A cultura é imprevisível
O ritmo da evolução cultural ultrapassa as capacidades da inteligência artificial
O ritmo da evolução cultural ultrapassa as capacidades da inteligência artificial
14 de março de 2024 - 12h09
Um ovo quebrado e dentro dele: um outro ovo. Novinho em folha.
É com essa metáfora visual que o publicitário turco Toygun Yilmazer, chefe de estratégia do TBWA Group Istanbul, buscou trazer alento para a sua plateia no SxSW 2024.
Sim, a IA consegue analisar uma quantidade enorme de dados, gerar textos e imagens numa velocidade super-humana e vai revolucionar as nossas vidas de maneiras imprevistas. Mas, segundo o especialista, nós, seres humanos, ainda conseguimos – e conseguiremos – superar as máquinas.
Onde? No que diz respeito à produção de cultura.
“Cultura é imprevisível”, afirma Yilmazer. “A cultura está viva e em constante evolução. Se o passado é diferente do futuro, coletar e analisar dados sobre o passado não funciona. Mesmo com algoritmos para tudo, o ritmo da evolução cultural ultrapassa as capacidades da inteligência artificial.”
E ele exemplifica: uma máquina já venceu o homem no jogo de xadrez. Contudo, apps de namoros, por mais desenvolvidos e apurados, não conseguem prever o desenlace amoroso de um casal, cujo match foi decidido a partir de um sem número de cálculos algorítmicos.
Toygun Yilmazer vai adiante: a cultura é baseada nas crenças humanas e seus comportamentos. IA funciona melhor em situações bem definidas e estáveis. Os modos, emoções e preferências humanas são altamente complexos e instáveis para a inteligência artificial.
Para ele, a gente se conecta com tendências culturais em um nível emocional. E isso vai além do significado literal das palavras e dos símbolos. Diferentemente da IA, que é excelente na linguagem literal, mas tem dificuldade com os sentidos e com as emoções humanas.
Mesmo reticente, concordo em gênero, número e grau. O cerne da cultura é a humanidade! E eu já falei aqui: a humanidade é a verdadeira tecnologia e a (r)evolução em si.
Podemos e devemos usar essa tecnologia artificial a nosso favor!
Muito bom saber – no mesmo SxSW, mas em outro painel – que com a IA conseguimos recuperar e documentar a experiência afro-americana através de projetos como o The History Makers. A iniciativa há 23 anos busca preservar o maior arquivo de história oral negra dos EUA. Um trabalho que sucede o projeto Narrativa dos Escravizados, do pós-Grande Depressão dos 1930.
Afinal, só podemos construir um futuro melhor, quando entendemos o passado, em um diálogo e ação constantes com o presente.
Isso é ser afrofuturista. Isso é ser realmente humano.
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