Dilema do bolso
Proliferação de novos serviços de streaming de vídeos por assinatura põe em dúvida a capacidade do público arcar com custos crescentes e aumenta o debate sobre necessidade de composição com a inserção de publicidade
Proliferação de novos serviços de streaming de vídeos por assinatura põe em dúvida a capacidade do público arcar com custos crescentes e aumenta o debate sobre necessidade de composição com a inserção de publicidade
A Netflix, principal player global de vídeo por streaming, acaba de enfrentar uma semana “stranger things”. Na quinta- feira, 18, as ações da empresa sofreram baixa de 12% e o seu valor de mercado acumulava perda de US$ 20 bilhões. Isso após anúncio da primeira queda no número de assinantes nos Estados Unidos e da apresentação de resultados aquém do esperado pelo mercado.
O fato levanta dúvidas sobre o futuro da protagonista que impulsionou uma das maiores mudanças recentes na forma como as pessoas consomem entretenimento. O enredo atual é impactado sobretudo pela entrada de novos atores na trama, alguns antes aliados estão prestes a se transformar em concorrentes da Netflix, como Disney, WarnerMedia e NBC Universal.
A performance financeira também põe em dúvida a sustentabilidade futura do modelo de negócios baseado totalmente em assinaturas e resistente à entrada de publicidade. A questão é como segurar a mensalidade a um preço baixo, para manter os pagantes, sem afetar a saúde financeira, para poder continuar investindo em conteúdo original e de qualidade. Em outras mídias isso só se tornou viável em composição com a publicidade.
É justamente esse cenário de aumento da competitividade, incertezas sobre a monetização e conteúdos dispersos por várias plataformas de streaming de vídeo que analisa a reportagem que ocupou a manchete principal da edição impressa do Meio & Mensagem nesta segunda-feira, 22. Ao tema, se dedicaram nos últimos dois meses o editor Igor Ribeiro e a repórter Karina Balan Julio. Para dar à matéria uma perspectiva do consumidor, Meio & Mensagem recorreu à Toluna para uma pesquisa online em que 827 pessoas responderam ao questionário feito pela redação nos 12 primeiros dias deste mês.
A questão central é: o consumidor conseguirá arcar com o custo de assinaturas de diversos serviços de streaming? As estratégias de marketing que tentam encontrar caminhos para essa dúvida incluem degustações gratuitas e plataformas que reúnem vários serviços, mas enfrentam problemas como catálogos confusos e o compartilhamento de senhas. Paralelamente, o crescimento do mercado de streaming afeta o de TV por assinatura. Paradoxalmente, a indústria que surge poderá passar por situações vividas pela TV paga. Uma das reclamações típicas dos assinantes é a de arcar com um pacote de mais de uma centena de canais quando se assiste a poucos. Pois no streaming já há quem assine um serviço só para assistir a uma temporada específica, e depois cancela. Como sempre, é o hábito do consumidor de hoje que irá moldar as ofertas no futuro.
Os serviços de streaming de vídeos por assinatura já são itens importantes na cesta de consumo de entretenimento de boa parte dos brasileiros, que, evidentemente, aumentam ou diminuem sua capacidade de pagar por eles de acordo com os movimentos da economia. A boa notícia é que “o consumo é a parte mais blindada da economia”, nas palavras de Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, que enxerga ainda consumo reprimido nas famílias e tendência positiva no crédito para consumo — embora o mercado de trabalho amarrado e a alta taxa de desemprego sejam fatores limitantes.
Na semana passada, o repórter Salvador Strano se encontrou com Zeina para investigar os reais impactos da reforma da Previdência e apontar quais outros passos o País precisa dar para destravar o crescimento. Na entrevista, Zeina diz que, embora essencial, a reforma que avançou neste mês na Câmara dos Deputados só garante a manutenção do ambiente macroeconômico. Em sua análise, o mercado ainda sofre a ressaca de ter começado o ano com otimismo excessivo, é preciso recuperar a confiança dos empresários e investidores, avançar em agendas estruturais, como a reforma tributária, e “manter a perseverança”, pois a economia brasileira ainda está frágil e o impacto das reformas não é imediato. Haja paciência.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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