O que a era da incerteza diz sobre a liderança
Maggie Jackson, autora do livro Uncertain: The Wisdom and Wonder of Being Unsure, defende o papel da incerteza como força produtiva
Maggie Jackson, autora do livro Uncertain: The Wisdom and Wonder of Being Unsure, defende o papel da incerteza como força produtiva
Taís Farias
8 de março de 2025 - 6h00
Qual é a primeira palavra que vem à sua cabeça ao pensar em incerteza? Segundo Maggie Jackson, autora do livro Uncertain: The Wisdom and Wonder of Being Unsure, para a maioria das pessoas, a resposta é algo negativo. Não à toa. O ser humano evoluiu buscando respostas que garantissem a sua sobrevivência.
Maggie Jackson no SXSW 2025 (Crédito: Taís Farias)
A autora questionou, no entanto, se a sociedade contemporânea estaria levando a antipatia inata com a incerteza longe demais. Nesse contexto, a incerteza teria se convertido em um sinônimo de fraqueza e inércia com líderes evitando, ao máximo, reconhecerem que não sabem algo durante uma crise.
“Nossa intolerância, o medo e a própria incerteza estão crescendo nessa sociedade centrada na certeza. A alergia que estamos cultivando pela incerteza remonta centenas de anos. Ela surgiu do impulso em direção à eficiência a todo custo em nossa cultura e economia. Isso anda de mãos dadas com a mentalidade da velocidade constante”, descreveu a autora.
A digitalização e a popularização dos smartphones seriam alguns dos pivôs dessa resistência à incerteza. Isso porque eles são capazes de oferecer a resposta para qualquer pergunta na palma da mão. Mas essa mesma tecnologia promove um choque ao tornar as mudanças, cada vez mais, rápidas afastando as certezas.
“Diria que essa redefinição é urgente porque vivemos, como sabemos, em uma era de volatilidade e precariedade com crescentes incógnitas na geopolítica encarnadas em mercados cibernéticos e de ações. Precisamos saber como usar habilmente a incerteza”, apontou Jackson.
Nesse sentido, a autora apresentou a incerteza como uma força produtiva porque faz com que o ser humano reconheça os limites do seu conhecimento e o provoque a ir além. Recentemente, a ciência teria começado a explorar o que acontece com o cérebro humano ao se deparar com a incerteza. Entre os efeitos, estaria uma maior receptividade a novas informações, uma melhora na formação de memória e, por fim, o foco ficaria mais aguçado. “É uma resposta diferente da resposta do medo”.
O ambiente de trabalho não fica imune a essa mentalidade, especialmente, em cargos de liderança. A especialista explicou que é comum que as lideranças desenvolvam um modelo mental que transforma conhecimento em um “saber como fazer”, para garantir confiança. Porém, isso só funcionaria em situações altamente previsíveis.
“Basicamente, com o tempo e às vezes nem tanto, os especialistas começam a cair no que é chamado de modo carryover. Eles começam a aplicar as soluções dos mesmos problemas antigos para novos problemas complexos e começam a falhar”, explicou.
Um dos contrapontos a esse comportamento seria a expertise adaptativa, ou seja, a capacidade de se adaptar a novas demandas e operar bem na incerteza analisando diferentes cenários e ouvindo os problemas. Na gestão dos times, o medo da incerteza e a insegurança pode criar espaços em que há medo de discordar. O que, segundo a Jackson, leva a um declínio da performance.
“Equipes que estão em acordo se tornam menos criativas, menos precisas, e param de desafiar umas às outras. Elas se veem como mais parecidas do que realmente são. Aqui está o ponto decisivo. Elas realmente julgam que estão indo muito bem, mesmo quando seu desempenho diminui”, apontou a autora.
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