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Como o assédio limita a presença feminina nos jogos online

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Como o assédio limita a presença feminina nos jogos online

Pesquisa revela que as mulheres são maioria entre quem joga em smartphones, mas minoria em games de consoles e computadores. Conheça as dificuldades de gamers influentes em um universo ainda dominado pelo machismo e preconceito


27 de abril de 2022 - 12h52

Dados divulgados recentemente pela Pesquisa Game Brasil (PGB) mostram a força das mulheres no mercado brasileiro de jogos eletrônicos: elas representam 51% do total de gamers brasileiros. Grande parte dessa presença se dá nos smartphones: elas correspondem a 60,4% do público que joga por meio de celulares. Por outro lado, a participação feminina é consideravelmente menor quando analisamos plataformas como consoles (36,1%) e computadores (41,1%), em que a disputa de partidas online e a interação com outros usuários é mais frequente. O que ajuda a explicar essa diferença? 

Uma das respostas pode ser o alto número de casos de assédio e xingamentos que mulheres sofrem em jogos disputados simultaneamente com outros usuários. Segundo um estudo de 2021, publicado pela Reach3 Insights em parceria com a Lenovo, 59% das jogadoras costumam esconder seu gênero durante as partidas para evitar assédio. Para se proteger, muitas ainda evitam jogar online, desligam o chat ou participam de partidas apenas com amigos.  

Paty Landim, streamer e influenciadora de jogos e gerente de projetos do famoso servidor Cidade Alta, do jogo GTA RP, costuma enfrentar esse tipo de situação. Além de já ter evitado abrir canais de comunicação com outros jogadores para que não a identificassem como mulher, ela passou a evitar fazer “roleplay” de casais em partidas online para não sofrer assédio na vida real. Ela chegou a ter de encerrar um relacionamento com outro personagem porque o jogador queria estender o romance para fora do jogo.

 

Paty Landim é streamer de jogos e gerente de projetos do servidor Cidade Alta, do jogo GTA RP (Crédito: Divulgação)

Segundo ela, o assédio vem geralmente disfarçado de piada. Questionamentos e provocações como “Nossa, você está jogando, mas já fez o almoço, né?” ou “Cuidado para não queimar o arroz!” são alguns exemplos. “Eles falam isso como se meu lugar fosse na cozinha”, lamenta Paty. Quando ela vai bem em uma partida online, diz, costuma ouvir coisas como “nossa, você joga muito, nem parece uma mina jogando”. Isso sem contar xingamentos machistas de todos os tipos.  

Julia Arrais, Designer de Projetos Sênior na Cheil Brasil com atuação no mercado gamer há mais de 13 anos, diz que jamais usa nos jogos nomes de mulher. “Porém, naqueles em que preciso usar a voz para me comunicar, isso acaba não adiantando muito.” 

Ela conta que, em jogos em grupo, a culpa sobre uma eventual derrota costuma recair sobre as meninas. “Às vezes, isso acontece antes mesmo de a partida começar. Já presenciei casos de jogadores abandonando a partida por se recusarem a jogar com mulheres”, diz. “Como ninguém sabe quem é quem e as punições geralmente não acontecem, isso acaba tornando o ambiente de jogos online bem propício para casos de assédio.” 

 

Julia Arrais é gamer e Designer de Projetos Sênior na Cheil Brasil (Crédito: Divulgação)

Bruna Pastorini, Diretora de Planejamento e Conteúdo da DRUID, agência de comunicação especializada em games, afirma que, infelizmente, a prática de omitir o gênero é comum entre as gamers. Ela lembra que há jogos reconhecidos por serem mais tóxicos que outros devido à grande presença masculina e aos chamados hardcore players. É o caso de jogos MOBA (Multiplayer Online Battle Arena), como League of Legends (LOL).  

“Uma vez, estava jogando um game MOBA e entrei com meu próprio nome. Caí no time de três jogadores homens que pareciam já se conhecerem e jogarem sempre juntos. No primeiro erro que cometi, um jogador do meu time me xingou e falou que eles tinham dado azar de terem caído comigo”, lembra Bruna. “Mas o jogo continuou e eu consegui dar a volta por cima e fazer ‘kills’ importantes. Eles ficaram sem graça depois.”  

 

Bruna Pastorini é gamer e Diretora de Planejamento e Conteúdo da DRUID (Crédito: Divulgação)

Apesar desse ambiente muitas vezes inóspito, as mulheres têm aberto mais espaço no mundo dos games online, inspiradas por aquelas que não aceitam que os controles estejam apenas nas mãos dos homens. “O que melhorou é que hoje você encontra mais mulheres nos jogos e fazendo lives”, ressalta Paty. “Às vezes, vem uma mulher no privado ou na minha live dizer que eu sou uma inspiração para ela, que ela começou a fazer lives ou a jogar porque me viu fazendo isso.”  

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