Opinião
O Impasse da Indústria de Videogames Evidenciado na GDC 2024
No meu ponto de vista, a economia -todo mundo precisa de um celular – e a praticidade de se jogar na espera do médico, no ponto de ônibus, no intervalo das aulas também contaram
O Impasse da Indústria de Videogames Evidenciado na GDC 2024
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2 de abril de 2024 - 6h00
Se você não joga videogames há alguns anos, dá uma passadinha no quarto dos seus filhos, sobrinhos ou irmão mais novo e presta atenção na imagem da tela do monitor ligado no videogame ou PC enquanto eles jogam. Eu garanto que vai se surpreender.
Nos últimos anos, os jogos triple A de consoles e PC como Gears, God of War e Assassin´s Creed têm personagens que mais parecem astros de cinema, gente de verdade. Tudo isso graças à tecnologia de ponta utilizada no desenvolvimento dessas verdadeiras obras de arte. Me lembrei que há 25 anos nós divulgávamos games usando a frase “o mais realista”. Quem se lembrar da Lara Croft toda pixelada vai rir.
Todo mundo que um dia jogou videogame nota a diferença nos gráficos, o que não fica evidente para todos é que esse aprimoramento se tornou uma faca de dois gumes para a indústria de videogames.
Do lado do consumidor, esses produtos state-of-the-art entregam uma experiência muito realista e envolvente, mas para que isso seja possível, o desenvolvedor tem de fazer um investimento dez vezes maior não só em tecnologia, mas no número de profissionais de desenvolvimento. Se necessita de mão de obra especializada por que a indústria tem demitido tanto?
Para fechar essa conta em vez de centenas, as publishers têm de vender milhares de jogos. Se por um lado a concorrência aumentou por causa do boom da pandemia, que fez com que Amazon, Mattel e muitas empresas de outros setores passassem a desenvolver games, o crescimento do número de jogadores não acompanha a oferta. A Newzoo, a maior empresa de pesquisa do setor, registrou um CAGR (Compound Annual Growth Rate) de 5,6% no número de gamers entre 2015 e 2023.
Esses resultados estão fazendo com que as first party (empresas que produzem os consoles) usem sua criatividade para trazer os gamers dos concorrentes para a sua plataforma. Além disso, Nintendo, Xbox e PlayStation estão concorrendo com o segmento móvel, que deve fechar 2023 com 49%, a maior fatia da receita total, estimada em US$ 187,7 bilhões. A Newzoo ainda não fechou os dados de 2023 por isso trabalho com as previsões feitas por ela.
A pandemia causou uma enorme escassez de peças para o hardware e interrompeu os padrões normais esse pode ser um dos motivos da migração mobile. No meu ponto de vista, a economia -todo mundo precisa de um celular – e a praticidade de se jogar na espera do médico, no ponto de ônibus, no intervalo das aulas também contaram.
Segundo a previsão divulgada no fim do ano pela NewZoo, os gamers mobile serão 2,86 bilhões de um total de 3,38 bilhões de jogadores. O restante seria 892 milhões de jogadores de PC -queda de 16% sobre 2022- e 629 milhões de consoles, que estão encerrando um clico de crescimento de cinco anos consecutivos.
Diante desse panorama, a GDC -Game Developers Conference-, que aconteceu na penúltima semana de março, nos Estados Unidos, teve como principal pauta as demissões que o mercado tem feito mundialmente e para onde vamos.
Recentemente, os empregados da Sega of America, um ícone da indústria de games desde que criou os fliperamas em 1960, tornaram-se os primeiros funcionários de uma grande empresa norte-americana de videogames a ratificar um contrato sindical, uma medida que pode acelerar um crescente movimento trabalhista em uma indústria conhecida por instabilidade entre sua força de trabalho.
O contrato garante benfeitorias a cerca de 150 pessoas de marketing e outros departamentos nos escritórios da divisão no sul da Califórnia. Os trabalhadores receberão aumentos salariais mínimos anuais até 2026 entre outros benefícios.
Dias depois desse acordo, a Sega Europa anunciou que está vendendo a Relic Entertainment, desenvolvedora de Company of Heroes 3 e Age of Empires 4, enquanto corta aproximadamente 240 empregos em vários outros estúdios pela Europa.
Sobre as demissões eu posso dizer a vocês que a maioria dos profissionais com quem convivi nos tempos dos jogos físicos “de caixinha” estão saindo aos poucos do mercado americano e brasileiro. Entre eles algumas lendas dos videogames. Sobre para onde vamos vou ficar devendo.
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