Olhar para pessoas
Com modo home office completando um ano, confinamento caseiro gera percepção de ganho de liberdade nas relações de trabalho e aguça debate da responsabilidade corporativa sobre a saúde mental e a produtividade das equipes
Com modo home office completando um ano, confinamento caseiro gera percepção de ganho de liberdade nas relações de trabalho e aguça debate da responsabilidade corporativa sobre a saúde mental e a produtividade das equipes
Com o País acumulando mais de 250 mil mortos pela Covid-19 e mais de 13 milhões de desempregados, e com a pandemia produzindo efeitos desiguais na população, marcada por uma das distribuições de riqueza mais desproporcionais do planeta, pode ser um paradoxo insensato tentar encontrar lições positivas nos hábitos adquiridos neste um ano de home office — as empresas da indústria de comunicação que operam nesse formato o inauguraram justamente em março do ano passado.
Entretanto, embora muitos sintam-se exaustos com a rotina de restrições de circulação e convívio social, por outro lado, dissemina-se a busca por equilíbrio pessoal e profissional, aprimoram-se as discussões sobre saúde mental, valorizam-se as opções possíveis de entretenimento e acentuam-se as preocupações com fontes de renda, subsistência familiar e planejamento financeiro.
Esses são alguns dos caminhos apontados pela terceira onda do projeto especial Futuro do Trabalho, que lança nesta semana sua edição de 2021 com o foco “Uma Visão Pós-Pandemia”. O conteúdo proprietário de Meio & Mensagem é norteado por pesquisas qualitativa e quantitativa idealizadas por Cintia Gonçalves, fundadora da consultoria Wiz&Watcher, e Diego Selistre, head de pesquisa e estratégia da Chazz, parceiros desde o lançamento, em 2019. Neste ano, o projeto discute os sustos, desafios e aprendizados das limitações impostas pelo combate à crise sanitária e a consequente instalação do trabalho remoto. Também debate novas formas de relação entre empregadores e trabalhadores para o período pós-pandemia e o impacto do cenário atual na formação dos líderes do futuro.
Na parte qualitativa, foram realizados grupos de discussão por videoconferência em dezembro de 2020, com pessoas das classes A, B e C, incluindo trabalhadores, gestores e empreendedores de 20 a 45 anos. Na etapa quantitativa, realizada pela Provokers, 350 pessoas economicamente ativas, de 18 a 60 anos, das classes A, B e C, moradores de São Paulo, responderam online, em fevereiro de 2021. Para 54% dos entrevistados, a Covid-19 piorou a situação financeira das empresas nas quais atuam — apenas 23% sentiram melhora em 2020. Apesar de negativo financeiramente para as companhias, o ano desafiador e ambíguo propiciou ganhos a profissionais que se mantiveram empregados, da administração do caos à alta na produtividade.
A análise do estudo mostra que boa parte da população economicamente ativa teve sua criatividade colocada à prova, valorizaram-se novas competências e houve uma importante aceleração do empreendedorismo. No campo corporativo, aumentou a importância do cuidado com o equilíbrio mental das equipes no contexto de pressões crescentes e, mais do que isso, agudizou-se a constatação de que a manutenção de ambientes saudáveis impacta a reputação das empresas — e o oposto é um caminho para destruí-la. A primeira reportagem do projeto Futuro do Trabalho 2021 está publicada na edição semanal de Meio & Mensagem.
Sintonizado com o conceito “remote first”, que ganha força globalmente e descreve a situação em que os funcionários podem trabalhar à distância ou escolher ir ao escritório quando necessário, o CEO da FCB Brasil, Ricardo John, é o entrevistado da edição semanal. Em sua opinião, o mercado publicitário terá de “lutar muito para não voltar ao normal” e “batalhar duro para não perder o que ganhou durante a pandemia”. John se refere ao ganho de liberdade expresso, entre outros, pelo fim de crenças como a de que é preciso estar fisicamente no escritório para ser produtivo e à quebra de paradigmas como a representada pela instalação de modelos híbridos de trabalho. “Criamos uma situação em que é impossível ter todas as pessoas na agência ao mesmo tempo. A agência não é mais um lugar de despachar, é uma área de convivência, para ver, rever e se inspirar”, frisa. Com movimentos assim, começa a sedimentar-se uma percepção de legado da pandemia. Paralelamente, o avanço da vacinação, apesar de lento, nutre expectativas positivas em relação ao futuro do trabalho e da vida — sem que sejam coisas conflitantes.
*Crédito da foto no topo: Ajwad Creative/iStock
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