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Opinião

Diversos olhares, sem perder o olhar ao próximo

As marcas, tão atentas em escutar e aprender com os consumidores, precisam demais de um olhar amoroso sobre autenticidade, um walk the talk raiz


28 de fevereiro de 2024 - 6h00

A vida vem me ensinando que o que se faz porta afora do escritório precisa ter sinergia com o que se faz na parte interna da companhia. No final das contas, os diferentes papeis que desempenhamos pertencem a nós mesmos. Uma pessoa sendo mulher, executiva, voluntária, irmã, filha, sobrinha, amiga, líder, aluna. E por aí vai. Não há dissociações. Há um pouquinho de cada uma dessas funções em todos os nossos momentos. É assim que uma presidente de uma companhia olha para um colaborador – com diversos olhares, mas sem perder o foco no outro. Porque todas as missões estão internalizadas em uma única pessoa.

Particularmente, venho observando o quanto a aprendizagem do voluntariado compõe um líder e vice-versa. Acabei de voltar da Índia e atestei o quão acolher voluntariamente e ter atenção plena são essenciais. Aliás, apostar em prol do próximo é algo que faz um bem danado à saúde. As pesquisas estão aí para mostrar isso. Em uma delas, um estudo da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) foi fruto de uma pesquisa com pacientes com ansiedade. Eles foram orientados a promover um ato gentil diário. Um mês depois, estavam mais relaxados. Quando falamos de gentileza, trata-se de pensar no outro. E um ensinamento riquíssimo – não há nada mais eficiente do que entender o outro para melhorar relações. Não é à toa que pessoas envolvidas em ações desse tipo têm mais bem-estar e são mais felizes.

Nesse caminho, o autoconhecimento é mandatório. Até os avisos antes das decolagens de avião já sinalizam que, em casos de despressurização, devemos colocar primeiro a máscara e só depois auxiliar as demais pessoas. Portanto, olhar para si mesmo, reconstruir-se, é um processo diário, que ajuda o mundo a ser melhor.

O que aprendemos no voluntariado é escuta generosa, é acolhimento, empatia, perdão. E tudo isso se aplica à vida corporativa. Não há como liderar uma empresa sem ter essas competências. Um CEO é, antes de tudo, um multiplicador de gestos solidários. São funções que não se separam.

Da mesma forma, o que se aprende no dia a dia do mundo corporativo é levado à vida fora dos muros empresariais. Liderar pessoas para, no final do dia, haver uma tradução de resultados, ensina. Agilidade em tomar decisões, saber lidar com milhares de dados e acontecimentos diferentes ao mesmo tempo. Precisamos ter sacadas e sacar rapidamente. Apresentar soluções. Gerenciar pressões, respeitar todas as diferenças. Ser empática com a mãe de dupla/tripla jornada, o pai, a filha, a irmã, o avô. Às perdas dos núcleos familiares, dos amigos, dos colaboradores. A celebração da vida, o amparo em diagnósticos complicados, à crise de ansiedade, à depressão, que tanto afetam a sociedade.

E, é incrível, mas as marcas, tão atentas em escutar e aprender com os consumidores, precisam demais de um olhar amoroso sobre autenticidade, sobre ser quem é e ter respeito por isso. Ser humano. Não é raro falarmos em nosso dia a dia sobre pausa, sobre dar um passo para trás para entender o que, de fato, queremos. A humanidade anda ávida por carinho, por atitudes. Menos falar e mais agir. Um walk the talk raiz. Nunca é demais repetir a frase já conhecida por todos: não podemos enganar todo mundo o tempo todo.

Nunca foi possível separar as coisas. Agora, ficou impossível. Talvez para a gente acordar, finalmente. Somos todas as missões que desempenhamos.

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