Publicidade em meio ao caos
A mídia programática virou parte fundamental do mundo digital, mas momentos como o da guerra entre Hamas e Israel nos fazem questionar a sensibilidade dos algoritmos
A mídia programática virou parte fundamental do mundo digital, mas momentos como o da guerra entre Hamas e Israel nos fazem questionar a sensibilidade dos algoritmos
Estamos numa rotina de notícias angustiantes da cobertura do conflito no Oriente Médio, com imagens impactantes e números alarmantes. Uma experiência cotidiana de muitos de nós é se deparar com anúncios publicitários em meio às notícias, que parecem completamente deslocados da realidade que nos rodeia. Fiquei em choque ao ver um anúncio de fraldas em meio a uma notícia sobre mortes de crianças e imagens de outras em sofrimento. Isso levanta sérias questões sobre a publicidade digital guiada por dados e a ética por trás dessa prática.
A publicidade programática tornou-se uma parte fundamental do mundo digital. Ela se baseia em tecnologia sofisticada que determina onde, quando e para quem os anúncios são exibidos. No entanto, a recente situação no Oriente Médio nos faz questionar a sensibilidade desses algoritmos em relação ao contexto das notícias. Afinal, por que anúncios de produtos desconectados da realidade trágica devem aparecer em meio a notícias sobre conflitos? Eu vou além: por que os espaços em meio a essas matérias sequer possuem tags?
Quando discutimos Brand Safety, estamos, na essência, debatendo a tecnologia de curadoria e o bloqueio de palavras-chave para evitar que as marcas sejam associadas a conteúdo indesejado, como fake news ou violência. No entanto, a eficácia dessas ferramentas é frequentemente questionada, e a situação atual revela essas falhas nos sistemas que deveriam proteger a imagem das marcas.
Anunciantes e marcas também devem assumir sua parcela de responsabilidade. A escolha de veicular anúncios em meio a tragédias humanas é uma decisão que deve ser ponderada com sensibilidade. A associação de uma marca com o sofrimento humano é moralmente questionável e pode prejudicar sua reputação a longo prazo. A publicidade não pode existir como uma entidade isolada; ela desempenha um papel ativo na cultura e na percepção da sociedade.
A relação entre espaço publicitário em contextos de guerra e Brand Safety é complexa. A segurança da marca não deve ser sacrificada em busca de lucros imediatos. Marcas que priorizam valores éticos em suas estratégias publicitárias estabelecem relações mais duradouras com os consumidores.
Neste momento, é crucial que a indústria publicitária reflita sobre a relação entre lucro e ética. Devemos garantir que a publicidade programática não apenas cumpra seu propósito de promover produtos e serviços, mas também respeite a dignidade humana e o contexto em que é veiculada. É hora de reconhecer que a publicidade em meio a conflitos e violência não é apenas uma questão de Brand Safety, mas também uma questão moral que merece nossa atenção. A publicidade não deve buscar lucro às custas da compaixão e da empatia.
A publicidade programática precisa evoluir para ser mais sensível ao contexto, garantindo que os algoritmos considerem a sensibilidade das notícias em que os anúncios são exibidos. A ética e a empatia devem estar no cerne da publicidade, pois a marca segura é aquela que respeita a dignidade e os valores humanos, independentemente de onde é veiculada. Associações positivas serão eficazes, como anúncios de fintechs em espaços de economia, ou de fraldas em sites de educação infantil.
É fundamental que os anunciantes busquem soluções éticas para o uso da tecnologia. A programática pode ser uma força positiva quando aplicada com responsabilidade. Marcas devems investir mais na compreensão dos algoritmos e na definição de limites para que a publicidade não cruze fronteiras que não deveriam ser ultrapassadas.
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