Mosquitos, BBB e novos ciclos
Há quem ache o reality emburrecedor; eu, ao contrário, o considero um experimento social capaz de ensinar muito, especialmente aos profissionais de comunicação
Há quem ache o reality emburrecedor; eu, ao contrário, o considero um experimento social capaz de ensinar muito, especialmente aos profissionais de comunicação
No caso de alguém não carnavalesca como eu, o ano começa quando começa o BBB.
E esse BBB chegou chegando.
Há quem diga que o programa é superficial, vazio, emburrecedor. Eu acho o oposto: um experimento social capaz de ensinar muito, principalmente pra quem trabalha com comunicação e tem a função de falar sobre temas difíceis e complexos com públicos massivos.
Primeiro, porque cada edição é uma análise amostral da população brasileira e um laboratório capaz de transformar qualquer comportamento em uma discussão nacional. Em menos de três horas de programa, o Brasil estava discutindo capacitismo e tentando entender mais sobre o termo com a ajuda do Google. E, a cada dia, mais e mais temas vão surgindo. Quantas campanhas publicitárias, passando na mesma Globo, teriam essa potência?
E ainda que cada onda de conversa gere opiniões diferentes – pois há quem ache mimimi, quem diga que foi uma brincadeira e quem cobre mais o BBB e as marcas patrocinadoras – só o fato de o assunto existir já é um passo no letramento social que muitas campanhas não conseguiriam alcançar.
Uma hipótese do porquê? Campanhas publicitárias nem sempre têm coragem de expor tabus de forma tão explícita. No BBB, os assuntos são expostos sem band-aid e a tensão da própria existência do assunto é o que gera engajamento. É impossível ignorar aquilo que não é morno.
Outra análise interessante é como ele trabalha a ilusão dos ciclos da vida. Nossos ciclos se definem não só pelos ritmos circadianos (mudanças que ocorrem em nosso corpo a cada ciclo de 24h), mas por momentos que nos sacodem o suficiente para repensarmos o dia seguinte. Entramos em um novo ciclo quando criamos as promessas de ano novo, quando passamos por uma experiência de quase morte e repensamos nossos hábitos e prioridades ou até mesmo quando perdemos um emprego e tomamos a coragem que faltava pra tentar mudar de carreira.
Na nossa vida, as mudanças de ciclos não são tão frequentes, mas, no BBB, elas acontecem a cada paredão e a cada semana, quando participantes têm um choque e prometem mudar completamente de comportamento e de estratégia de jogo. Sobre isso, ainda não tenho nenhuma conclusão, só uma curiosidade sobre como podemos despertar mais as pessoas para o presente e para suas metas mais reais e profundas.
E falando em metas, prometi ler mais em 2024. Meu primeiro livro do ano chama “Doers & Dreamers – how to launch, lead, market and scale companies that impact the world”. Ou, tentando traduzir, “Quem faz e quem sonha – como lançar, liderar, comercializar e ampliar empresas que impactam o mundo”. Logo nas primeiras páginas, esbarrei com uma frase sobre mosquitos que me fez escrever este texto:
“If you think you’re too small to have an impact, try going to a bed with a mosquito” (se você acha que é pequeno demais para causar impacto, experimente ir para a cama com um mosquito). A frase é atribuída à fundadora da The Body Shop, Anita Roddick, e apareceu pra mim enquanto assistia ao BBB e, ironicamente, enquanto lidava com mosquitos chatíssimos. Mas isso não vem ao caso. O ponto é que esse é mais um aprendizado sobre o programa, sobre novos ciclos e sobre impacto: ninguém é tão pequeno que não possa gerar mudanças positivas no mundo.
Uma amostra disso? Sim, o BBB. Veja o poder de cada participante. Veja o poder de cada fala do Tadeu. De cada pessoa que está por trás das câmeras defendendo que o programa se posicione, que deixe provas mais acessíveis. Veja o poder de cada influenciador e jornalista que estão ajudando a reverberar as pautas gerando letramento social.
Veja o poder de vocês, que estão em cadeiras importantes de grandes marcas, agências, veículos e que, às vezes, subestimam o impacto que ações e conversas podem ter no mundo. Em 2023, muita coisa pode ter ficado no papel.
Vamos tirar?
Somos mosquitos. Um novo ciclo começou.
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