Marketing

Novos perfis que estão transformando a torcida no Brasil

Estudo mostra como o digital reorganiza o futebol e abre espaço para marcas fora dos patrocínios tradicionais

i 9 de dezembro de 2025 - 17h01

Entenda as quatro identidades do torcedor brasileiro (Crédito: GoodStudio/Shutterstock)

Pesquisa traçou quatro identidades do torcedor brasileiro (Crédito: GoodStudio/Shutterstock)

A nova edição da pesquisa “A Era dos Fandoms: Modo Torcida”, conduzida pela Monks, da S4 Capital, investiga a evolução da cultura torcedora no Brasil e mostra como o digital se tornou o novo ponto central da cultura do futebol.

Cultura do torcer

Com uma amostra de 1.000 torcedores de todas as regiões, o estudo revela que, para 77% dos entrevistados, o futebol permanece como um dos principais símbolos da identidade brasileira.

A relação com o esporte, porém, tem se transformado: 51% dos torcedores afirmam que podem ser grandes fãs mesmo sem ir aos estádios, porcentagem que sobe para 64% entre jovens de 18 a 24 anos.

A experiência também migra para o digital: 43% dos torcedores dizem achar o futebol mais divertido nas redes do que na TV, e 48% já enxergam creators como agentes que estão reinventando o torcer.

Ao mesmo tempo, a percepção sobre o excesso de presença das marcas cresce: dois em cada três torcedores acreditam que o futebol virou uma vitrine de publicidade, e 55% afirmam que conteúdos produzidos por outros torcedores geram mais emoção do que campanhas milionárias.

Entre os chamados Super Fãs, o grupo de torcedores de alta intensidade emocional e engajamento, o estudo mostra que 35% consideram criadores de conteúdo e podcasts mais relevantes do que veículos tradicionais na análise do jogo.

O comportamento das gerações mais jovens também se destaca: 47% dos torcedores de 18 a 24 anos acompanham ligas nas quais seus times não jogam, acima dos 38% da amostra total, indicando uma relação mais ampla e menos clubista com o futebol.

A pesquisa também aponta tensões na relação com o mercado: 40% dos torcedores dizem não gostar da indústria que se formou em torno do futebol brasileiro, enquanto 47% pagariam para não ver marcas ou publicidade durante o jogo.

Além disso, dois em cada três acreditam que há mais marcas tentando aparecer no futebol do que marcas efetivamente contribuindo com o esporte.

Os quatro perfis de torcedores

Segundo o levantamento, esse novo contexto marca também o fim da “nostalgia romântica do futebol raiz” e apresenta quatro identidades comportamentais.

O grupo Muito Além do Placar reúne torcedores cujo vínculo vai além da performance esportiva, conectando-se à estética, valores e posicionamentos culturais.

Já a Torcida Íntima descreve quem vive o futebol de forma silenciosa e mediada por telas, lives e podcasts, e 49% desse público afirmam que a ausência do grito não reduz a intensidade emocional.

O terceiro perfil, o Bagunça Core, enxerga o futebol como festa, caos criativo e imaginação coletiva, impulsionados por memes, microdramas e fenômenos virais. Nesse grupo, 46% veem o esporte sobretudo como entretenimento.

Por fim, os Neo-Fanáticos vivem o clube como um ecossistema total em que a intensidade define a identidade: três em cada quatro afirmam que o ato de torcer é essencial para quem são, e 69% preferem ver o clube campeão a assistir à seleção vencer.

Para Mariana Bernardes, estrategista sênior de cultura, pesquisa e insights da Monks, compreender essas novas formas de torcer é crucial para qualquer marca que queira fazer parte da conversa cultural.

“Hoje, o futebol não é mais apenas a prática esportiva, ele virou um artefato cultural poderosíssimo. Antes, o ambiente era muito fechado e excludente, principalmente para mulheres, pessoas negras, corpos dissidentes. Se você não fosse fanático e soubesse tudo, não podia nem participar da conversa. Isso valia para torcedores e também para as marcas”, afirma. Segundo a pesquisa, 78% das torcedoras ainda percebem o ambiente tradicional do futebol como machista e excludente, enquanto o público masculino representa 57%.

Desafio para as marcas

As gerações mais jovens também pressionam por renovação, onde 57% dos torcedores de 18 a 24 anos acreditam que novas ligas e formatos indicam que o futebol pode ser reinventado e 18% do público geral escuta conteúdos esportivos semanalmente, índice que sobe para 25% entre os Super Fãs.

Marina Pires, responsável pela operação da Monks no Brasil, observa que, por muito tempo, o futebol foi território restrito a marcas que podiam pagar caro para estar ali, um modelo que, segundo ela, já não acompanha a realidade do mercado, em que o investimento não cresce e os espaços oficiais não se expandem.

“Muitas marcas que poderiam contribuir para as torcidas simplesmente não se permitem estar ali porque acham que ‘esse jogo não é para mim’”, afirma.

“Existe essa ideia de que, para entrar no futebol, você precisa falar muito alto. Mas o que vemos é o contrário: você pode falar mais perto. Não dá para falar de perto com todo mundo, mas dá para falar de perto com alguém”, diz.

Para ela, essa mudança abre novas possibilidades narrativas e estratégicas, especialmente para marcas que historicamente não ocupavam esse território.