SXSW reforça o poder das escolhas e de conexões humanas mais profundas
Primeiro dia do evento contou com palestras de Kasley Killam, Frank McCourt e Kevin O’Leary e outros que reforçaram a importância das relações humanas
Primeiro dia do evento contou com palestras de Kasley Killam, Frank McCourt e Kevin O’Leary e outros que reforçaram a importância das relações humanas
8 de março de 2025 - 14h33
Dava pra sentir uma certa dose de apreensão no rosto das pessoas que chegavam ao Ballroom D para a abertura oficial do SXSW em sua edição 2025. Talvez seja pelo momento em que vivemos, onde seguimos assimilando os reflexos de uma pandemia global e da polarização crescente em diversos aspectos de nossas vidas. Talvez seja natural esse tipo de sentimento em um evento em que você nunca sabe se vai acertar a sessão certa em uma difícil escolha que tem que fazer entre 5 ou 6 opções que acontecem no mesmo horário em 5 ou 6 prédios diferentes. É o que sempre digo: existem 220 mil southbys pois cada um dos participantes consome um evento totalmente diferente. Por isso, todo mundo acaba ficando meio ansioso e se perguntando o tempo todo se não deveria estar em outra fila, em outra sala, escutando outro palestrante. Não tem jeito: o Southby é uma aula sobre escolhas — e de saber lidar com elas.
Logo na abertura, a especialista em saúde, Kasley Killam, provocou cada um dos presentes a fazer uma escolha na vida: cuidar com mais intenção e de forma recorrente da sua saúde social. Isso significa escolher a todo momento se conectar de forma mais profunda com pessoas, especialmente aquelas que não conhecemos. Kasley é especialista em saúde e autora do livro “The Art and Science of Connection”. E vem estudando há mais de 10 anos os resultados da conexão humana em nossa imunidade. Ela afirma com dados científicos que se cuidamos com mais atenção da nossa “saúde social” teremos uma vida mais longeva, saudável e feliz. E as empresas terão resultados mais expressivos.
Kasley citou uma das pesquisas que monitorou o quanto os candidatos costumavam abraçar outras pessoas em suas vidas ao longo das duas semanas do estudo. No final do estudo veio a pandemia. Então os pesquisadores constataram que o grupo que se abraçava mais — que escolhia se abraçar mais, lembre-se — e que tinha mais suporte social, apresentou uma imunidade maior ao Covid ou quando pegava o vírus apresentavam sintomas mais leves. A pesquisadora afirmou ainda que cuidar da saúde social reduz depressão, melhora funções cognitivas, reduz risco de doenças do coração e aumenta expectativa de vida. Mas o problema é que vivemos em meio a uma epidemia de solidão em que a conexão social é um dos maiores desafios do nosso tempo. Kasley trouxe alguns dados que reforçam essa direção: 1 em cada 4 pessoas se sente “muito sozinho”, enquanto 1 em cada 2 se sente “um pouco sozinho”; 20% das pessoas não tem ninguém com quem contar para ajudá-la, pessoas essas que passam 2 ou mais semanas sem conversar com um amigo ou familiar.
Saí da primeira palestra realmente inspirado a escolher exercitar mais meus músculos sociais como Kasley recomenda com dicas. Como se programar para tomar um café ou almoçar toda semana com uma pessoa diferente que você não conhece bem. Foi então que lembrei, a caminho do outro prédio, que na próxima palestra que eu havia selecionado teria a participação de uma líder da indústria financeira — segmento em que eu atuo hoje — e na hora pensei: vou intencionalmente conversar com ela ao final do painel para pegar o contato e, com sorte, marcar uma sessão de benchmarking entre os times e marcas.
O painel foi sobre growth orgânico com especialistas no tema. Eu só descobri lá, mas a líder em conteúdo e social do Chime Bank, fintech que está entre as três maiores dos EUA hoje, é uma brasileira que não apenas atua há 6 anos por lá como estruturou toda a área da empresa. Gisele Góes nos lembrou que uma marca não é o que você acha que ela é e sim o que a internet diz que ela é. E, provavelmente sem saber, ela também reforçou o discurso que a Kasley Killam trouxe ao Southby quando comentou sobre a conexão humana precisar ser cada vez mais profunda entre a marca e as necessidades das pessoas por se entreter e se informar. Esse é o caminho para gerar mais engajamento orgânico e resultados mais expressivos, sem necessariamente o uso de verba de mídia para impulsionar.
O que me lembrou aqui agora do que ouvi em outra palestra, também desse primeiro dia do SX: “As marcas dizem que as pessoas não tem tempo para ver seus anúncios maravilhosos mas nunca na história da humanidade dedicamos tanto tempo para consumir conteúdos. Então não é que as pessoas não tem tempo, elas não tem interesse mesmo. Elas estão escolhendo não te dar atenção ou não se conectar com sua marca”. Isso foi dito pelos dois irmãos, Andrew e James Mackinnon, donos da Taboo Brands.
E lembro também do painel em que Frank McCourt e Kevin O’Leary, o mal-humorado do Shark Tank, que fizeram a oferta de compra do TikTok nos EUA, afirmaram que a principal motivação para esse movimento é o quanto a plataforma conecta pequenos empreendedores aos seus consumidores. Eles querem que a rede social dê mais voz às pessoas e às suas escolhas.
O que me leva à participação da Meredith Whittaker, especialista em privacidade e dados, em outra sessão também nesse primeiro dia. A presidente da Signal trouxe o outro lado das nossas escolhas, quando decidimos compartilhar tantos dados e hábitos em tantas plataformas. Meredith destacou os riscos da coleta massiva de dados e violações de privacidade, e afirmou: “só existe um jeito dos dados não vazarem, não coletando eles”.
É muito legal quando isso acontece. Quando ao final de um dia louco de Southby você começa a conectar fragmentos que você foi coletando ao longo do dia. E você também vai adicionando comentários e visões de outras pessoas com as quais você vai conversando em filas, cafés ou se apertando nas cadeiras dos auditórios. Um dia em que você esteve em 5 ou 6 sessões, correndo de um prédio ao outro, ficando em filas, fazendo escolhas e muitas vezes perdendo algum painel por estar lotado. Como o que aconteceu comigo, que perdi duas sessões hoje por esse motivo. Mas, como vimos, temos que aprender a lidar com as nossas escolhas. Na vida e no Southby.
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