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Opinião

Como o marketing político fez de ‘El Loco’ um presidente

Independentemente da preferência ideológica ou eleitoral, há que se reconhecer as acertadas decisões de marketing de Javier Milei para tomar o poder na Argentina


21 de novembro de 2023 - 15h31

A vitória estratosférica de Javier Milei nas urnas para tomar o poder na Argentina não pode ser analisada apenas pela ótica econômica, pelo esgotamento do humor da sociedade ou pelas frustrações diante do peronismo. É urgente avaliar a sua comunicação: as estratégias de marketing político responsáveis pela reviravolta eleitoral desse ator que simboliza a antítese do arquétipo padrão no tabuleiro democrático. Nesta análise, há seis pontos que merecem profundidade para compreensão.

  1. Discurso antipolítica. Quebrando o sistema convencional, segue uma lógica narrativa simbólica muito semelhante à de Bolsonaro e também de Donald Trump. Nasce um personagem do meio da multidão com um palavreado de ‘vamos mudar tudo agora’ e tamanha indignação ganha eco na sociedade, como uma onda, reverberando organicamente o sentimento de fúria e de repulsa. “Daqui prá frente tudo vai ser diferente”, já cantava Roberto Carlos.
  2. Combater o inimigo. É necessário vencer aqueles que fazem mal à nação Argentina. O termo “casta”, enfatizado por Javier Milei, definiu o tom do debate eleitoral ao atacar diretamente o Peronismo. “Libertad, libertad” tornou-se um mantra popular, representando o conceito da campanha que se espalhou para a sociedade.
  3. Uma fotografia. Embora muitos considerem a estética como algo insignificante e nenhum eleitor admita votar com base na aparência, esse atributo é sim competitivo. O cabelo bagunçado (até irônico) e a jaqueta de couro criaram uma imagem única: uma figura singular neste imaginário fotográfico, a antítese do político “engomadinho”.
  4. Uma pauta no centro. Muitos candidatos buscam resolver todos os problemas, mas não são lembrados por nenhuma proposta de solução. Acabam se perdendo nesse excesso. Milei falou sobre economia do começo ao fim, sem perder o foco. Identificou a maior dor da sociedade, a pobreza, e transformou o problema na principal tônica de sua narrativa de marketing político.
  5. Aliança e pragmatismo. Sozinho, o libertário perderia a eleição, assim como perdeu no primeiro turno. Rapidamente, buscou Patrícia Bullrich e Macri para construir a vitória. Agiu rápido, pediu desculpas e publicizou o pragmatismo. Colocou ambos no palanque e capitalizou eleitoralmente.
  6. Um produto midiático. A polêmica não é um equívoco, mas sim uma estratégia – quando planejada, os riscos e também as repercussões. Milei compreendeu desde o princípio que a polêmica fazia parte da construção de seu personagem para se tornar alguém na eleição. Uma retórica de paz e amor não traria nenhum tipo de engajamento, não seria um diferencial competitivo. Foi essa narrativa de diferenciação que fez dele um produto original, interessante e de grande potência nas redes sociais.

O futuro do governo argentino merece uma análise aplicada à ciência política ou econômica, e não ao marketing. Portanto, este escriba isenta-se de qualquer briga. Agora, independentemente da preferência ideológica ou eleitoral, devemos ter elevação intelectual para interpretar as acertadas tomadas de decisão do campo do Marketing Eleitoral do candidato Javier Milei. Estratégias diferentes, certamente, renderiam um resultado diferente.

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