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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A cultura é imprevisível

O ritmo da evolução cultural ultrapassa as capacidades da inteligência artificial


14 de março de 2024 - 12h09

Um ovo quebrado e dentro dele: um outro ovo. Novinho em folha.

É com essa metáfora visual que o publicitário turco Toygun Yilmazer, chefe de estratégia do TBWA Group Istanbul, buscou trazer alento para a sua plateia no SxSW 2024.

Sim, a IA consegue analisar uma quantidade enorme de dados, gerar textos e imagens numa velocidade super-humana e vai revolucionar as nossas vidas de maneiras imprevistas. Mas, segundo o especialista, nós, seres humanos, ainda conseguimos – e conseguiremos – superar as máquinas.

Onde? No que diz respeito à produção de cultura.

“Cultura é imprevisível”, afirma Yilmazer. “A cultura está viva e em constante evolução. Se o passado é diferente do futuro, coletar e analisar dados sobre o passado não funciona. Mesmo com algoritmos para tudo, o ritmo da evolução cultural ultrapassa as capacidades da inteligência artificial.”

E ele exemplifica: uma máquina já venceu o homem no jogo de xadrez. Contudo, apps de namoros, por mais desenvolvidos e apurados, não conseguem prever o desenlace amoroso de um casal, cujo match foi decidido a partir de um sem número de cálculos algorítmicos.

Toygun Yilmazer vai adiante: a cultura é baseada nas crenças humanas e seus comportamentos. IA funciona melhor em situações bem definidas e estáveis. Os modos, emoções e preferências humanas são altamente complexos e instáveis para a inteligência artificial.

Para ele, a gente se conecta com tendências culturais em um nível emocional. E isso vai além do significado literal das palavras e dos símbolos. Diferentemente da IA, que é excelente na linguagem literal, mas tem dificuldade com os sentidos e com as emoções humanas.

Mesmo reticente, concordo em gênero, número e grau. O cerne da cultura é a humanidade! E eu já falei aqui: a humanidade é a verdadeira tecnologia e a (r)evolução em si.

Podemos e devemos usar essa tecnologia artificial a nosso favor!

Muito bom saber – no mesmo SxSW, mas em outro painel – que com a IA conseguimos recuperar e documentar a experiência afro-americana através de projetos como o The History Makers. A iniciativa há 23 anos busca preservar o maior arquivo de história oral negra dos EUA. Um trabalho que sucede o projeto Narrativa dos Escravizados, do pós-Grande Depressão dos 1930.

Afinal, só podemos construir um futuro melhor, quando entendemos o passado, em um diálogo e ação constantes com o presente.

Isso é ser afrofuturista. Isso é ser realmente humano.

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