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Opinião

Três impedimentos à próxima geração de líderes femininas

Melhorias na formação de empreendedoras e no investimento a startups com executivas mulheres são caminhos para aumentar a diversidade no setor


20 de setembro de 2019 - 12h27

Crédito: PeopleImages/iStock

*Escrito em parceria com Tomoko Yokoi, Elizabeth A. Teracino e Jialu Shan

Da forma que é hoje, a realidade para líderes digitais femininas e empreendedoras da área de tecnologia é cruel. Apesar da demanda saudável por talentos digitais, a falta de diversidade no setor ainda continua a ser perversa. Um estudo recente do DCG destaca que mulheres são apenas 25% da força de trabalho STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, na sigla em inglês), sendo apenas 9% dos cargos de liderança. E em um estudo recente, empreendedores afirmam que ainda são necessários mais de 10 anos para que a indústria tecnológica atinja equidade de gênero.

Para muitos, liderança digital é sinônimo de expertise tecnológica. Entretanto, uma pesquisa do IMD revela que há uma gama de características muito mais ampla e rica, incluindo humildade, adaptabilidade, visão e engajamento constante. Como podemos ajudar jovens mulheres a desenvolver as hard e soft skills empreendedoras necessárias para que elas se tornem futuras líderes digitais?

A resposta, acreditamos, está em ultrapassar três barreiras.

A primeira barreira é a falta de interesse em assuntos relacionados ao Stem. Pesquisas sugerem que garotas são mais interessadas em carreiras no setor durante o fundamental, mas o número cai agudamente entre o segundo fundamental e o ensino médio. Um estudo de 2015 realizado pela OCDE examinou como a falta de autoconfiança em suas próprias habilidades em ciência e matemática podem explicar o porquê de o gênero ser tão pouco representado em estudos no ensino médio. Outras pesquisas apontam para o fato de apesar de garotas terem notas tão boas quanto garotos em matérias Stem, eles normalmente se saem ainda melhor em leitura. Então, quando precisam afirmar quais os seus fortes, elas citam literatura. O que esses resultados apontam é que no começo do ensino médio é o período onde seria importante intervir para manter garotas interessadas em Stem.

Uma forma de fazer isso é introduzir mentorias desde os primeiros anos da adolescência. É necessário, também, que seja mantido o trabalho em aspectos como garantir condições de trabalho adequadas no segmento para mulheres que planejam ter uma família no futuro. Países nórdicos podem prover modelos para nós.

A segunda barreira são habilidades de negócios e empreendedorismo subdesenvolvidas. Tornar-se uma líder digital não é apenas sobre ter conhecimentos em códigos e marketing, mas também sobre usar essas ferramentas para criar e capturar oportunidades de negócio.

Como ultrapassar essas barreiras? Inspiração pode vir de lugares surpreendentes.

Desde 2013, as Escoteiras dos EUA (GSUSA, na sigla em inglês) têm feito da tecnologia uma parte central sobre como as garotas, voluntarias, e seus pais engajem com o movimento. Contratou um chief technology officer para melhorar sua infraestrutura tecnológica e desenvolver ferramentas online para ajudar voluntárias adultas com sua equipe de escoteiras por meio de planejamento estratégico e na recepção de membros.

Uma iniciativa importante foi a introdução da plataforma Digital Cookie, que presta suporte às garotas em sua icônica venda de biscoitos. A plataforma permita a elas divulgar seus produtos ao convidar consumidores a visitar um site personalizado, ou ao receber pedidos pelo celular. Ela também inclui elementos educacionais, como jogos interativos, vídeos e outras atividades que permitem às garotas aprender técnicas de orçamento e planejamento de negócio.

A organização está usando tecnologia de forma pensada para melhorar a experiência, enquanto preservando o elemento central dos relacionamentos interpessoais. Essa forma de empreendedorismo juvenil não apenas melhora a maior campanha de captação de recursos da instituição, mas também é um pilar de seu programa de empreendedorismo.

O terceiro desafio é como conseguir capital para mulheres que empreendem em empresas de tecnologia. Se o objetivo é ver mais startups lideradas por mulheres, pode não ser tão simples encorajar mulheres a assumir a liderança digital. Em 2018, pelo segundo ano seguinte, apenas 2,2% dos investimentos anjo foram direcionados a startups lideradas por mulheres. Além disso, evidências sugerem que startups lideradas por mulheres financiadas por venture capital masculino reduzem suas chances de sucesso dramaticamente, tanto por aquisição quanto por IPO.

O desafio não é de fácil resolução. Como Melinda Gates afirmou “gostamos de pensar que venture capital é pautado pelo poder de boas ideias. Mas pelos números, são homens que seguram a chave”.

Organizações como as escoteiras dos EUA, com sua vasta rede de alunas e ex-alunas, podem ajudar, mas elas precisarão de ajuda externa, também. Mais notavelmente da comunidade de VC. Se essa comunidade pode mobilizar sua rede há uma chance de que mulheres que empreendem em tecnologia possam ser encorajadas a manter sua trajetória.

Felizmente, novas pesquisas apontam que pode haver uma luz no fim do túnel – pelo menos para os investimentos iniciais. Pesquisadores da Universidade de British Columbia e da Stanford enviaram mais de 80 mil pitch e-mails sobre “startups promissoras, mas fictícias” para mais de 28 mil VC e investidores anjo, e descobriram que os pitches de empreendedores com nomes obviamente femininos receberam uma taxa de interesse 8% maior do que às com nomes masculinos.

“O mundo está sendo reescrito por algoritmos e códigos, e precisamos ter garotas e mulheres tendo essas habilidades para criar o futuro”, reconhece a CEO das escoteiras, Sylvia Acevedo. Prover às garotas com habilidades tecnológicas é uma necessidade moral, social e econômica.

Crédito da imagem no topo: iStock

*Traduzido por Salvador Strano

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