Opinião

Marcas não compram mídia, compram significados

Investir em esporte não é comprar visibilidade, é construir relevância simbólica. Marcas que entendem isso deixam de aparecer e passam a pertencer

Eduardo Corch

Diretor-geral LATAM da EMW Global 19 de novembro de 2025 - 14h00

Durante anos, o investimento em patrocínios esportivos foi tratado como uma extensão do plano de mídia. A lógica parecia simples: quanto mais visibilidade, melhor. O logo no uniforme, a placa no estádio, a presença na transmissão, tudo era avaliado por GRPs, impressões e alcance.

Mas o esporte não é um canal de mídia. O esporte é uma linguagem. E toda marca que o encara apenas como vitrine desperdiça o que ele tem de mais valioso: significados.

O verdadeiro poder do marketing esportivo está na transferência e apropriação de atributos.

Quando uma marca se associa a um atleta, clube ou evento, ela não está apenas comprando espaço, está emprestando valores e emoções que o público já reconhece naquele ativo esportivo.

Essa conexão é o que transforma o patrocínio em plataforma de branding, e não em despesa de mídia.

Fit simbólico: o que realmente cria valor

Cada ativo esportivo carrega um conjunto único de atributos percebidos.

Vamos pegar como exemplo três atletas brasileiras, todas medalhistas olímpicas. Enquanto a ginasta multicampeã Rebeca Andrade traduz leveza, precisão, alegria e brasilidade, a skatista Rayssa Leal transmite ousadia, coragem e inovação. Já a judoca Mayra Aguiar nos traz força, equilíbrio e resiliência.

A Fórmula 1 costuma ser associada a tecnologia, alta performance e exclusividade, enquanto o surfe remete à liberdade, respeito à natureza e sustentabilidade.

Quando uma marca escolhe um ativo que reflete seus próprios valores, ela multiplica a força da mensagem. Quando escolhe mal, seja por modismo,

audiência ou desejo pessoal do gestor, corre o risco de gerar ruído junto ao seu consumidor, não relevância.

Patrocínio eficiente não é sobre o tamanho da visibilidade, e, sim, sobre o grau de coerência simbólica entre patrocinador e patrocinado.

É esse “match” que faz o consumidor perceber a associação como autêntica, verdadeira e espontânea, e não como uma compra oportunista.

De logo para legado

As marcas mais perspicazes já entenderam que não basta estar presente; é preciso fazer sentido.

A Red Bull se envolve em esportes radicais, reforçando seus pilares de energia, ousadia e juventude. Isso é a cara da Red Bull.

Quando uma marca se associa a Rebeca Andrade, ela não apenas ganha visibilidade, mas também empresta brasilidade, orgulho e inspiração, atributos que valem muito mais do que segundos de exposição.

O esporte oferece algo que nenhuma campanha tradicional consegue replicar: a emoção autêntica da conquista e da identificação.

E é essa emoção que transfere significado às marcas, construindo reputação de forma orgânica e duradoura.

O papel do gestor de marketing

O desafio dos profissionais de marketing é abandonar a lógica tática, suas preferências pessoais, e adotar uma visão mais estratégica.

Em vez de perguntar “quantas pessoas vão ver minha marca?”, a pergunta deveria ser: “Quais valores essa parceria reforça sobre quem somos?”

O retorno de um patrocínio não se mede apenas em alcance, mas em relevância simbólica, afinidade e storytelling.

Isso exige estudo, sensibilidade e, principalmente, profundo entendimento da cultura esportiva, algo ainda raro nas estruturas de marketing tradicionais.

Conclusão

O esporte é um espelho de valores humanos universais: superação, trabalho em equipe, emoção e pertencimento.

Marcas que entendem isso constroem vínculos reais; as que não entendem, apenas aparecem.

Patrocínio esportivo não é mídia. É posicionamento.

E quem continuar tratando o esporte apenas como espaço publicitário vai seguir medindo impressões, enquanto perde o que realmente importa: a chance de se tornar parte da emoção que o público nunca esquece.