Lições da pandemia: a hora e o lugar da liderança humana
Ao contrário do que muitos insistem em afirmar, 2020 não apenas terá acontecido, mas terá sido uma grande lição
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18 de dezembro de 2020 - 15h51
Não há para onde correr. Em tempos de crise, os líderes, em especial os CEOs e altos gestores públicos, assumem mais responsabilidade e relevância. Encaram a face embaçada do problema e a comunicação da crise. Suas vozes moldam as narrativas do público interno e direcionam pontos de vista da opinião pública, para o bem e para o mal.
Comportamentos são gerados a partir do exemplo do líder. Da mesma forma, poucas palavras são tão capazes de produzir efeitos de grande escala no mundo como as dos chefes de estado e das autoridades de saúde. Suas palavras chamam à ação e produzem efeitos materiais.
Com a pandemia, fundadores, executivos e gestores perceberam como tudo o que construíram se tornou frágil quase da noite para o dia e foram convidados a olhar para dentro e para e fora e observar de perto a realidade vivida por seus funcionários e por suas famílias. Como nunca, a complexidade e a ineficácia de soluções unilaterais ficaram tão visíveis.
O encontro da crise gerada pela pandemia com uma crise de confiança que vem desafiando o país e o mundo e do crescimento da intolerância e da desigualdade, deixou todos em sinal de alerta e fez acordar uma sociedade assustada, carente de saber o que está acontecendo. De compreender o que isso tudo significa em suas vidas pessoais e coletivas. Uma realidade que faz crescer o valor das informações verdadeiras, assertivas, transparentes e confiáveis transmitidas por líderes gentis, empáticos e colaborativos.
Decisões que implicam em vidas, geralmente deixam líderes paralisados, principalmente em situações em que a urgência em decidir é vital. Ficou claro que as escolhas precisam ser tomadas com o olhar para as diferenças e para a gestão de danos que estão atingindo a sociedade de forma desigual. Não existem dúvidas, as escolhas deste momento colocarão muitos líderes na história por sua resiliência e responsabilidade e levarão outros tantos ao descrédito e ao desaparecimento.
Se, por um lado, a situação ampliou os riscos de exposição, revelou o quão importante é perceber que está na hora de abandonar estratégias baseadas em imagens construídas para esconder a realidade. Está claro que a estratégia capaz de fazer diferença neste momento deve estar focada na construção de reputação, aquela que se baseia na coerência entre o que temos como valor e o que fazemos todos os dias.
São nessas horas que as instituições e corporações cujos líderes respondem a valores, crenças e propósitos claros se sobressaem no meio da tempestade. São esses os líderes que mais rapidamente colocam seus colaboradores e familiares em primeiro lugar, reconhecendo que a vida é o bem maior.
Este momento deixou ainda mais claro que organizações e líderes sem propósito e sem interesse além do lucro deixarão de existir muito em breve. É necessário, possível e urgente fazer negócios enquanto trabalhamos para minimizar e resolver os impactos sociais e ambientais gerados pelo sistema.
Não à toa, é exatamente neste momento que a agenda ESG – Enviroment, Social and Governance – adotada pelo sistema financeiro para avaliar o desempenho de uma empresa, ganha força e coloca a trajetória e não apenas o resultado alcançado em perspectiva.
Mais do que nunca, líderes precisam se fazer presentes. O olho no olho, mesmo que virtual – enquanto o presencial não for recomendado – é necessário, assim como a verdade, a clareza e a gentileza. Cada um a seu modo, os líderes com os melhores resultados na gestão da crise têm sido os mais positivos em sua capacidade de gerar confiança, o que tem acontecido, quaisquer que sejam as notícias, quando alguns aspectos essenciais são observados:
– As pessoas estão em primeiro lugar?
– Você está liderando o processo e está lado a lado com a sua equipe?
– No que você está trabalhando?
Garantir que a cultura da empresa seja tão ou mais forte do que era antes do confinamento também figura entre os principais desafios dos líderes. Mais que em qualquer era, a partir de agora, a comunicação passará a ser entendida como relevante e pedirá dos líderes prioridade, coerência e comprometimento traduzidos em narrativas que orientam, cuidam, acolhem, motivam e engajam.
O momento pede líderes positivamente humanos, corajosos a ponto de se colocar vulneráveis e ousados em sua capacidade de enfrentar o desconhecido, sem medo de dizer “eu não sei”, e orientados para construir soluções de forma conjunta. Só assim as dificuldades que estão sendo vividas agora irão gerar o aprendizado necessário não apenas para resolver da melhor forma os problemas que estão em curso, mas para que estejamos preparados para evitar ou gerenciar novos tempos difíceis. É dessa forma que, no final, ao contrário do que muitos insistem em afirmar, 2020 não apenas terá acontecido, mas terá sido uma grande lição.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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