Por que dar banho em um porco?
A criatividade é uma das melhores contribuições que podemos oferecer ao mundo
A criatividade é uma das melhores contribuições que podemos oferecer ao mundo
“Criar é como dar banho em um porco. Um processo bagunçado, sem começo, meio e fim definidos. E, quando acaba, você não sabe se o porco está realmente limpo ou até mesmo o porquê de estar dando banho nele.”
Essas são as palavras de Luke Sullivan, retiradas do seu clássico livro “Hey, Whipple, Squeeze This”. A analogia acima traz, de forma divertida, a dificuldade de termos ideias e de nos mantermos fixos ao propósito criativo. Afinal, o que criamos? Por que criamos? Para quem criamos?
Em “On Writing: A Memoir of the Craft”, o mestre do suspense Stephen King apresenta o que eu considero uma das mais precisas definições de escrita, ao compará-la magicamente ao teletransporte. Veja só: um belo dia, alguém, em algum lugar do mundo, escreve “um vaso azul em cima de uma mesinha de madeira”. Anos e anos depois, em um lugar distante, outra pessoa abre o livro e lê essa frase. E o que ela enxerga? Um vaso azul em cima de uma mesinha de madeira. Uma viagem no tempo. Não é fantástico?
De um gênio para outro, recorro agora às palavras do lendário diretor de arte Sir John Hegarty, que mostra a relevância da criatividade ao afirmar que “uma marca é a propriedade mais valiosa do mundo; ela ocupa uma área na mente de alguém”.
Eu tomo a liberdade de sair do universo publicitário para afirmar que a imaginação é o lugar mais precioso que existe. Imaginação essa que é alimentada pela dúvida, questionamento e busca pelo desconhecido. Ou, em outras palavras, pela curiosidade.
Aqui, mergulho na definição desse termo, que abarca a ideia de exploração, investigação e aprendizado. A curiosidade é um espaço entre algo que já sabemos e o que queremos conhecer. Ela age como uma coceirinha, que, invariavelmente, precisa ser esfregada. Uma força interior tão inerente ao ser humano que daí nasce, inclusive, a explicação para o sucesso de programas de assassinos em série e dos filmes de terror. Você assiste pelo simples fato de que, mesmo que aquilo assuste, para o cérebro, mais aterrorizante ainda seria não descobrir o final.
Essa sensação de felicidade gerada pela associação de coisas aparentemente desconexas proporciona o que os americanos chamam de “smile in the mind”, um estalo que ocorre quando assistimos a filmes, lemos romances ou somos impactados por qualquer narrativa que estimule o pensamento e desafie a nossa inteligência.
O mesmo se dá ao vermos um comercial. Esperamos o conceito final para “completar” a história na nossa cabeça. A partir do momento que uma marca nos leva a gerar uma nova conexão entre assuntos supostamente não relacionados, temos um clique e, inconscientemente, entendemos que foi ela que nos ajudou a elaborar esse novo pensamento. A satisfação se transforma, então, em uma associação positiva e, a cada vez que estamos em contato com a marca, somos relembrados desse pequeno momento de prazer.
Mas a criatividade vai além da propaganda, é claro. Se pararmos para pensar, muitas das nossas melhores memórias estão relacionadas a momentos criativos que vivemos. A receita do bolo da vovó que acertamos pela primeira vez, o desenho cheio de detalhes feito para o tio, a música com rimas engraçadas criada com a irmã, a declaração de amor dita em voz alta para a namorada. Episódios aparentemente simples, mas repletos de significados no campo emocional.
É por isso que o processo criativo pode ser mesmo como dar banho em um porco.
Intenso, caótico, desordenado, difícil. Mas ele é essencial. A criatividade é uma das melhores contribuições que nós podemos oferecer a quem está à nossa volta. Ela é a expressão maior da originalidade e, consequentemente, da nossa individualidade. E não há nada mais significativo do que entregar, ao mundo, algo que só você tem.
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