Por que precisamos sempre estar “em um lugar”?
Insistir em pensar em executivos apenas como “diretores” ou “CEOs” é limitar o potencial que eles carregam
“Você está onde?” É quase sempre a primeira pergunta que alguém faz quando encontra um executivo em transição. A expectativa é de ouvir o nome de uma empresa, um título, um crachá. Como se só assim a pessoa estivesse “no jogo”.
Por um período importante da minha trajetória, estive à frente da operação de uma agência criada dentro de um grande grupo global para atender uma conta bilionária do setor financeiro. A experiência me deu visibilidade, respeito e uma rede de relacionamentos potente. Mas, quando esse ciclo se encerrou, percebi como o mercado é refém de rótulos. De repente, parecia que sem um crachá visível eu precisava justificar minha existência profissional.
E aí me pergunto: por que precisamos estar em um único lugar?
Vivemos em um tempo em que carreiras não são mais lineares. A tecnologia acelera mudanças, novos formatos surgem todos os dias, fusões e aquisições remodelam grupos inteiros. Nesse cenário, insistir em pensar em executivos apenas como “diretores disso” ou “CEOs daquilo” é limitar o potencial que eles carregam.
Não estar em uma estrutura fixa não significa ausência de propósito. Pelo contrário. Significa liberdade para explorar, aprender, se reinventar. Significa poder atuar em diferentes segmentos, conectando pontos improváveis e fazendo nascer projetos que talvez não coubessem em uma única caixinha.
Foi isso que percebi quando comecei a me definir como articuladora de negócios. Meu papel não é apenas “vender” ou “atrair contas”, como no modelo clássico de novos negócios. É ler cenários de forma transversal: enxergar que uma curadora de arte pode se conectar a uma marca de bebidas; que um coletivo de fotógrafos pode dialogar com empresas de tecnologia; que uma ideia pode virar realidade se as pessoas certas se encontrarem na mesa certa.
Costumo brincar que o profissional contemporâneo é uma mistura do Batman com a Mulher-Maravilha: não tem um superpoder único, mas um cinturão de pequenas habilidades. E o que faz diferença não é ter apenas uma força avassaladora, e, sim, saber combinar os itens do cinturão na hora certa, talvez seja o super poder nexialista.
No meu caso, percebo que os “superpoderes” que mais importam hoje não são técnicos, mas humanos: saber se comunicar, escutar de verdade, acalmar ansiedades, tirar o outro do vetor do medo e trazê-lo para o vetor da colaboração. Esses são os elementos do meu cinturão, e são eles que me permitem articular negócios de forma mais expandida e significativa.
Essa é a força de estar “em vários lugares”. E não tem a ver com dispersão, mas com amplitude.
Ainda me perguntam: “mas qual é o seu próximo lugar?”. E eu respondo: talvez o próximo lugar não seja um endereço, um cargo ou um organograma. Talvez o próximo seja o projeto que vamos construir juntos.
Porque no fim, o que importa não é onde eu estou. É o que eu entrego.