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Opinião

Nada mais insubstituível que a Inteligência Natural

Jornalismo é desconfiar, é complicar a pauta, é buscar mostrar o que ninguém viu.


30 de junho de 2023 - 14h00

(Crédito: Shuttestock)

Desde que o chatGPT virou ferramenta popular, os responsáveis pelos gastos das empresas de comunicação estão com uma ideia dominante na cabeça (e uma tesoura na mão): como substituir jornalistas por Inteligência Artificial?
Para quem já começa a fazer cálculos de quanto economizar na folha de pagamento, uma informação definitiva: somente os medíocres podem ser substituídos por máquinas. Jornalismo é uma arte, uma atividade de criação permanente. O problema é que o processo de enxugamento dos últimos tempos nas redações fez com que bons profissionais buscassem outras áreas. E uma multidão de jornalistas sem o devido preparo assumiu cargos relevantes. Aí a qualidade, realmente, desapareceu.

Ou seja, o nível do jornalismo caiu tanto nos últimos anos que até existe uma ilusão de que o trabalho humano possa ser substituído pela Inteligência Artificial. Como os textos, as reportagens, as entrevistas não repercutem, os burocratas acreditam mesmo que é a mesma coisa ter jornalistas ou máquinas na redação. E não se pode tirar toda a razão dos donos do poder.

Mas se existe a certeza de que, por mais que a Inteligência Artificial evolua, jamais conseguirá ter a criatividade da Inteligência Natural, é mais que hora de preservar talentos. Bons jornalistas são a salvação de um veículo de comunicação. É a forma de se diferenciar da enorme concorrência. É a maneira de não ser uma pequena operação digital que “copia e cola” o que encontrar pela web e tenta faturar algum com publicidade programática.

Jornalismo é desconfiar, é complicar a pauta, é buscar mostrar o que ninguém viu. O problema do nivelamento por baixo do jornalismo é que o resultado do que se pratica no Brasil – salvo exceções de alguns meios que ainda entendem o sentido da capacitação necessária do profissional – é o contrário. Notícia que todos têm, informação irrelevante, releases – para alegria dos assessores de imprensa. Isso não é jornalismo. É exatamente o que as ferramentas de Inteligência Artificial podem oferecer.

Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) o gigante americano The Washington Post – já com Jeff Bezos no comando – lançou o projeto Heliograf, a Inteligência Artificial a serviço da redação. Era uma ferramenta que facilitava a publicação de uma notícia na hora certa a partir de uma programação prévia. A estrutura da matéria estava pronta, do tipo: “Fulano de Tal venceu a prova dos 100 metros livres, com o tempo de XY segundos. Em segundo lugar ficou Beltrano e Sicrano ganhou medalha de bronze”. Ou seja, a matriz do texto estava pronta. E o sistema oficial das Olimpíadas alimentava automaticamente o texto com nomes e tempos. Dessa forma, o WPost chegava à rede em uma fração de segundo, antes de qualquer outro concorrente no meio digital – que dependiam da agilidade do repórter. E com isso o Post ganhava pontos nas pesquisas do Google.

Havia um sentido no Heliograf. A Inteligência Artificial como forma de auxiliar o jornalismo – mas não substituí-lo. Agilidade sim, já que ali o que importava era chegar antes. O WPost repetiu a dose nas eleições americanas do mesmo 2016. Outra vez era preciso dar os resultados antes. E funcionou. Mas as matérias, análises, entrevistas, sempre ficaram para os jornalistas. Para isso serve o profissional.

Portanto, caros executivos de meios de comunicação, entendam que o chatGPT, o Bard e todas as outras ferramentas de IA servem para auxiliar a produção de conteúdos, mas não substitui um bom jornalista. No mundo da Inteligência Artificial nunca foi tão importante incentivar a Inteligência Natural. Essa, sim, insubstituível.

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