricardo Fort, vice-presidente global de patrocínios e eventos da Coca-Cola e colunista de Meio & Mensagem. A diversificação e a flexibilização dos formatos também se impõem para a mídia brasileira, especialmente a televisão e o rádio, que têm nos pacotes comerciais atrelados às transmissões esportivas um de seus principais produtos.

Especialistas ainda tentam prever qual será o efeito do consumo represado em diversos setores da economia. Em participação no projeto Conectando o Mercado, de entrevistas transmitidas ao vivo diariamente, Jaime Troiano, presidente da TroianoBranding, apostou que, na retomada, “o desejo vencerá o medo”. No caso do esporte, a euforia represada demanda alerta: na semana passada, torcedores do Liverpool foram às ruas na Inglaterra para comemorar o inédito título do clube na Premier League, desobedecendo a recomendação do governo britânico de evitar aglomerações no país que é o terceiro no ranking de mortes pela Covid-19, atrás de Estados Unidos e Brasil — um pódio onde ninguém gostaria de estar.

*Crédito da foto no topo: iStock 

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