DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

As vantagens de ser estranho

O que a esquisitice sabe sobre eficácia?


6 de março de 2024 - 18h47

“Keep Austin weird.” É com esse pedido que a sede do SXSW costuma se apresentar a quem pisa nela. A frase, dita pela primeira vez em um programa de rádio nos anos 2000 por um morador local que pretendia propor um compromisso diante dos rumos que a cidade tomava, foi aos poucos se tornando uma espécie de slogan, reproduzido em adesivos, camisetas e cartazes.

É uma frase marcante que sempre me despertou simpatia. Ela permanece comigo de alguma forma desde 2016, quando estive lá pela primeira vez. Este ano, voltando tanto tempo depois, me intriga que por algum motivo ela me retorne à mente sempre que tento imaginar o que espero do evento este ano.

Para além da minha identificação pessoal com a ideia da esquisitice como um patrimônio a ser preservado, suspeito haver uma baita atualidade nessa frase de pára-choque de motorhome. Explico:

Um impactante artigo que li no ano passado – “The Age of Average” – mostrava um comparativo com exemplos simples, visuais e contundentes de como diferentes indústrias criativas, entre elas a da moda, a do cinema, a da arquitetura e a da propaganda, passaram por um processo de homogeneização estética. Sabe aquela sensação de que um Airbnb superdescolado parece ter sido feito pelo mesmo decorador de todos os Airbnb’s descolados do mundo? É disso que ele está falando. Sabe quando parece que só tem carro branco, preto e prata, e todos são muito mais parecidos entre si do que os carros de quando você era criança? É disso também. E por aí vai, em mais coisas do que imaginamos.

A constatação é que o mundo está se tornando uma monótona repetição de clichês: embora exista um número muito maior de opções (de tudo) do que já houve no passado, elas são cada vez mais parecidas entre si. E como resultado, diante de tanta previsibilidade, vemos audiências absolutamente anestesiadas pela mesmice.

É aqui que a estranheza deixa de ser um atributo excêntrico e divertido de uma cidade no Texas e me parece um antídoto necessário para os desafios que estamos vivendo como indústria criativa.

Quem estranha percebe. Quem estranha pensa.

Que a próxima semana seja uma oportunidade de colocar a cabeça para fora do mar de previsibilidade e traga referências muito, mas muito estranhas mesmo. (Tipo dedos de salsicha.)

Seu pedido é uma ordem, Austin.

Publicidade

Compartilhe