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Opinião

Desconstruir hierarquias e construir redes

Ao mesmo tempo que a posição de liderança inspira e é almejada, ao chegar lá é preciso desconstruir barreiras e reforçar estruturas de apoio


29 de agosto de 2022 - 14h00

(Créditos: Shutterstock)

Quando comecei meu estágio, lá em 2007, eu ainda estava no penúltimo ano da faculdade – aquele momento em que estamos iniciando a carreira e ainda não sabemos o que o futuro nos aguarda, mas nutrimos a esperança e a motivação de encontrar o trabalho “perfeito”.

Lembro que era a primeira vez que entrava em uma empresa tão grande e estava completamente encantada com a oportunidade de trabalhar ali – com produtos e marcas com as quais eu me identificava, e profissionais que pareciam realizados individualmente e extremamente à vontade com os colegas que os rodeavam.

No entanto, algo que pensei que não estava buscando, mas descobri a importância quando encontrei, brilhou meus olhos ainda mais: conviver com mulheres ocupando cargos com os quais desde então eu sonhava, e perceber que é possível ocupar esse lugar, foi um fator chave para concluir que ali poderia ser meu lugar.

Hoje, quinze anos depois, em um cargo com o qual eu sonhava, consigo parar e pensar como essa trajetória me transformou. Consigo entender que carrego essa mesma responsabilidade para tantas outras meninas que sonham em um dia estar onde estou, consigo entender a importância das inspirações que tive para chegar onde estou e das que tenho hoje para um dia chegar onde almejo estar… Mas consigo também me desconstruir para entender que, mais do que olhar “para cima” na pirâmide hierárquica, preciso me conectar com quem está “ao lado” – desconstruindo hierarquias reais ou simbólicas e construindo redes de apoio que me suportam tanto quanto suportarão a diversas outras profissionais como eu.

Eu acompanho diariamente mulheres que inspiram e acolhem umas às outras, e em um momento tão único e de tanta transformação como a minha (primeira) gravidez, essa percepção se torna ainda mais aguçada.

Junto com a gravidez, vêm infinitos medos e inseguranças: como conciliar ser mãe com a carreira? Qual a melhor forma de amamentar e de fazer o bebê dormir? Como será a nova rotina? Será que serei uma boa mãe e profissional?

Nesse momento que mistura encanto com vulnerabilidade, meu melhor insight foi perceber que eu não estava sozinha: ao contrário, compartilho meus dias com tantas mulheres – de diferentes times, funções, cargos, com diferentes bagagens e experiências – que tiveram filhos antes de mim, passaram por medos e inseguranças parecidas, avançaram nessa jornada e, portanto, são fonte de inspiração e apoio.

Quando conseguimos demonstrar vulnerabilidade e dividir realidades pelas quais estamos passando, essa rede vem de todos os lugares. É sobre se abrir, pedir ajuda e evidenciar questões que eram tratadas com sigilo no mercado de trabalho, dizer “estou com medo” e, como recompensa, ser abraçada, entendida e acolhida, cercando-se de um carinho que nem sabíamos estar tão disponível.

É nesse momento que a capa de super-heroína que colocam na Isa líder e “chefe” desaparece – as hierarquias se descontroem e as redes de apoio horizontais se fortificam. E, para mim, é um privilégio estar nesse ambiente e entender, na prática, como eu também performo melhor porque tenho inspiração e acolhimento de todos os lados.

Porém, isso só é possível porque eu sei o que acontece de verdade com cada uma, e elas comigo. Não adianta eu falar sobre mulheres que me inspiram sem ver o “por trás das câmeras” delas, e nem encarar a minha responsabilidade de inspirar sem abrir os meus bastidores. Afinal, mostrar só a parte boa e legal significa gerar uma inspiração irreal, carregada da angústia de viver uma realidade distinta. Como diz uma frase que levo para a vida, de Steve Furtick, “a razão pela qual lutamos com a insegurança é porque comparamos os nossos bastidores com o carretel de destaque dos outros.”

Fugir da idealização e manter esse posicionamento de inspirações reais possibilita narrativas diversas com pessoas diversas. Que estejamos mais prontas para nos tornar inspirações reais e desconstruir hierarquias para construir redes que nos levarão muito mais longe, por um caminho muito melhor.

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