Quais são as competências da empreendedora do futuro?
As habilidades não deixam de ser mais um trunfo na manga do universo feminino
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Se você é mulher, imagino que o título questionando quais as competências da empreendedora do futuro possa te incomodar um pouco. O que é compreensível, considerando que vivemos em um cenário em que, segundo relatório da OXFAM e Think Olga de 2020, 61 horas por semana das mulheres brasileiras são gastas em trabalhos não remunerados.
Quando comparado aos homens, apesar delas estudarem mais, ainda têm renda 41,5% menor, segundo dados da ONU de 2019, e ocupam apenas 19% dos cargos de gestão no Brasil, 8% se for mulher negra, como diz o relatório da INSPER de 2018. Diante de um contexto machista e misógino, considerar ter que desenvolver mais competências para sobreviver ao mercado de trabalho do futuro chega a soar desgastante. Entretanto, as habilidades não deixam de ser mais um trunfo na manga do universo feminino.
Para começar, é evidente que a Covid-19 acelerou os principais processos até então considerados do futuro. A escala do trabalho remoto, a aceleração da digitalização e da automação são alguns desses exemplos. Porém, a crise mostrou também que a pandemia tem cor e gênero. De acordo com a Organização Mundial do Trabalho, 8,5 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho no terceiro trimestre de 2020 por razões diversas, porém, podemos destacar a principal delas: a dedicação da mulher no que é chamado de trabalho invisível.
Se o cuidado com os afazeres domésticos, filhos, idosos já era uma responsabilidade assumida pelas mulheres na maioria das vezes, durante a pandemia esse “emprego” se ampliou. Mais de 40% do público feminino não consegue funções remuneradas porque são responsáveis por todo o trabalho de cuidado, enquanto entre os homens, esse percentual é de apenas 6%, como mostra o levantamento ‘Tempo de cuidar’, da OXFAM, em 2020. Diante deste cenário, muitas resolvem empreender como uma solução para conciliar uma ocupação laboral paga, com as responsabilidades já assumidas.
Não surpreende que as habilidades mais valorizadas no mercado de trabalho atualmente são tidas como femininas: empatia, espírito colaborativo, flexibilidade, versatilidade e escuta ativa, e também estruturam as habilidades da empreendedora do futuro. Ao passo que o modelo de gestão predominantemente masculino direcionou nossa sociedade para o crescimento econômico, o mesmo falhou nos atributos de cuidado e empatia. Em um contexto em que o cuidado deve ser prioridade, seja com a saúde, com as pessoas, com a cidade, com a economia, dentre outros, exercer essa sensibilidade torna-se necessário independente do gênero. Mas, voltemos algumas casas. De cuidado as mulheres já entendem, não é mesmo?
Além disso, o Fórum Econômico Mundial, em outubro de 2020, levantou as 10 habilidades que os profissionais do futuro precisam desenvolver até 2025, e uma delas é a aprendizagem intencional. Trata-se da prática de considerar cada experiência como uma oportunidade para aprender algo. Isso torna a educação um processo ativo e instintivo diante das situações cotidianas. Ao transformar o ato de aprender, passamos a nos questionar: “éramos bons nisso ontem, mas é isso que precisamos fazer agora?”. Diante disso, vem a compreensão de que o aprendizado não é apenas o desenvolvimento de habilidades que te levam a determinado fim, mas sim, a compreensão de quais competências, sejam estas técnicas ou emocionais, são necessárias para cada um trilhar o seu próprio caminho.
O resultado disso é não esperar que as coisas aconteçam, para então puxar a responsabilidade para si. Esse senso de auto responsabilidade, novamente voltando algumas casas, é uma qualidade construída socialmente às mulheres. Ou seja, as competências da empreendedora do futuro tratam-se, nada menos, do que as habilidades já preexistentes no universo feminino, que quando trazidas para o campo do trabalho ganham o tal protagonismo inexistente diante de todas as estatísticas que acercam o tema.
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